Limonov
de Emmanuel Carrère
PRÉMIO RENAUDOT 2011
«Mais do que uma biografia, “Limonov” é uma viagem guiada pela nossa História recente, da Europa aos EUA, com estada prolongada na Rússia, esse país desconhecido onde até os bandidos querem ser poetas. Ou será ao contrário?»
Ana Cristina Leonardo, Expresso
Limonov é bem mais que um retrato de um homem inimaginável: é uma história da Rússia dos últimos cinquenta anos. Páginas de antologia sobre o underground intelectual dos anos Brejnev, sobre a vida dos exilados russos em Nova Iorque, sobre o misto de anarquia predadora, de autoritarismo cínico e de resignação que reinam em Moscovo desde há muito.
Bernard Pivot, Le Journal du Dimanche
Limonov é um livro inclassificável, que nos deixa perplexos. E é perturbador. Como devemos considerá-lo? Como um relato? Como um retrato? «Limonov não é uma personagem de ficção», previne Emmanuel Carrère, «ele existe, eu conheço-o.» Entre as mil e uma maneiras de existir, há uma que consiste em escrever histórias. E uma outra, não menos duradoura, que consiste em ser o herói de uma delas.
Yasmina Reza, Le Monde des livres
Propriedade | Descrição |
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ISBN: | 978-972-0-07170-5 |
Editor: | Sextante Editora (chancela) |
Data de Lançamento: | novembro de 2012 |
Idioma: | Português |
Dimensões: | 152 x 236 x 24 mm |
Encadernação: | Capa mole |
Páginas: | 384 |
Tipo de produto: | Livro |
Classificação temática: | Livros em Português > Literatura > Romance |
EAN: | 978972007170510 |
Idade Mínima Recomendada: | Não aplicável |
Retrato do poeta quando quebrado
Flávio Gonçalves
Pela pena de Emmanuel Carrère chega-nos “Limonov” (Sextante Editora, 2012, 384pp., 17,70€), a biografia do polémico poeta, autor e dissidente político russo Eduard Limonov, presidente do heterodoxo Partido Nacional-Bolchevique. Confesso que demorei algum tempo a digerir a leitura deste volume, Emmanuel Carrère não esconde a sua animosidade para com o biografado desde o início da obra, perdi a conta às vezes em que este a meio de um qualquer capítulo afirma mesmo “odiar” Eduard Limonov, “esse fascista”, há que avisar portanto que estamos perante uma obra que estaria o nível de uma hipotética biografia de Oliveira Salazar se escrita por Álvaro Cunhal, está portanto o leitor avisado. Fora este pormenor, há outro que devo confessar: fui outrora correspondente e tradutor de “Limonka”, o jornal oficial do Partido Nacional-Bolchevique e cujo director era Eduard Limonov, isto quando o PNB, há cerca de década e quase meia, era um organismo de âmbito mundial e publicava uma edição digital do jornal em várias línguas, entre elas o português. Com o afastamento de um seu outro dirigente, Aleksandr Dugin, o PNB foi-se apagando da cena internacional e actualmente faz parte de uma ampla “oposição democrática” que elegeu como seu principal inimigo Vladimir Putin, que ironicamente tem aplicado muitas das ideias originais do PNB no exercício dos seus vários governos. Lida a obra, finalizada em 2009, fui, com uma certa curiosidade nostálgica confesso, consultar as várias páginas oficiais do PNB, que não consultava há mais de uma década. Aparentemente a data final da biografia, em que Carrère reuniu com Limonov, parece ter sido também a data em que o PNB passou à não-existência, apagado dentro da falhada coligação Outra Rússia, muitas das suas páginas já não existem, o “Limonka” deixou de ser publicado e a última actualização da sua página oficial data também de 2009. Para aqueles que não estão familiarizados com a etiqueta, o nacional-bolchevismo faz parte daquilo a que Ernesto Milá, intelectual da Nova Direita castelhana, apoda de “exotismo ideológico”, na essência é uma união entre comunismo e fascismo numa síntese que, a nosso ver, só funcionaria na Rússia, nas ex-repúblicas soviéticas e, do outro lado do Atlântico, na América do Sul, embora esta corrente tenha cativado, e ainda cative, militantes nacional-revolucionários em toda a Europa e inclusive nos Estados Unidos e no Canadá. No que ao autor e a muita da imprensa europeia diz respeito, o PNB é “de extrema-direita”, com a típica militância de cabeças rapadas e outras tribos urbanas e gente “estranha”. Sempre ouvi dizer que a melhor coisa a fazer para se acabar de vez com a boa imagem de um opositor ideológico é escrever-lhe a biografia, e assim é com este livro. O volume apresenta um Eduard Limonov muito diferente do carismático poeta que vendeu centenas de milhar dos seus livros em dezenas de edições em todo o mundo, inclusive em Portugal, e que arrasta atrás de si uma vasta militância. Não, o Limonov que aqui encontramos retratado é um louco alcoólico, consumidor de drogas, bissexual provavelmente homossexual, pedófilo, terrorista, racista, xenófobo, apologista do genocídio racial, enfim, todos os lugares comuns possíveis e imaginários quando um antifascista militante, como Emmanuel Carrère, decide escrever a biografia de alguém que considera como fascista e digno do seu ódio e do seu nojo, aliás vastas vezes recordados ao longo do livro. É melhor ler-se como um mau romance, não vale o papel onde foi impresso.