A Guerra não Tem Rosto de Mulher Livro
de Svetlana Alexievich
Sobre
o LivroNesta obra-prima, Svetlana Alexievich dá voz a centenas de mulheres que revelam pela primeira vez a perspetiva feminina da Segunda Guerra Mundial. O número de mulheres combatentes no Exército Vermelho chegou quase a um milhão, mas a sua história nunca foi contada. Este livro, marcado pelo estilo pungente de Svetlana Alexievich, apresenta testemunhos de mais de 200 jovens russas que passaram de filhas, mães, irmãs e noivas a atiradoras, condutoras de tanques ou enfermeiras em hospitais de campanha. O seu relato não é uma história de guerra, nem de combate; é uma história de mulheres e homens catapultados «da sua vida simples para a profundeza épica de um enorme acontecimento». Em que pensavam? De que tinham medo? Como foi aprender a matar? É sobre isto que estas mulheres falam, mostrando uma faceta do conflito sobre a qual não se escreve. Descrevem a sujidade e o frio, a fome e a violência sexual, a angústia e a sombra permanente da morte. A Guerra não Tem Rosto de Mulher, a marcante obra de estreia de Svetlana Alexievich, foi originalmente publicada em 1985, depois de quatro anos de pesquisa e entrevistas. Esta edição corresponde ao texto fixado em 2002, quando a autora reescreveu o livro e incluiu novos excertos com uma força que, antes, a censura não lhe tinha permitido mostrar.
Tendo por base a recolha de inúmeros testemunhos que a autora reproduz de tal forma que nos parece que estamos a ouvir cada um destes testemunhos, Svetlana debruça-se sobre a forma como a guerra foi vivida (e sentida) pelas mulheres chamadas a intervir e a lidar com os horrores da batalha - na antiga União Soviética - como enfermeiras, cozinheiras, lavadeiras, franco-atiradoras, sapadoras.
Vozes de Chernobyl foi, para mim, uma leitura mais poderosa e que permaneceu comigo durante muito tempo, mas este A Guerra não tem rosto de mulher vale muitíssimo a pena também e dá-nos acesso a um arquivo de memórias e experiências que, normalmente, não têm espaço para ser registadas: as das mulheres. A introdução da autora é magnífica, com dezenas de pistas de reflexão! Recomendo!
Fixei-me. Tenho dezoito anos, começo agora a perceber verdadeiramente as coisas, ou a forçar-me a isso. É importantíssimo fazê-lo. Esta obra é algo extraordinário, as experiências de vida nela contada foram algo de extraordinário. Marcadas nestas páginas a tinta, protegidas da morte de quem as viveu e que de outra maneira se perderiam. Quarenta anos sem falar, muitas dessas mulheres, instigadas a contar os horrores por uma escritora, excelente pelo que quarenta páginas deram a entender. Vou obter um exemplar, claro. Livros assim não podem esperar em livrarias, bibliotecas ou estantes, mas sim serem lidos, relidos e pensados. Como a nossa vida é fútil agora, como era dificílima durante a guerra e como temos sorte. Tanta sorte. Como aproveitamos mal essa sorte. Como tudo poderia ser diferente se os ensinamentos dos mais antigos não se perdessem e nós já nascêssemos com eles, aperfeiçoando-os. No entanto, temos de aprender tudo de novo. Este livro é o némesis de quem sofreu o passado, a proibição do esquecimento. Creio que lê-lo me fará muito bem, pois lágrima escorrerão por aqueles que sofreram e mesmo que de tristeza, deixar-me-ão alerta.
Depois de ler o "Vozes de Chernobyl" confesso que tinha espetativas baixas em relação a este livro da Prémio Nobel da Literatura de 2015. Enganei-me redondamente. Um livro na esteira dos outros que dela já tinha lido. Uma obra sobre uma geração de mulheres que acabadas de sair da adolescência (ou nem isso, por vezes) luta na Grande Guerra Patriótica de uma maneira corajosa, abnegada e tantas vezes com compaixão pelo implacável inimigo, quase sempre na frente de batalha, olhos nos olhos. Um livro que me surpreendeu e que me trouxe uma visão mais "adocicada" do exército soviético. Impossível não recomendar.