Céu em Fogo

de Mário de Sá-Carneiro

editor: Relógio D'Água, abril de 1998
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«Oscilando entre a angústia da fugacidade do tempo e a tragédia da repetição, as personagens de Céu em Fogo abismam-se fatalmente no tédio e, numa luta penosa — que é também um confronto fascinado com a morte —, tentam inventar maneiras de o vencer. É esta a tarefa fantástica que vai empreender o Fixador de Instantes. Tomado por um "tédio mortal"no momento em que constata a inevitabilidade da sua morte, acaba por realizar no crime a sua obsessão de posse total. Também na novela "A Grande Sombra", que diríamos o diário de um psicopata dos tempos modernos, o protagonista renasce "outra vida" após o assassínio violento de uma rapariga que acaba de conhecer, com quem se envolve sexualmente. Este crime acorda-o da sonolência monótona em que vivia até aí, e tem o efeito imediato de "parar os instantes", de suspender o tempo, e, paralelamente, eliminar a angústia da morte que o vinha deprimindo. O suicídio final, para o qual se encaminha em euforia louca, está para além do remorso: é o culminar triunfal da sua busca do mistério e do desconhecido. O crime e o suicídio, tão presentes nestas novelas, são as duas faces da mesma moeda, aquela com que ilusoriamente se quer pagar o preço da modernidade, na sua paixão pelo Novo: a morte é a única região inexplorada, não há novidade senão na morte. Para estes heróis de tragédia moderna, o suicídio não é um puro acto de desespero, mas a única forma de heroísmo, a última procura que vale a pena — um acto estético, ou uma deserção.» - Do Prefácio de Maria Antónia Oliveira

Céu em Fogo

de Mário de Sá-Carneiro

Propriedade Descrição
ISBN: 9789727085125
Editor: Relógio D'Água
Data de Lançamento: abril de 1998
Idioma: Português
Dimensões: 138 x 209 x 18 mm
Páginas: 294
Tipo de produto: Livro
Classificação temática: Livros em Português > Literatura > Poesia
EAN: 9789727085125
Idade Mínima Recomendada: Não aplicável
Mário de Sá-Carneiro

Poeta e ficcionista, com Fernando Pessoa e Almada Negreiros, Mário de Sá-Carneiro constitui um dos principais representantes do Modernismo português. Partindo para Paris, em 1912, para cursar Direito, estudos que abandonaria pouco depois, a figura de Mário de Sá-Carneiro assume uma importância basilar para a compreensão do modo como o Modernismo português se foi formando com caracteres próprios na recepção das correntes de vanguarda europeias, processo de que a correspondência que estabeleceu com Fernando Pessoa dá um testemunho documental precioso e que culminaria com a publicação de Orpheu, em 1915. Os poemas que edita no primeiro número de Orpheu, destinados a Indícios de Oiro, são, a este título, significativos da sua adesão às estéticas paúlica e sensacionista, que na correspondência entre os dois grandes poetas fora gerada, glosando, então, em moldes muito devedores do simbolismo-decandentismo, a abjecção de um eu em conflito com um outro, reverso da sua frustração e insatisfação ("Eu não sou eu nem o outro, / Sou qualquer coisa de intermédio: / Pilar da ponte de tédio / Que vai de mim para o Outro", "7"), ao mesmo tempo que a publicação de "Manucure", no segundo número de Orpheu , revela uma incursão por uma forma poética mais próxima da escrita da vanguarda futurista, no que contém de autonomização do significante. Já antes de Orpheu, a colaboração de Mário de Sá-Carneiro na revista Renascença (1914) - onde Fernando Pessoa publica Impressões de Crepúsculo -, com a publicação de Além (apresentado como uma tradução portuguesa de certo Petrus Ivanovitch Zagoriansky), instituíra a sua experiência poética na charneira entre a herança simbolista e as tentativas paúlicas e interseccionistas. Mário de Sá-Carneiro constitui ainda um paradigma da prosa modernista portuguesa pela publicação das narrativas Céu em Fogo e A Confissão de Lúcio, construídas frequentemente a partir do estranhamento de um narrador insolitamente introduzido em situações onde o erotismo, o onirismo, o fantástico, se associam aos temas obsessivos do desdobramento e autodestruição do eu. O seu suicídio, com 26 anos, parecendo vir selar aquele sentimento de inadaptação à vida, de permanente incompletude, de narcísico auto-aviltamento e, sobretudo, de consciência dolorosa da irremediável cisão do eu, consubstanciada na dramática tensão entre um eu, vil e prosaico, e um outro, seu duplo ideal, que alimentaram tematicamente a obra, nimbou-o para a posteridade de uma aura de poeta maldito, que deixaria um forte ascendente sobre a poesia contemporânea de gerações posteriores à sua. Com efeito, a mensagem poética do autor de Indícios de Oiro ecoa postumamente na literatura presencista da geração de 50 e até surrealista, passando por nomes absolutamente diversos como Sebastião da Gama, Mário de Cesariny ou Alexandre O'Neill, entre muitos outros.

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