Filhos da Chuva: as referências de um primeiro romance
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@literacidades
13 de março de 2024
Para escrever, é preciso ler muito. Procurar a nossa voz nos livros, encontrar referências, contactar com diferentes estilos. Um fator decisivo para que a página em branco não seja um bloqueio. Depois, entre todos, há os livros que inspiram. Proponho-vos que conheçam alguns livros cuja leitura foi determinante no processo de criação de Filhos da Chuva.
Filhos da Chuva
«Um romance em que a culpa e a obsessão andam de mãos dadas com o acaso e a coragem.»
Antes, porém, falemos deste que é o meu primeiro romance. O primeiro que publiquei, pois há outros que estão na gaveta… e por lá devem permanecer. Para se chegar àquele momento em que consideramos ter uma obra merecedora de ser publicada, há que escrever muito antes. Bater muita tecla, passar muitas horas diante do computador. E depois, se assim o entendermos, deitar fora tudo isso. Escrevo desde os 12 anos e perdidos nas caixas da cave da casa da minha mãe estão o início de um conto sobre a mulher de D. Pedro I, um policial passado no Burundi, uma saga familiar com mais de mil páginas, um romance epistolar, uma novela dedicada a uma grande paixão e muitos poemas. Mas nada disto merece ver a luz do dia. Escrevi estes textos com todo o meu coração. Mas faltava-me vida e, sobretudo, faltava-me leitura. E isso refletia-se na escrita.
Filhos da Chuva é um romance que se passa num Território imaginado, em que existe uma terra, Domínio, onde não para de chover há muito tempo. Tanto que, por isso, e pelo facto de a luz rarear, o próprio tempo parou numa hora que todos acordaram, as cinco da tarde. É neste Território que se movem as personagens, identificadas pela sua função no enredo: Mãe, Filho, Mulher, Dono, Ministro, entre outros homens e mulheres que nos guiam através de uma trama e de uma terra que são, também, personagens principais. Procurei criar momentos de tensão, alguns até – diria – sufocantes, mas também de humor e de uma certa leveza possível. Vi as pessoas deste livro ganharem vida por si e tantas vezes me admirei com o facto de serem elas, a maior parte das vezes, a orientarem o seu rumo numa história onde temas fortes, como a maternidade ou a culpa, acabam por desempenhar papéis principais.
Mas nada disto seria possível sem ter lido livros que me inspiraram. Com este elenco de obras-mestras, não quero ter a veleidade da comparação. Pelo contrário, enumero alguns dos livros que me vêm construindo enquanto autor.
QUERO LER! »
Antes, porém, falemos deste que é o meu primeiro romance. O primeiro que publiquei, pois há outros que estão na gaveta… e por lá devem permanecer. Para se chegar àquele momento em que consideramos ter uma obra merecedora de ser publicada, há que escrever muito antes. Bater muita tecla, passar muitas horas diante do computador. E depois, se assim o entendermos, deitar fora tudo isso. Escrevo desde os 12 anos e perdidos nas caixas da cave da casa da minha mãe estão o início de um conto sobre a mulher de D. Pedro I, um policial passado no Burundi, uma saga familiar com mais de mil páginas, um romance epistolar, uma novela dedicada a uma grande paixão e muitos poemas. Mas nada disto merece ver a luz do dia. Escrevi estes textos com todo o meu coração. Mas faltava-me vida e, sobretudo, faltava-me leitura. E isso refletia-se na escrita.
Filhos da Chuva é um romance que se passa num Território imaginado, em que existe uma terra, Domínio, onde não para de chover há muito tempo. Tanto que, por isso, e pelo facto de a luz rarear, o próprio tempo parou numa hora que todos acordaram, as cinco da tarde. É neste Território que se movem as personagens, identificadas pela sua função no enredo: Mãe, Filho, Mulher, Dono, Ministro, entre outros homens e mulheres que nos guiam através de uma trama e de uma terra que são, também, personagens principais. Procurei criar momentos de tensão, alguns até – diria – sufocantes, mas também de humor e de uma certa leveza possível. Vi as pessoas deste livro ganharem vida por si e tantas vezes me admirei com o facto de serem elas, a maior parte das vezes, a orientarem o seu rumo numa história onde temas fortes, como a maternidade ou a culpa, acabam por desempenhar papéis principais.
Mas nada disto seria possível sem ter lido livros que me inspiraram. Com este elenco de obras-mestras, não quero ter a veleidade da comparação. Pelo contrário, enumero alguns dos livros que me vêm construindo enquanto autor.
Uma Casa na Escuridão
Foi sobretudo na ideia de que o Mal, esse, com maiúscula, pode chegar a qualquer momento e desencadear mudanças absurdas nas vidas das pessoas, que encontrei referências que me interessavam para o meu romance. Peixoto escreveu um livro a que regresso muitas vezes para recentrar esse fino equilíbrio entre a tranquilidade e o horror. Um horror pleno que não encontramos em Domínio, mas que, em determinados momentos da narrativa, lhe serve de redoma.
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O Pecado de Porto Negro
Não é fácil criarmos um mundo de raiz. Até onde temos de ir para que se torne coeso? Norberto Morais fá-lo com uma mestria irrepreensível, não apenas neste livro, como também em A Balada do Medo. É bem possível pensar que o Território de Filhos da Chuva poderia estar no mesmo mundo desta América Latina de Norberto Morais, ainda que, provavelmente, em tempos históricos diferentes.
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Para onde vão os guarda-chuvas
A delicadeza das relações entre os filhos e os pais é um tema que sobressai nesta autêntica obra-prima. Aquele fino estalar de entendimento entre um filho e um pai, a confusão a que podem conduzir diferentes condutas perante uma criança e perante a memória de outras pessoas que, ainda assim, podem ou não ser reais. Talvez entre Amor e o seu suposto pai, de Filhos da Chuva, existam memórias imaginadas cuja origem tenha ido beber a um dos mais impactantes romances da literatura portuguesa.
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Ensaio sobre a Cegueira
A questão do narrador, nesta e noutras obras de Saramago, é algo que me interessa muito. Encaro-o como um narrador presente, ainda que por vezes não tão diretamente, mas ao ler o autor tenho sempre a impressão de que é alguém que me conta uma história, que me conduz através de um enredo. Este narrador não nos conta tudo, mas há sempre a ideia de que pode ter com ele toda a informação e dosear a forma como a entrega ao leitor.
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A Casa dos Espíritos
O realismo mágico nunca pode servir de remate de uma situação para a qual o autor não tem solução. Esse deus ex machina, na minha opinião, assassina qualquer livro. Allende, neste livro, entrega-nos elementos de realismo mágico postos numa história que retrata um país não nomeado, mas com factos históricos que nos aportam no Chile. Não usa nunca esses elementos como desenlace ou resolução e, penso, esse é um grande ensinamento a autores que se queiram mover dentro desse território da criatividade.
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