Furriel não é Nome de Pai
Os filhos que os militares portugueses deixaram na Guerra Colonial
de Catarina Gomes
Sobre
o Livro«Filhos do vento»: as crianças que os militares portugueses deixaram na Guerra Colonial
Chamavam «resto de tuga» a Fernando e ele não percebia porquê; Adulai era acusado de tudo pelos irmãos e era sovado todos os dias pelo padrasto por ter nascido com a pele mais clara; e os gémeos Celestina e Celestino guardam, aos 40 anos, uma fotografia desbotada de um jovem militar que não os quer conhecer, nem com o incentivo da «Exma. Mana» portuguesa. Foi para ir atrás destas histórias que Catarina Gomes partiu para a Guiné-Bissau em 2013, levando na mala um dos maiores tabus entre os militares portugueses: os filhos da guerra, crianças que ficaram para trás depois da Guerra Colonial, e que chegaram ao mundo como filhas do «inimigo» e condenadas a não conhecer os pais. Além do círculo masculino de silêncios que os mantém afastados, estes filhos africanos são também ignorados pelo Estado português, que nunca fez um esforço por conhecer a dimensão desta realidade ou por lhes garantir quaisquer direitos. Estão há anos em busca de uma identidade perdida, mas esta é a primeira vez que alguém conta a sua história.
«Os filhos nascidos da guerra sofrem com a falta de conhecimento em relação aos seus pais biológicos. Os governos, assim como as instituições nacionais e internacionais, são incentivados a pôr de pé medidas que garantam o seu direito à identidade e, tanto quanto possível, a conhecerem os seus pais.»
(Recomendação da organização internacional Chibow: Children Born of War)
Este livro surpreendeu-me e deixou-me triste com a situação de muitos filhos de ex-militares portugueses deixados à sua sorte nas antigas colónias. A autora fez um trabalho de investigação notável e nada fácil! Gostei como mostrou histórias com desfechos diferentes - desde pessoas que conseguiram estabelecer relação com parentes em Portugal, a outras que ficaram a pensar em quem seria o seu pai a vida toda. Foi também interessante poder ler sobre todas as perspectivas - das mães que engravidaram, dos filhos e de alguns militares, que por vergonha ou medo (por exemplo, de serem enganados) nunca quiseram assumir os filhos. Ainda há muitos tabus à volta da guerra colonial e este livro foi mais um passo para os desvendar. Recomendo!
Uma investigação série que deu origem a este livro sobre um tema pouco falado, ou mesmo esquecido, do passado do nosso país.
Livro que relata a história dos nossos jovens que foram obrigados a sobreviver à guerra longe da pátria e que por terras longínquas tentaram levar uma vida o mais familiar possível... com o terminar da guerra regressaram ao seu país de origem esquecendo a "família temporária" que para trás deixaram abandonada.
Uma investigação séria sobre um problema real e esquecido, transversal a todas as guerras: os chamados "filhos da guerra" esquecidos, marcados para a vida pela cor da pele, pelo estigma de serem filhos do "inimigo", crianças eternamente à procura de uma parte da sua identidade, de um pai sonhado e nunca encontrado. Histórias de pais que daqueles filhos nunca o foram, que construiram vidas que temem agora ver destruidas ou perturbadas por aqueles filhos que intuitivamente sabem poder ser seus, mas que não reconhecem. Um drama humano, um trauma para uns e outros....
Numa época de guerra, em que o tempo é absorvido com avidez, a juventude pulsa e cada dia é vivido como se fosse o último sem certezas do amanhã não é de estranhar que tais factos tenham acontecido. Parabéns para a investigadora que quis levantar esta ponta do véu a trazer à luz do dia uma realidade (e tantas histórias devem ter ficado por contar) que deve ser deslindada enquanto possível.
Muito interessante que alguém consiga com rigor tratar, expor e contar-nos histórias profundamente humanas e esquecidas ... Andamos afastados da história nacional e muitas coisas obrigam-nos a esse "afastamento", mas que interessante podermos REALMENTE contactar com esse esquecimento, e com o que ainda toca e afecta tantas pessoas e famílias. Livro indispensável para completar a literatura dedicada ao colonialismo em todas as suas vertentes.