O Gesto que Fazemos para Proteger a Cabeça Livro
de Ana Margarida de Carvalho
Sobre
o LivroDois homens caminham. Um chega à terra para matar saudades do mar; outro supera um carreiro íngreme com uma carga de azeitonas. O primeiro vem vergado ao peso da vingança. O segundo ao da sobrevivência. Cruzam-se numa estrada, perdida, no Alentejo, junto à fronteira.
De Espanha chegam os ecos dos fuzilamentos e os foragidos da Guerra Civil. Transaccionam-se mercadorias, homens, mulheres e até bebés. No espaço de um dia, que medeia dois entardeceres, muitas mulheres de cabelos ensarilhados pelo vento hão-de conspirar num velho depósito de água rachado; duas amigas separam-se e unem-se por causa de um homem que se dissolve na lama. Um rapaz alentejano voltado para as coisas da existência é por todos traído, mas não tem vocação para desforras, e perde o falcão, a sua máquina alada de matar…
Duas comunidades antagónicas, que se hostilizam, guerreiam e dependem uma da outra: uma à míngua, entre vendavais e pó; outra prospera, em traficâncias várias, cercada por pântanos, protegida por um tirano local e pela polícia política, abriga todos os rejeitados pela sociedade, malteses, republicanos espanhóis, fugitivos, cuspidores de fogo, ciganos, artistas de circo, evadidas de conventos, bêbados e arruaceiros. As velhas acusações transformam-se, a guerra tem renovados motivos, a raiva escolhe outros métodos. O grito do corpo continua o mesmo, tal como o gesto que fazemos para proteger a cabeça.
Novamente fiquei fascinada com a obra de Ana Margarida de Carvalho. Surpreende-nos em cada página. Que imaginação e que bem escreve!
Há autores que se esgotam numa primeira narrativa fulgurante, há os que vão tropeçando ao longo da sua obra, e há os que organizam a sua escrita numa escalada firme e ascendente. «O Gesto Que Fazemos para Proteger a Cabeça» é um livro bem concebido, bem conseguido e poético.
Um livro surpreendente na sua aparente estranheza, cuja leitura me impôs a aquisição de toda a obra da autora, Excecional
um livro fantástico quer pela qualidade, quer pelo que de fantástico encerra toda a estória. entre a geografia designada e a descrita, a unidade faz-se não pelo retrato mas pela descrição dos humanos actos, que na nomeada se deram. o homem é naturalmente mau. seja qual for a geografia nomeada ou descrita. se dúvidas houvesse aqui se acabam. é muito mau. proteja-se a cabeça deixando-a aberta, entre-se no livro e mergulhe-se no universo recriado por ana margarida de carvalho. no fim da viagem estará a cabeça ainda mais protegida, porque mais sábia e plena. uma obra de quebrar a cabeça ao menos avisado, por isso urge protegê-la e avançar na leitura, porque indispensável. faço o gesto e saúdo a autora para lhe dizer: valeu a pena, parabéns