As Naus
(Pref. por Ricardo Araújo Pereira)
de António Lobo Antunes
Sobre
o LivroEm imaginoso encontro de tempos e espaços, figuras diversas da História e da Literatura portuguesas (sobretudo dos séculos XVI e XVII), a par de um casal anónimo vindo da Guiné e de algumas figuras estrangeiras de renome, encontram-se em Lisboa na situação de retornados no pós-25 de Abril de 1974. Subvertendo as histórias individuais dessas diferentes personalidades - Pedro Álvares Cabral, Luís de Camões, Francisco Xavier, Diogo Cão, Manuel de Sousa de Sepúlveda, Vasco da Gama, Fernão Mendes Pinto - conta-se das suas vidas em terras africanas, diferentes das que a História consagrou como tendo sido o seu percurso, e de como na sua maior parte se ocupam, após o regresso à metrópole, de actividades menos dignificantes que vão do proxenetismo de Francisco Xavier e Fernão Mendes Pinto à exploração de boîtes e bares manhosos por Manoel de Sousa de Sepúlveda e à batota no jogo da sueca de Vasco da Gama. Projectando nos vultos históricos de navegadores, escritores, heróis e missionários a inditosa aventura de retorno dos colonos no pós-25 de Abril de 1974, multiplicando neles as marcas do descalabro e da irrisão (físicas e morais), recorrendo a efeitos de burlesco, de sátira e de rebaixamento carnavalescos, inverte António Lobo Antunes o assaz mitificado e glorioso sentido dos descobrimentos portugueses, reescrevendo assim «Os Lusíadas» em modo paródico.
Comprei este livro porque a sinopese me chamou à atenção. Quis preceber como se cruzavam as histórias destas importantes presonagens da história portuguesa. A verdade é que tal cruzamento é bastante estranho, tudo é estranho desde as histórias pecaminosas de vida das personagens, aos saltos temporais entre o período dos Descobrimentos e do Pós-Abril, até mesmo ao narrador que tanto fala na terceira como na primeira pessoa. Não sentia tal estranheza desde que li o Memorial do Convento. No entanto, tudo isto é genial e não acho possível que outra pessoa se lembrasse de tal enredo. Embora não tenha sido a leitura que esperava, gostei de conhecer ALA desta forma.
ALA é genial e ultrapassa tudo o que produziu até hoje, com uma quase satírica epopeia da sobreposição quântica da literatura histórica. Tenho pena que lhe faltem uns séculos ( espaço)pelo meio, para os quais ainda não ganhou perspectiva histórica (nem quântica), e serenidade emotiva derivada da queda dos muros e pré-globalização Também um dia gostava de poder dizer adeus ao Senhor Saraiva