Violeta

Leve um escritor de férias

E se pudesse levar um escritor de férias consigo? Melhor ainda, e se ele pudesse escolher o destino? As férias estão aí à porta e está na altura de tomarmos decisões. Ficamos cá dentro ou vamos para fora? Há dias a gozar ou já se esgotaram as hipóteses de umas tardes ao sol? Seja como for, viajando em voos intercontinentais mais ou menos imaginados ou em sofás aconchegantes no interior das nossas casas, esta proposta é tentadora. Vai de férias? Leve o seu escritor preferido consigo. Estes são os que nos fariam companhia.

  José Luís Peixoto Não é só porque José Luís Peixoto viaja muito que nos parece ser um excelente companheiro de andanças. Há muito nos livros do autor que nos falam de territórios desconhecidos, que exalam fascínio, seja ele aqui ao lado ou do outro lado do mundo. Em Dentro do Segredo, Peixoto leva-nos à Coreia do Norte, numa viagem pelo desconhecido, uma sociedade fechada a tudo e a todos, mas que José Luís Peixoto nos seria capaz de apresentar e guiar pelos seus misteriosos recantos. Mas este é um bom escritor para se levar de férias, porque caso não queiramos aventuras tão arriscadas, podemos sempre deixar-nos conduzir pela Tailândia de O Caminho Imperfeito, que não é apenas uma viagem a esse conhecido destino turístico. De repente estamos também em Las Vegas. Mas não aposte as fichas todas nesta viagem, pois alguns acontecimentos que por lá se sucedem podem não ser a melhor ideia para umas férias relaxadas. Mantenhamo-nos com Peixoto mas vamos agora ser mais modestos: Galveias, terra natal do escritor, é descrita no romance homónimo como um lugar onde a natureza humana se confunde com a própria terra e nem o facto de lá ter ido parar um provável meteorito abala de todo a força daquelas paisagens. Já agora, e se José Luís Peixoto não estiver muito cansado, peça-lhe para dar um pulinho a Campo Maior, epicentro de Almoço de Domingo. Pode ser que o leve numa aventura pelos trilhos do contrabando, até Espanha, tão ali à mão de semear. VER MAIS »







  Jorge Amado Estamos no terreno da total possibilidade, certo? Como tal, porque não sonhar com umas férias com Jorge Amado? E começaremos por um lugar que não lhe será nada estranho, mas que pouco associará a este autor: Viana do Castelo. É verdade. Jorge Amado gostava tanto desta terra minhota que passou por lá muitas vezes, tantas que até conheceu por lá o «Capitão Natário», a quem chama «capitão de doces e salgados, comandante do pão-de-ló, mestre do bem-comer». A personagem de Tocaia Grande inspira-se em Manuel Natário, criador das famosas natas que deliciam gerações de vianenses. Mas demos então o salto até ao outro lado do Atlântico e deixemo-nos guiar, com Jorge Amado, pelas ruas de Salvador da Bahía, em Capitães da Areia, por exemplo, ou em Ilhéus, com Gabriela, Cravo e Canela. A nossa viagem pelo Brasil de Amado não fica completa sem tentarmos descobrir onde fica Santana do Agreste, terra central de Tieta do Agreste, e por lá encontrarmos Tieta, Perpétua e Osnar. Jorge Amado seria um excelente companheiro de férias, não acha? Poderíamos passear tranquilamente pelo Pelourinho, na capital, para depois nos sentarmos num banco frente ao Atlântico, contemplando o mar, os coqueiros e a praia, elementos sempre tão presentes na obra do autor. É num desses bancos que, na impossibilidade de encontrarmos o autor, vamos encontrar a sua escultura, feita pelo artista plástico Tatti Moreno, e que retrata o escritor, a sua esposa, Zélia Gattai e o cão de ambos, o doce Fadul. VER MAIS » Isabel Allende Viajar com a escritora de A Casa dos Espíritos teria sempre a sua dose de imprevisto. Era certo que, nas viagens de avião, Allende haveria de nos contar, de várias formas, a história da América do Sul, das ditaduras que assolaram os países por onde viveu e a forma como o continente ainda se ressente desses anos de opressão extrema. Mas após aterrar, a questão era descobrir onde estávamos. No continente sul-americano, é certo. Mas em que país? Estaríamos na terra de Eva Luna, prontos para a ouvir falar da sua vida e da sua jornada num território em constante tumulto? No Chile de finais do século XIX, onde iríamos conhecer a saga familiar de Retrato a Sépia? Caso sério seria se a autora nos levasse para A Cidade dos Deuses Selvagens, para O Reino do Dragão de Ouro ou O Bosque dos Pigmeus. Aí talvez tivéssemos que conversar com ela e explicar-lhe que aquelas férias estavam a ir um pouco mais além do que o planeado, em termos de aventura e desconhecido. Também poderíamos correr o risco de Allende nos querer levar consigo no barco que cruzou o Atlântico em Longa Pétala de Mar, o «Winnipeg», navio fretado por Pablo Neruda, com quem não nos importaríamos nada de trocar dois dedos de prosa, ou poesia. A certeza de ter Isabel Allende como companheira de férias, porém, é de que iríamos para o continente sul-americano e que a autora nos mostraria o verdadeiro coração deste lugar, pulsante de história comum, com a Amazónia como centro nevrálgico e tanto mundo prestes a ser desbravado. VER MAIS »