O Pintor da Vida Moderna
de Charles Baudelaire
Sobre
o LivroÉ difícil imaginar hoje a possibilidade de, em algumas páginas, definir o pintor ou a pintura, o artista ou a arte da vida moderna, pós-moderna, contemporânea, ou como se queira chamar-lhe. Isto é, dirigir-se à actualidade, que sentimos como cada vez mais complexa, e traçar-lhe o retrato, a essa actualidade que temos cada vez mais dificuldade em convocar como realidade, em dizer como experiência, ou sequer em configurar como nome. Em 1863, Baudelaire ousou fazê-lo (ou pôde ainda fazê-lo) a respeito da arte e da vida a que então chamou «modernas». O texto O Pintor da Vida Moderna surge em três partes, em Le Figaro, a 26 e 29 de Novembro e a 3 de Dezembro de 1863, vindo a integrar mais tarde a colectânea dos escritos que Baudelaire por diversas vezes projectou e alterou, e a ser postumamente editado, em 1868, no volume intitulado L’Art Romantique. Não se tratando da primeira aparição do termo «moderno», tratou-se sem dúvida de uma das mais marcantes, inspirando inúmeros comentários posteriores, talvez pela aparição, essa sim, algo inaugural, da noção de «modernidade» e da sua tentativa de teori-zação, intrinsecamente associada, para Baudelaire, à missão contemporânea da arte, à sua condição e ao seu objecto.
Em O Pintor da Vida Moderna, Baudelaire faz uma abordagem ao conceito de beleza do passado artístico transmitido pelos grandes mestres da pintura, como um marco interessante pelo seu valor histórico, mas também como uma ruptura dos padrões da antiguidade clássica. Referindo-se ao belo moderno presente na sociedade parisiense do séc. XIX, Baudelaire traduz este “novo estar” como um tempo que se consome a si próprio. É precisamente nesse ponto que ele defende o artista da vida moderna como aquele que consegue reinventar esse novo paradigma do modernismo através da auto-consciência desse presente. Um livro imprescindível que cruza o passado e o presente dentro de uma natureza moral e espiritual do homem, como um palco de usos e costumes.