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As Pessoas do Drama

de H. G. Cancela

editor: Relógio D'Água, maio de 2017
Vencedor do Grande Prémio de Romance e Novela da APE 2017
«À minha frente, um muro. Uma faca nas costas. Eu sentia-lhe a lâmina, seca como uma luz que apenas projectasse sombra. Entre o muro e a lâmina não havia nada. Vontade, medo, expectativa, nada. Eu teria perguntado, se soubesse a pergunta, teria respondido, se houvesse resposta. Não, em ambos os casos. Não a quem perguntar, não a quem responder, não a quem acusar, eu próprio mergulhado nessa mistura de solidão e de miséria sexual de onde emergem arte, crime e religião, todos obrigados a cavar o vazio que depois se esforçam por preencher ou por dissimular. Eu duvidava, no entanto, que dos dois lados da faca o vazio fosse compatível com aquilo que o pretendia preencher. Voltei-me devagar.»
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H. G. Cancela

Há um desconserto palpável no que escreve Cancela. Ao aceitarmos o pacto com o narrador dos seus romances, despimo-nos como se fosse a primeira vez que o fazemos, sem nunca deixarmos de ser espectadores de um drama. Pois, não obstante a nossa nudez e a nossa disponibilidade, o mundo de Cancela é sempre uma encenação que desafia o equilíbrio entre o que é verosímil e o que não é, entre a fragilidade da superfície da pele e a violência exposta como um martírio. Assistimos ao desenrolar da ação, da qual o narrador é cúmplice, e o que mais nos aflige é a impossibilidade de saltarmos para a boca de cena e impedirmos o curso da tragédia. Mas é mesmo assim que a arte se dá. «Se há alguma coisa que possa ser a função das artes na atualidade é a capacidade de experimentar os valores. Aquilo que não é legítimo no plano político ou no plano social é desejável no plano artístico. Se a arte não é um espaço de experimentação, de encostar o mundo aos seus próprios limites, então não sei para que serve a arte.»* Escritor de vários romances e textos ensaísticos, são Impunidade, As Pessoas do Drama e o recente Nostos que se destacam na sua obra. Três romances independentes que constituem, contudo, um contínuo. Três livros a que aconselhamos que o leitor chegue sem saber nada sobre eles, porque aqui todos os elementos que compõem o objeto que tem nas mãos contam para a narrativa. Tentaremos, assim, expor o menos possível das obras, mas a nossa tarefa, aqui, é a de o convencer a ler Cancela, e com isso entrar na escrita de um dos mais interessantes escritores portugueses. Impunidade Quando entramos em cena vemos um homem que chega a um apartamento na periferia abafada de Sevilha e se depara com duas crianças a dormir. É de noite e tudo causa estranheza: o calor, a desarrumação, o abandono, a fragilidade. Desde cedo, neste romance, vamos sendo postos à prova na nossa conformação de espectadores. Nada está contado de forma a poupar-nos do que acontece ao longo do livro. Quem são estas pessoas? Encenando temas como a moral e a culpa, estamos no território do desconforto. Queremos que a quarta parede caia e nos digam que estamos perante uma peça de teatro, que nos devolva o conforto. Tudo o que podemos dizer é que a sensação prevalece e, no fim, talvez Impunidade tenha alterado a forma como nos damos à literatura. QUERO LER!






  As Pessoas do Drama Um homem vê uma mulher num filme e algo se desbloqueia na sua mente. Começam os dias da perseguição, da obsessão. Quem é ela? Onde está? Dos três livros, este é aquele que explora a dimensão cénica de forma mais complexa. A observação de um corpo através de uma tela, que desencadeia depois a vontade física de o encontrar. A certa altura, uma Antígona de olhos vendados, grávida, numa peça de teatro a que a personagem principal assiste vezes sem conta. Interessante, também, é falarmos dos cenários destes livros, pois se o palco é quase sempre uma Andaluzia extensa, de caminhos possíveis mas que martiriza o caminhante, o Alentejo aparece como uma espécie de desterro com cheiro a lar, ainda que um lar pútrido. E, neste Pessoas do Drama, temos a ideia de uma Roma de possibilidades, onde a trama ganha relevo. QUERO LER! Nostos Publicado em maio de 2024, o mais recente romance de H.G. Cancela volta a colocar-nos no lugar de espectadores do desenrolar de um enredo que joga de forma muito marcada com esta noção do que é verosímil, sem nunca cair do muro para nos enredar em definitivo no mundo da incredulidade. Um homem acorda num hospital francês sem saber como lá foi parar, apercebendo-se aos poucos de que está numa terra estrangeira, de que sofreu um acidente, de que nada ali lhe é familiar. No seu caminho, encontra uma daquelas que, na nossa opinião, ficará como uma das personagens mais impressionantes da literatura contemporânea portuguesa. Valhamo-nos da ideia de que regressa à cena a Andaluzia, o Alentejo e um protagonista em constante ensaio geral entre o domínio das suas ações e a inação que lhe causa o tempo e, sobretudo, a sua história. QUERO LER! A noite das barricadas Além destes três romances, a obra de H.G. Cancela conta com vários livros de ensaios sobre, por exemplo, a violência. É o que encontramos em A Humanidade dos Monstros. Tal como sobre a arte, o teatro, a literatura, como acontece em O Exercício da Violência. O autor tem ainda mais dois romances, cuja leitura andamos a guardar como quem tem de poupar uma bebida rara, para que nunca nos falte Cancela para ler. São A Noite das Barricadas, que se desenrola no cenário da revolução de abril de 1975, e A Terra de Naumãn sobre o qual, quem já o leu, nos diz que saímos do universo dos outros romances e encontramos uma comunidade em harmonia.

*Isabel Lucas, O mundo violento e frágil de H. G. Cancela
in Ípsilon, Público, 29-07-2017. QUERO LER!

As Pessoas do Drama

de H. G. Cancela

Propriedade Descrição
ISBN: 9789896417260
Editor: Relógio D'Água
Data de Lançamento: maio de 2017
Idioma: Português
Dimensões: 153 x 237 x 20 mm
Encadernação: Capa mole
Páginas: 296
Tipo de produto: Livro
Classificação temática: Livros em Português > Literatura > Romance
EAN: 9789896417260
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Surpreendente

Joana

Mais um excelente trabalho de um autor cujo reconhecimento não faz juz ao seu talento.

H. G. Cancela

H. G. Cancela nasceu em 1967. Publicou, entre outras obras, os romances Anunciação, De Re Rustica, Impunidade (Relógio D’Água), As Pessoas do Drama (Relógio D’Água), e o ensaio O Exercício da Violência. Em 2018 publicou A Terra de Naumãn.
A sua ficção explora situações-limite do relacionamento humano, como a culpa, a solidão, a dor, o incesto e a violência.
Em entrevista concedida a Isabel Lucas em finais de Julho de 2017, afirmava: «Para mim o essencial na literatura, no romance, é a construção de um espaço narrativo, a construção mesmo de um mundo. O mundo onde estamos e a partir do qual a realidade pareça verosímil, mesmo a mais inverosímil.»
É atualmente professor na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.

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