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Sonetos de Luís de Camões

escolhidos por Eugénio de Andrade

de Luís de Camões

Livro eBook
editor: Assírio & Alvim, março de 2020
«Volto às palavras iniciais: este é o mais fascinante livro da nossa poesia, a suprema festa da língua. E não apenas isso: estão aqui alguns dos raros versos — como dizer? — que participam da respiração do mundo e da pulsação das estrelas. Temos de pensar em nomes máximos, Virgílio, Dante, Shakespeare, S. João da Cruz, para encontrar igual esplendor. Igual, não maior. E não são exageros nacionalistas, que nunca tive, nem creio que venha a ter.» [Eugénio de Andrade]
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Tudo o que nunca quis saber sobre poesia

tudo o que nunca quis saber sobre poesia Se é daqueles que torce à partida o nariz à poesia, este artigo é para si. Não gosta de poemas? Nós entendemos. A verdade é que alguma da poesia dos séculos XX e XXI se tornou tão fechada em si mesma que acabou por afastar leitores. Mas não desista, pelo menos, não tão facilmente. Afinal de contas, a poesia é uma das formas de arte mais antigas do mundo ocidental: nos primórdios da literatura, tanto epopeias, como tragédias e comédias, eram escritas em verso. Além disso, existe uma razão muito forte e, no mínimo, curiosa, para que a poesia dos últimos cinquenta anos se tenha tornado tão opaca, como veremos.   A CULPA É DE CAMÕES De música, gosta? Apostamos que sim e que até é capaz de trautear a letra de algumas das suas canções preferidas de cor. Ora, talvez nunca tenha pensado nisso, mas o verso e, sobretudo, a rima, trazem música e ritmo à linguagem, e foi justamente assim que a poesia começou: no início, os poemas eram acompanhados por instrumentos musicais. O que na verdade não é muito diferente do que acontece com grande parte das canções pop que ouvimos atualmente: a letra é em verso, muitas vezes rima, e se nem todas as composições têm qualidade suficiente para serem consideradas poemas, não foi por acaso que Bob Dylan, que dedicou a vida inteira a escrever canções, ganhou o Prémio Nobel da Literatura há vários anos.

Mas vamos por partes. Provavelmente ainda se lembra de alguns poemas que estudou na escola: Camões, por exemplo. Talvez na altura a linguagem do nosso maior poeta lhe parecesse demasiado ornamentada e de difícil compreensão. Mas, se bem se recorda, Camões viveu no século XVI, por isso é natural que o português da sua época fosse bastante diferente do que usamos hoje. No entanto, nessa linguagem que, nos tempos de escola, lhe parecia demasiado trabalhada, há algo de intrinsecamente poético: a poesia é trabalho de linguagem. Enquanto outras formas literárias atualmente muito populares, como o romance, são compostas também por outros elementos, como as personagens, o espaço ou o enredo, a poesia é tendencialmente feita apenas com linguagem. Nos poemas atuais, na maior parte das vezes, não é contada qualquer história. Perante um poema, o leitor fica sozinho diante das palavras. Talvez nunca tenha pensado nisso, mas, este facto, por si só, faz da poesia uma forma de arte muito especial.

  A LINGUAGEM É COMO A ÁGUA A pintura é feita com telas, tintas e pincéis. A escultura usa bronze, mármore ou argila. A música é composta de notas que obtemos com instrumentos. Mas a poesia é feita apenas com palavras, que na maior parte das vezes nunca chegam sequer a ser ditas em voz alta. Ao contrário das tintas e do bronze, as palavras não têm uma existência física, corpórea. E, além disso, são algo que usamos todos os dias, para comunicar e para pensar. A linguagem é algo inerente ao ser humano, um dos fatores que nos distingue dos outros animais. Sem linguagem, não existe pensamento. E antes que contra-argumente dizendo que a matemática usa apenas números, esqueça: os algarismos são também uma forma de linguagem, a diferença é que são uma linguagem não verbal.

Já estabelecemos então que a poesia é feita com linguagem verbal, que é algo de que a nossa espécie é completamente dependente e que usamos o tempo todo, de forma inconsciente. Isto faz com que, no dia a dia, a linguagem se torne para nós transparente; isto é, usamo-la sem darmos por ela. É como se fossemos peixes, para quem é tão natural estar na água, que não nos apercebemos de que estamos rodeados por ela e que sem ela não conseguiríamos viver. Levando esta comparação um pouco mais longe, no fundo, o que o poeta faz é dizer-nos: “Olhem! Estamos rodeados de água! E vejam como é bonita!” Ao trabalhar, como dizíamos a propósito de Camões, a linguagem, criando rimas, métrica, etc., a poesia chama a atenção para a língua, coloca-a em evidência enquanto material, tornando-a menos transparente e dando-lhe corpo.

Claro que, à semelhança de outras formas de arte, a poesia foi mudando ao longo do tempo. A determinados períodos históricos correspondem movimentos artísticos diferentes. Assim, se no início a poesia era usada para narrar aventuras e (des)amores, à medida que a prosa foi assumindo essa função, através do romance ou do conto, por exemplo, a poesia pôde focar-se mais na língua. É certo que nenhum período estético é completamente estanque e a arte é sedutoramente rebelde, teimando em não se submeter a regras muito rígidas. Ainda hoje continua a existir poesia que narra acontecimentos; mas menos do que noutras épocas, já que outras formas literárias chamaram a si, como dissemos, esse papel.

  UMA CRIANÇA DE TRÊS ANOS FARIA MELHOR Voltando à pintura, se pensar um pouco na História da Arte, facilmente perceberá que esta evoluiu no sentido da abstração. Os quadros renascentistas, por exemplo, representavam a realidade de forma clara: figuras humanas perfeitamente percetíveis, cidades facilmente identificáveis, momentos da História, como batalhas, pintados de forma realista e dando a ilusão de que o quadro, que é na verdade a duas dimensões, tinha profundidade. Mas se avançarmos um pouco no tempo e pensarmos na arte de Monet, apesar de ainda distinguirmos nas suas telas belos nenúfares e pontes japonesas, as suas pinceladas começam já a ser propositadamente percetíveis. Quando nos aproximamos dos seus quadros, o que vemos são borrões de tinta. Avançando mais ainda, Miró e Kandinsky pintaram sobretudo formas geométricas, enquanto Picasso decompôs objetos e figuras humanas em formas geométricas também, evidenciando o facto de que a tela tem apenas duas dimensões. Os quadros de Jackson Pollock parecem pinceladas furiosamente caóticas e os de Mark Rothko são gigantescas manchas de cor. Estamos no universo da arte contemporânea, a propósito da qual se diz muitas vezes: “O meu filho de três anos faria o mesmo”, tal como se comenta, acerca da poesia atual: “Não faz sentido, são palavras sem lógica”.

O que as belas-artes fizeram, neste percurso que acabamos de descrever de forma muito sumária, foi tornar evidente que a pintura não é a realidade: é outra coisa, feita de figuras geométricas, pinceladas e cores, em telas com duas dimensões apenas. É pintura. O cachimbo de Magritte não é um cachimbo - é um quadro representando um cachimbo.

A poesia seguiu um caminho semelhante. Tornou-se progressivamente menos transparente, deixando de refletir o mundo, como um espelho, para destacar o material de que é feita: as palavras em si mesmas.

Isto não significa, no entanto, que a poesia ou a arte em geral se tenham divorciado da realidade. Os poemas continuam a falar do mundo e com uma acutilância muitas vezes desconcertante. Mas, em vez de o retratarem de forma realista e transparente, optam por colocar em evidência traços que partilham com ele. Assim, se a maioria dos poemas contemporâneos lhe parecem incompreensíveis, é porque a nossa realidade se foi tornando, ela própria, cada vez mais complexa, difícil de apreender e compreender.

Se fez esta jornada connosco e, mesmo reticente, chegou até aqui, parabéns. Talvez, por inépcia nossa, este texto não seja suficiente para mostrá-lo, mas a poesia vale mesmo a pena. O prémio por ter nos ter acompanhado neste percurso é, como não poderia deixar de ser… um poema!




NO FIM DE CONTAS

No fim de contas, são muito poucas as palavras
que nos doem de verdade, e muito poucas
as que conseguem alegrar-nos a alma.
E são também muito poucas as pessoas
que movem o nosso coração, e menos
ainda as que o movem durante muito tempo.
No fim de contas, são pouquíssimas as coisas
que de verdade importam na vida:
poder amar alguém, sermos amados
e não morrer depois dos nossos filhos.

Amalia Bautista, Tres Deseos [tradução nossa]

Sonetos de Luís de Camões

escolhidos por Eugénio de Andrade

de Luís de Camões

ISBN: 978-972-37-2081-5
Editor: Assírio & Alvim
Ano: 2020
Idioma: Português
Dimensões: 150 x 212 x 13 mm
Encadernação: Capa dura
Páginas: 72
Tipo de produto: Livro
Coleção: Documenta Poetica
Classificação temática: Livros em Português > Literatura > Poesia
EAN: 978972372081510
Idade Mínima Recomendada: Não aplicável
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O escritor dos escritores

João T.

Olhar um pintor através de um pintor; olhar um escritor aos olhos de um outro grande escritor. Neste caso Eugénio de Andrade faz-nos não só ver Camões através dele, mas acima de tudo desvenda-nos a sua passagem secreta até ele.

Luís de Camões

Poeta português (1524-1580) por excelência e um dos grandes nomes da literatura europeia do Renascimento. Pouco ou nada se sabe sobre a sua família, infância e juventude. Terá sido educado nas formas de cultura clássicas e também na literatura moderna, o que se depreende da sua posterior produção literária. Soldado, aventureiro, mulherengo apaixonado, Camões esteve em África e no Oriente português. Envolveu-se em polémicas e com mulheres casadas, esteve preso por diversas vezes e produziu uma das mais importantes obras literárias no quadro da literatura europeia da época. «Os Lusíadas» é uma das obras mais traduzidas da literatura portuguesa e reconhecida como uma das mais poderosas e brilhantes epopeias da literatura do renascimento europeu. A sua lírica e teatro são igualmente notáveis e invulgares, e as cartas um testemunho histórico valiosíssimo.

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