Vida Oculta
de Pedro Mexia
Sobre
o LivroOs Meus Demónios
Os meus demónios
tratam-me pelo nome.
Os meus demónios
são legiões e não desertam.
Os meus demónios
obedecem a todas as ordens
e a nenhuma vontade.
Os meus demónios
começaram por ser meus
por afinidade e agora
são parentes de sangue.
Os meus demónios
é que escrevem os poemas
Todavia, em Vida Oculta não existem só estes 'demónios poéticos', vai com eles o antídoto, a teia libertadora:
A teia que Penélope
com astúcia
fazia e desfazia
era a esperança. (p.55)
Acima da deploração, existem, pois outros caminhos. Os dois últimos livros são fruto de um mal-estar evidente. Mas nem todo o real é comiserativo ou grotesco. Atente-se na desperta atenção que se concebe, no último livro, aos guindastes, um sóbrio poema que salta por cima da penúria urbana:
Eram manhãs, rompiam do nevoeiro,
atravessando o frio a caminho da faculdade,
quando no fundo, nas alturas das obras,
enormes guindastes abriam os braços. (p. 40) "
António Osório, JL
Este é um livro fundamental no percurso do grande poeta português