Ernestina

Ernestina, de Rentes de Carvalho, leva-nos numa viagem autobiográfica desde o final do séc. XIX, onde começamos por conhecer os seus bisavós, até meados do século XX, e aos marcantes 15 anos do autor. A narrativa vai-nos revelando as frágeis condições sociais, culturais e económicas dentro daquele espaço de tempo, ainda mais difíceis no campo do que na cidade. O acesso aos cuidados de saúde era um luxo que não chegava a todos, o saber ler e escrever dependia em grande medida da vontade própria em aprender sozinho dado que a escola não era a todos acessível, e, na verdade, nem para todos importante. As relações familiares eram complicadas e a frustração muitas vezes transformada em violência. A tudo isto, a cultura da taberna não ajudava. Ainda assim, com trabalho e perseverança, e o muito querer quebrar do círculo, era possível melhorar de vida. Conseguimos também perceber que com o passar do tempo a humanidade e os afetos foram ganhando mais espaço. A escrita é simples, dura, crua, irónica e pouco dada à vitimização das personagens. Aliás, todas elas, para o bem e para o mal, têm um carácter forte e determinado. As descrições são muito bem feitas e facilmente conseguimos "ver" o ambiente envolvente, sentir os cheiros, o vento, o calor...

Quando se gosta de um livro acabado de ler, o leitor por norma pensa: adorei. É o que se passa comigo quando isso me acontece. No caso de ERNERSTINA, atrevo-me a substituir essa palavra por: devorei. Na verdade não se compreende como é que um escritor desta qualidade tenha estado escondido dos leitores portugueses durante tantos anos. Sem palavras a mais, com uma prosa excelente, Rentes de Carvalho fala-nos duma região portuguesa nos inícios do séc. XX, duma família, dos seus vizinhos e de parte da sua própria história de vida. Um livro que entrou nos meus favoritos e do qual aconselho vivamente a leitura.

Será que as pessoas não leram? Será questão que os leitores são tão citadinos que acham que é uma estória do sec. XIX? É hoje no nordeste. Ainda bem para o Rentes foi educado em Gaia. Coisa de sobrevivência a sério.

Mais do que uma obra autobiográfica, esta narrativa realça o Portugal social, económico e cultural que as gerações contemporâneas parecem desconhecer. Rentes de Carvalho assume uma escrita assertiva, objetiva sem contemplações para idealismos românticos, em que as suas personagens retratam dramas reais.

Com este livro autobiográfico, Rentes de Carvalho dá-nos não só um relato humano e comovente de uma vida idêntica a muitas outras daquela época como nos pinta um belíssimo fresco de Trás-os-Montes e das suas gentes. Recomendo vivamente.

A Ernestina é a minha vizinha doce e disponível, não a minha mãe cruel. O Nordeste continua a ser um tema que só Rentes de Carvalho tem coragem de expurgar. Li após “O Meças”. Essas realidades interiores impõe-se-me todos os dias na aldeia. Excelente descrição de Gaia e de todo o movimento. Surpresa quanto a Estarreja. Leiam.

Com este livro autobiográfico, o autor dá a conhecer a vida e as histórias de tantas e tantas famílias do nosso Portugal do início do século XIX. Uma poesia nas palavras que escolhe apenas equiparada às paisagens que descobre e descreve em Vila Nova de Gaia e nas visitas à aldeia. cada página faz-nos sentir as mágoas e os êxtases desta família.

Com este livro autobiográfico, o autor dá a conhecer a vida e as histórias de tantas e tantas famílias do nosso Portugal do início do século XIX. Uma poesia nas palavras que escolhe apenas equiparada às paisagens que descobre e descreve em Vila Nova de Gaia e nas visitas à aldeia. cada página faz-nos sentir as mágoas e os êxtases desta família.

Um livro que conta a historia da família de José Rentes de Carvalho de uma forma muito verdadeira e emotiva. Adorei e recomendo!