Adolescências de hoje
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Por Dr. Daniel Sampaio*
Ilustração de Aurora Sant’Ana para a revista Wookacontece
Nos anos 1980 comecei os meus estudos sobre a adolescência. Na época era um terreno só de pedopsiquiatras e de alguns psicólogos, porque os psiquiatras só se ocupavam dos adultos. Dizia-se que os jovens iam pouco às consultas e que temiam encontrar-se com crianças e bebés.
Os meus mestres da altura ensinavam sobretudo a relação dos mais novos com os pais, ao valorizarem as relações afetivas na família e a capacidade dos adolescentes fazerem o «luto da infância», como então se afirmava. Falava-se pouco da escola, embora os jovens passassem lá a maior parte do seu dia.
Os meus mestres da altura ensinavam sobretudo a relação dos mais novos com os pais, ao valorizarem as relações afetivas na família e a capacidade dos adolescentes fazerem o «luto da infância», como então se afirmava. Falava-se pouco da escola, embora os jovens passassem lá a maior parte do seu dia.
No início dos anos 1990 passou a valorizar-se mais o contexto. Falou-se da escola, da televisão e do grupo de jovens, mas a grande revolução estava para chegar: a internet.
Compara-se a influência da internet ao impacto da imprensa escrita, com a prensa de Gutemberg no século XV, que permitiu a impressão de muitos textos. Há, no entanto, uma diferença fundamental: enquanto outrora não havia dinheiro para comprar livros e eles só ficavam ao alcance de alguns, o conhecimento está agora acessível a todos. Na net posso publicar lixo ou uma obra-prima, marcar uma viagem, divulgar os quadros de que gosto, contactar pessoas próximas ou distantes. É uma nova galáxia, como em tempos escreveu Castells.
Os pais superprotegem-nos no mundo real, mas subprotegem-nos no mundo virtual. Em muitas situações desconhecem por completo a relação do seu filho com a internet. Nas escolas, os professores vivem obcecados com o controlo dos telefones e as direções escolares esquecem-se de regulamentar e só falam em proibir.
Compara-se a influência da internet ao impacto da imprensa escrita, com a prensa de Gutemberg no século XV, que permitiu a impressão de muitos textos. Há, no entanto, uma diferença fundamental: enquanto outrora não havia dinheiro para comprar livros e eles só ficavam ao alcance de alguns, o conhecimento está agora acessível a todos. Na net posso publicar lixo ou uma obra-prima, marcar uma viagem, divulgar os quadros de que gosto, contactar pessoas próximas ou distantes. É uma nova galáxia, como em tempos escreveu Castells.
Os pais superprotegem-nos no mundo real, mas subprotegem-nos no mundo virtual. Em muitas situações desconhecem por completo a relação do seu filho com a internet. Nas escolas, os professores vivem obcecados com o controlo dos telefones e as direções escolares esquecem-se de regulamentar e só falam em proibir.
A verdade é que há motivos para preocupação. Nota-se um declínio da saúde mental dos mais novos, com aumento da ansiedade e da depressão, mais comportamentos autolesivos e perturbações do sono. A infância passada dentro de casa faz com que haja menos interações sociais com amigos e menos contacto corporal, tão importante para nos compreendermos a nós mesmos.
O Ministério da Educação fez bem em «recomendar» e não «proibir» os telemóveis na escola, mas foi claro a definir o espaço escolar sem telefones até ao 3º ciclo. Ouçamos também os adolescentes sobre esta questão.
Precisamos de treinar a autorregulação dos adolescentes, em vez de só pensar em controlar os seus comportamentos. Os pátios das escolas necessitam de ser melhorados com zonas de diversão e de convívio tranquilo. Na família, cada vez é mais necessário lutar por momentos de conversa, com cada um a olhar para a outro e escutar o que ele tem para dizer.
Precisamos de treinar a autorregulação dos adolescentes, em vez de só pensar em controlar os seus comportamentos. Os pátios das escolas necessitam de ser melhorados com zonas de diversão e de convívio tranquilo. Na família, cada vez é mais necessário lutar por momentos de conversa, com cada um a olhar para a outro e escutar o que ele tem para dizer.
*Psiquiatra e escritor.
Este artigo foi escrito pelo Dr. Daniel Sampaio para a revista Wookacontece n.º 13.
Este artigo foi escrito pelo Dr. Daniel Sampaio para a revista Wookacontece n.º 13.
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