Confissões
de Santo Agostinho
Sobre
o LivroTradução e notas de Arnaldo do Espirito Santo, João Beato e Maria Cristina de Castro-Maia de Sousa Pimentel-Introdução de Manuel Barbosa da Costa Freitas - Notas de âmbito filosófico de Manuel Barbosa da Costa Freitas e José Maria Silva Rosa - Ed.bilingue
As confissões de Santo Agostinho, no dizer de Eduardo Lourenço, são obra mítica da Cultura Ocidental. Na verdade, se por mítica se entende aquela obra que ao dizer e confessar está, simultaneamente, a criar uma obra de demanda originária que enraíza matricialmente uma mundividência e sobre a qual exerce um fascínio quase inexplicável, então a história da recepção e da tradução das Confissões torna pertinente tal designação. É inegável que, se o género confessional não foi inaugurado por Santo Agostinho, foi ele quem, com as Confissões, mais divulgou a literatura de viagens interiores, de autobiografia íntima, de ascenso às moradas e aos palácios da memória que marcou, profundamente, a nossa espiritualidade e contribuiu para um processo de elaboração da nossa consciência. A liberdade, a amizade, a procura, o encontro, a alegria, o louvor; as emoções, os sentimentos, a razão, a fé; a criação, o tempo, a memória, a eternidade; o mal, o pecado, o erro, a culpa, a ilusão e a desilusão: eis a experiência de um homem de carne e osso que, em toda a sua riqueza e complexidade, converge para as Confissões, e que releituras sucessivas de certo modo universalizaram e concretizaram. Reler as Confissões é ampliar, com o nosso, o seu testemunho. É esta a leitura apropriada, pois o pensamento augustiniano, mormente nas Confissões, reverte o tempo crónico - esse devorador dos seus próprios filhos - pela remissão para uma ordem sincrónica que pode ser, nesta hora, uma vitória sobre o desespero e o terror do tempo. É, por isso, um pensamento aberto ao possível e, talvez, ao impossível. E isto é o que mais importa pensar.