Horto de Incêndio
de Al Berto
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Poema da semana
notas para o diário
deus tem que ser substituído rapidamente por poe-
mas, sílabas sibilantes, lâmpadas acesas, corpos palpáveis,
vivos e limpos.
a dor de todas as ruas vazias.
sinto-me capaz de caminhar na língua aguçada deste
silêncio. e na sua simplicidade, na sua clareza, no seu abis-
mo.
sinto-me capaz de acabar com esse vácuo, e de aca-
bar comigo mesmo.
a dor de todas as ruas vazias.
mas gosto da noite e do riso de cinzas. gosto do
deserto, e do acaso da vida. gosto dos enganos, da sorte e
dos encontros inesperados.
pernoito quase sempre no lado sagrado do meu cora-
ção, ou onde o medo tem a precaridade doutro corpo.
a dor de todas as ruas vazias.
pois bem, mário – o paraíso sabe-se que chega a lis-
boa na fragata do alfeite. basta pôr uma lua nervosa no
cimo do mastro, e mandar arrear o velame.
é isto que é preciso dizer: daqui ninguém sai sem
cadastro.
a dor de todas as ruas vazias.
sujo os olhos com sangue. chove torrencialmente. o
filme acabou. não nos conheceremos nunca.
a dor de todas as ruas vazias.
os poemas adormeceram no desassossego da idade.
fulguram na perturbação de um tempo cada dia mais
curto. e, por vezes, ouço-os no transe da noite. assolam-me
as imagens, rasgam-me as metáforas insidiosas, porcas. ..e
nada escrevo.
o regresso à escrita terminou. a vida toda fodida – e
a alma esburacada por uma agonia tamanho deste mar.
a dor de todas as ruas vazias.
Al Berto
Al Berto: dois poemas para celebrar a sua vida
Se fosse vivo, Al Berto faria hoje 75 anos. O poeta e editor português, nascido a 11 de janeiro de 1948, encontrou na exaltação do próprio sofrimento a sua forma de expressão literária, ao longo de mais de 20 anos de atividade literária.
A Assírio e Alvim celebra a obra de Al Berto reeditando o último livro do autor, Horto de Incêndio, agora numa edição com sobrecapa. Nas suas páginas, o fogo assume o papel de elo entre os mundos terrestre, intermediário e celeste, de destruição e regeneração, ligado aos ritos de passagem.
RECADO
ouve-me
que o dia seja limpo e
a cada esquina de luz possas recolher
alimento suficiente para a tua morte
vai até onde ninguém te possa falar
ou reconhecer — vai por esse campo
de crateras extintas — vai por essa porta
de água tão vasta quanto a noite
deixa a árvore das cassiopeias cobrir-te
e as loucas aveias que o ácido enferrujou
erguerem-se na vertigem do voo — deixa
que o outono traga os pássaros e as abelhas
para pernoitarem na doçura
do teu breve coração — ouve-me
que o dia te seja limpo
e para lá da pele constrói o arco de sal
a morada eterna — o mar por onde fugirá
o etéreo visitante desta noite
não esqueças o navio carregado de lumes
de desejos em poeira — não esqueças o ouro
o marfim — os sessenta comprimidos letais
ao pequeno-almoço
HORTO
homens cegos procuram a visão do amor
onde os dias ergueram esta parede
intransponível
caminham vergados no zumbido dos ventos
com os braços erguidos — cantam
a linha do horizonte é uma lâmina
corta os cabelos dos meteoros — corta
as faces dos homens que espreitam para o palco
nocturno das invisíveis cidades
escorre uma linfa prateada para o coração dos cegos
e o sono atormenta-os com os seus sonhos vazios
adormecem sempre
antes que a cinza dos olhos arda
e se disperse
Al Berto, Horto de Incêndio
Propriedade | Descrição |
---|---|
ISBN: | 978-972-37-1979-6 |
Editor: | Assírio & Alvim |
Data de Lançamento: | novembro de 2017 |
Idioma: | Português |
Dimensões: | 150 x 212 x 13 mm |
Encadernação: | Capa dura |
Páginas: | 80 |
Tipo de produto: | Livro |
Coleção: | Obras de Al Berto |
Classificação temática: | Livros em Português > Literatura > Poesia |
EAN: | 978972370410521 |
Idade Mínima Recomendada: | Não aplicável |
Belo
Paulo Pereira
Viciante, rico em recursos e em interpretações que podem suscitar o debate, em torno do que o autor pretende dizer.
Obra Maior
Tiago
Horto De Incêndio é uma das obras maiores da literatura contemporânea portuguesa e um ponto obrigatório para quem a quiser conhecer.
Horto de Incêndio
António
Uma das melhores obras de poesia portuguesa. as poesias apontam para as dificuldades, angústias, perdas, solidões, que a trilha, o caminhar, propõe no seu decorrer. escarafuncham os percalços e pedreiras a enfrentar, mostrando o quão árduo é o trabalho de suportar, de carregar, tais dores mundanas. outra característica que permeia a sua poética é um certo deboche para com a existência. enfim, um excelente trabalho.