Dobra
SINOPSE
CRÍTICAS DE IMPRENSA
Ninguém como Adília Lopes (n. 1960) sabe casar o vernáculo com o erudito, o infantil com o sapiencial, o doméstico com o metafísico.
José Cabrita Saraiva, Nascer do Sol
Tem mil páginas a reunião dos pequenos livros de Adília Lopes: ‘Dobra Poesia Reunida' (Assírio & Alvim) comove-nos, faz-nos sorrir, pensar, rir de novo, sempre. "Sou uma personagem/ de ficção científica/ escrevo para me casar."
Francisco José Viegas, Correio da Manhã
«A poesia de Adília Lopes é uma estação fundamental e singular no percurso da poesia portuguesa desde os anos 80. o seu grande triunfo consistiu em renunciar completamente ao lirismo e às suas tonalidades afectivas, mantendo uma densidade que advém da exploração linguística, em todos os níveis.»
António Guerreiro, Expresso
António Guerreiro, Expresso
EXCERTOS
«HAVERÁ UMA BELEZA QUE NOS SALVE?»
«Não, não há uma beleza que nos salve. Só a bondade nos salva. E a bondade manifesta-se, por vezes, no meio da maior fealdade.
Explico-me. Uma pessoa capaz de actos de bondade, uma pessoa com bom coração, pode ter uma cara que é considerada feia, pode vestir-se de uma maneira que é considerada pirosa, pode ter tido notas medíocres, pode ser um artista medíocre. Quando visitamos um museu com obras belíssimas, como o Louvre ou o Prado, podemo-nos esquecer de que as pessoas, os visitantes e os funcionários que estão lá connosco, são obras mais belas do que as mais belas obras expostas que andamos a ver. Um artista torturado pela beleza que consegue, ou que não consegue, dar ao que pinta e que se autodestrói está equivocado. Seria preferível deixar de pintar ou pintar obras medíocres. Como dizia o meu avô materno, que era médico, «mais vale burro vivo do que sábio morto». Se a busca da beleza nos impede de viver, então há é uma beleza que nos perde. E há.
Penso que não nos devemos enganar sobre a beleza. Se a nossa obra artística, ou outra, não implica a renúncia às coisas inúteis e a partilha, então é bastante inútil. E as coisas inúteis, para uma poetisa, são o desejo de escrever obras perfeitas e o de ser reconhecida pelos seus pares.
Roubei à Irmã Emmanuelle a expressão «renúncia às coisas inúteis e partilha» («renonce aux choses inutiles et partage», in Famille chrétienne,
Numéro hors série, été 2004, p. 6). Se não há partilha, o artista é quase tão aberrante como um padre que celebrasse a missa só para si.
Os artistas são, às vezes, muito egoístas. É verdade que as suas obras, apesar disso, podem comunicar—mas será involuntariamente?
—bons sentimentos. A arte está cheia de ódio, de maus sentimentos. Parece que estou a dizer mal da arte e não queria fazer isso.
No Natal, uma amiga mandou-me um cartão de boas festas da Unicef com um Anjo da Anunciação de Fra Angelico. Tenho-o em exposição no meu quarto e, quando quero rezar, olho para ele. Mas não sou contemporânea de Fra Angelico. Não posso tomar café e tagarelar com ele nos cafés como posso fazer com a amiga que me enviou o anjo dele pelo Correio. Por isso o Anjo da Anunciação de Fra Angelico, que é tão bonito, pode também ser doloroso. Fra Angelico já morreu. E não é a beleza do anjo de Fra Angelico que me garante que Fra Angelico ressuscitará.
Um poema de Rimbaud está cheio de violência. Há muita beleza na expressão dessa violência. E isto é terrível. Preferia que Rimbaud
não estivesse ferido a ponto de escrever daquela maneira? Preferia.Mas não posso dizer isto assim.
A arte é feita para construir a paz.Não é umesgrimir no vazio.Não pode ser.Olho para o Anjo da Anunciação de Fra Angelico. Parece-
-me belíssimo. É vermelho e dourado. É verde e azul. Mas, ao escrever assim, parece-me que estou a evocar o poema de Rimbaud intitulado
«Voyelles». A arte é um modo de lidar com a ausência. E por isso é tão preciosa e tão perigosa. Nunca é a alegria da presença.»
DETALHES
Propriedade | Descrição |
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ISBN: | 978-972-37-2392-2 |
Editor: | Assírio & Alvim |
Data de Lançamento: | setembro de 2024 |
Idioma: | Português |
Dimensões: | 172 x 248 x 50 mm |
Encadernação: | Capa dura |
Páginas: | 1056 |
Tipo de produto: | Livro |
Coleção: | Documenta Poetica |
Classificação temática: | Livros em Português > Literatura > Poesia |
EAN: | 978972372392241 |
Idade Mínima Recomendada: | Não aplicável |
OPINIÃO DOS LEITORES
Adília, surpreendente, o que não é surpresa ¿
Teresa Fastudo
Adília Lopes merece um lugar de destaque na poesia portuguesa dos séculos XX e XXI. Os seus poemas, simultaneamente simples e profundos, revestem-se de uma beleza e ao mesmo tempo de uma crueza que permitem desvendar aquilo que nos une, seres humanos à deriva, mesmo quando achamos que o rumo está definido. Esta obra, com as suas mil páginas, tem poesia para muito mais do que mil dias e mil noites. 5 estrelas.
Único
André Lamas Leite
Esta colectânea da poesia de Adília Lopes demonstra-nos quão profunda é a escrita dos dias comuns, quão interessante é a análise de momentos dotados de um carácter tão quotidiano que, por via disso, são cada vez mais humanos. Dizem que se admiram mais as mulheres e os homens de letras após a sua morte, como que confirmando que "ninguém faz milagres em terra própria". Agora que Adília já é de outra dimensão, talvez ocupe o lugar que merece.
Uma poetisa intrigante
alexandre dale
Vale, sem dúvida, este monumento poético, que nos coloca perante uma perspectiva da poesia que, de outra forma, provavelmente não nos ocorreria. E é uma excelente aventura, dentro de uma cabeça e numa geografia de bairro, do lado de fora da mesma. Acho que não tem sido devidamente valorizado o sentido do humor de Adília Lopes. Só por isso já valeria.
Uma coletânea de simplicidade e beleza...
Maria Sobral Velez
Um livro que reune os textos de uma poetisa diferente... Um título sugestivo que conduz o leitor para a continuidade de "Obra", publicada em 2000. Poemas em que existe uma simplicidade que enternece, uma temática que supreende, uma brevidade que convida à reflexão , uma dimensão autobiográfica presente nas fotografias representativas de diferentes fase da vida da autora. É o espelho do mundo construído por Adília Lopes, um mundo em que a trivialidade do quotidiano adquire uma dimensão poética e filosófica. Um espelho de uma vida...
Maravilhoso
Fátima Linhares
Foi uma das grandes descobertas de 2022. Cativou-me logo no primeiro poema e é tudo fantástico, os poemas e os pensamentos da autora. Revi-me em muito do que Adília escreve e isso é maravilhoso num livro.
Essencial
Amélia
Seria de esperar que os poemas de Adília se lessem uma vez e se esquecessem... A Dobra é um livro de consulta. São poemas para ler e re-ler. Para encontrar novos significados a cada leitura. A escrita de Adília não é opaca, nem assim deve ser o seu leitor.
O peso da Dobra
Roberto Menezes
Bela edição com os livros até então publicados pela autora. Nota-se a atualização feita pela autora ela-mesma de alguns pontos de sua poética, já extensa. Assim lado a lado, os livros de Adília podem parecer repetitivos, mas é importante buscar as nuances da diferença nessa intensa Dobra, que pode nos fornecer tanto uma leitura rápida quanto um labirinto de referências e de conversas literárias.
Dobra - Adília Lopes
Cláudia Leite
A humildade e a visão realista desta poeta é que a faz genial. A sua escrita é ela própria e um bocado da vida de cada um dos leitores. Dá imensa vontade de conhecer a Adília Lopes
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A Luz Fraterna10%Assírio & Alvim48,00€ 10% CARTÃO
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Os Poemas10%Assírio & Alvim28,85€ 10% CARTÃO