Entrevista exclusiva a Ana Huang

Por Vera Dantas
Ana Huang, a jovem escritora bestseller de romances Young Adult, vai estar por estes dias em Lisboa a promover o seu livro Twisted Games e nós fomos falar com ela.

Em entrevista exclusiva ao Wookacontece, Huang revela o momento-chave em que decidiu tornar-se escritora profissional, confessa que a escrita continua a ser um desafio (no bom sentido) e que as histórias de amores proibidos são as que mais fundo lhe tocam no coração.

Imparável e cheia de sonhos, não afasta a possibilidade de se aventurar nos romances de fantasia e, ainda esta ano, faz planos de abrir uma loja de merchandising. Afinal, as séries Twisted, Kings of Sin e If Love já conquistaram uma legião de fãs a nível internacional.


Conheça já o lado mais pessoal de Ana Huang nesta entrevista exclusiva!
Ana Huang
Ana Huang
 
 
«O romance é fundamentalmente um género sobre o desenvolvimento de personagens, por isso é importante dominar esse aspeto.»
Houve um momento decisivo em que decidiu que se tornaria uma escritora a tempo inteiro?
Tornar-me escritora a tempo inteiro tinha sido o meu objetivo desde que publiquei o meu primeiro romance adulto em 2020. Na altura, parecia um sonho distante, mas comecei a considerá-lo seriamente quando os direitos de autor do meu livro excederam os rendimentos do meu trabalho diário em 2021. No entanto, o meu maior momento decisivo foi quando tive um encontro muito frustrante com um colega de trabalho logo após o Ano Novo de 2022. Já tinha querido deixar o meu emprego, mas esse encontro foi a palha proverbial que partiu as costas do camelo. Passei a trabalhar a tempo inteiro alguns meses mais tarde e desde então não voltei a olhar para trás!


É mais feliz agora do que quando não era escritora profissional? E o que a faz mais feliz na vida, para além de escrever?
Decididamente. Claro que há prós e contras em ser uma escritora profissional, porque há uma certa pressão que advém de transformar a escrita num meio de vida, em contraste com um passatempo. No entanto, sempre preferi trabalhar por conta própria e ter controlo sobre o meu tempo e energia. Além de escrever, viajar e passar tempo com amigos e família são o que me torna mais feliz, e agora que não sou obrigada a um trabalho de escritório, posso fazer mais de ambos.


 
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Twisted Games, o segundo livro da série Twisted a ser lançado em Portugal
Tem uma rotina de escrita? (Um número mínimo de horas por dia; num local calmo ou em locais como cafés ou mesmo em viagem?)
A minha rotina está sempre a mudar. Às vezes, gosto de escrever em cafés; outras vezes, preciso da paz e do sossego da minha casa. Mas não importa onde estou, preciso de uma bebida quente na mão e música da aplicação Brain.fm, que me ajuda a concentrar. Também tento meditar durante cinco minutos antes de escrever. Não tenho um número mínimo de horas por dia; simplesmente escrevo até estar mentalmente esgotada.

E quanto ao seu processo e estilo de escrita? Planeia sempre os seus enredos com antecedência e mantém-se fiel a esse plano? Constrói personagens antecipadamente ou elas desenvolvem-se com a própria história? Para organização, utiliza aplicações como a Scrivener?
Para ser sincera, o meu processo de escrita é bastante caótico e muda com cada livro! Começo sempre com o trabalho das personagens antes de passar para o enredo. O romance é fundamentalmente um género sobre o desenvolvimento de personagens, por isso penso que dominar esse aspeto é importante (ao passo que o enredo pode ser mais importante em géneros como os thrillers de crime).
Esboço os meus livros previamente, mas nunca me prendo totalmente ao esboço. Normalmente, eles desviam-se a meio da história, de todas as vezes. Tenho um grande editor de desenvolvimento, com quem trabalho de perto antes e durante o meu processo de redação. Juntos, fazemos um brainstorming de ideias, desenvolvemos de forma mais elaborada as cenas, entre outros aspetos. Depois de ter um primeiro rascunho, envio-o aos meus leitores alfa, que leem a versão não polida em pedaços de quatro a cinco capítulos. Depois, quando tenho um rascunho completo e mais polido, envio-o aos meus leitores beta, depois ao meu editor e revisor de textos para os toques finais. E, sim, escrevo em Scrivener.

Disse uma vez que escrever um livro para si era «extremamente divertido, frustrante ao ponto de arrancar cabelos, e que valia completamente a pena». Ainda se sente assim ou o seu processo de escrita tornou-se mais fácil? Trabalhar com uma editora, com prazos, torna-a mais disciplinada?
Haha sim, continuo a sentir-me assim. O processo de escrita nunca é fácil, mas estou a aprender a trabalhar com ele, em vez de contra ele. Percebi que sou do tipo que trabalha melhor sob pressão, o que não é o ideal para o meu horário de sono, mas trouxe-me até aqui! Sempre tive prazos desde que estabeleci pré-encomendas para cada livro, mas os prazos dos editores são muito mais apertados do que os prazos dos independentes. Tenho de lhes enviar o manuscrito meses antes do lançamento. É um processo de aprendizagem, mas eu estou a chegar lá!
 
«O processo de escrita nunca é fácil, mas estou a aprender a trabalhar com ele, em vez de contra ele.»


Procura sempre inspiração para as suas histórias e personagens na sua própria experiência de vida? Por exemplo, quando escreveu o seu primeiro livro, foi também inspirado numa situação que viveu ou testemunhou?
Por vezes salpico pedaços de experiências vividas nas minhas histórias, mas na maioria das vezes as cenas resultam de eu pensar «e se isto acontecesse», e não «isto realmente aconteceu». Contudo, coloco muitas cenas de viagens que são inspiradas pelas minhas viagens da vida real!


Ganhou visibilidade pela primeira vez através do Tiktok. De que forma é que as redes sociais ainda lhe permitem manter uma relação mais estreita com os seus leitores?
Sou muito ativa nas redes sociais, e adoro que me permitam falar diretamente com os leitores. Há alguns com os quais me comunico online e que reconheço nas sessões de assinaturas de livros, mesmo que nunca os tenha conhecido pessoalmente, porque já interagimos tanto online. Não há nenhuma restrição dos editores ou outros terceiros, e isso realmente permite-me formar uma relação mais próxima com os meus leitores. O lado negativo é que pode tornar-se esmagador porque há tantos comentários e mensagens, mas estou lentamente a aprender a gerir melhor o meu tempo.


Sabe se já inspirou alguém a tornar-se escritor?
Ainda não sei se já publicaram, mas recebi mensagens de leitores dizendo que os inspirei a tornarem-se escritores, o que adoro ouvir!


No século XIX era comum que escritores importantes escrevessem romances em capítulos de jornais e os adaptassem ao gosto e à reação dos leitores (Charles Dickens fez isso).
Tendo originalmente lançado o seu primeiro livro como uma série, com um novo capítulo a cada poucos dias, adaptou o desenvolvimento da história ao feedback do seu público? Recebeu pedidos para o que poderia ser o final?

Quando escrevi a minha primeira série, If Love, não planeei os meus livros antecipadamente. Descobri cada história enquanto a escrevia, por isso houve alturas em que fui semi-influenciada pelo feedback dos leitores (por exemplo, acrescentando mais ação se achassem que os últimos capítulos eram demasiado lentos, ou dando o meu próprio jeito a algumas das suas sugestões para cenas). Mas, na maior parte das vezes, escrevi a história como queria porque, no final, tem de ser fiel à minha visão para as personagens.


O seu género tem sido o do romance adulto e contemporâneo, principalmente com os temas «grumpy-sunshine» e «enemies-to-lovers», e em séries. Quer explorar outros géneros, como o da fantasia?
Sim, gostaria de explorar um dia a fantasia, especificamente o romance de fantasia. Não tenho a certeza de quando irá acontecer, mas está na minha lista de desejos enquanto escritora!

Ter-se tornado uma bestseller mudou a forma como se vê enquanto escritora? Está mais confiante agora?
É uma faca de dois gumes. Adoro poder discutir as minhas histórias e personagens com tanta gente, mas há muito mais pressão, que vem com cada lançamento de livro agora. As expectativas das pessoas podem ser muito altas! Felizmente, construí uma equipa fantástica com a qual posso contar para receber uma opinião honesta. O meu objetivo é melhorar com cada livro, e eles ajudam-me a conseguir isso.


Como reage às críticas negativas?
Depende do dia e do estado de espírito, mas geralmente sou bastante boa a lidar com críticas. Contudo, há uma diferença entre a crítica construtiva e os trolls. A última, ignoro; com a primeira, aprendo, porque é importante crescer como escritora. Se recebermos sempre feedback 100% positivo, não podemos crescer. Leio as críticas dos meus revisores, mas não procuro críticas após o dia do lançamento e só interajo com aquelas nas quais fazem diretamente tag ao meu nome. Penso que as críticas são para outros leitores e não para os autores. Dito isto, por favor não façam tags aos autores em críticas negativas! Sim, isso acontece, e é má etiqueta.


Quais são os seus escritores favoritos e porquê?
Eu tenho tantos! Penso que Nalini Singh é uma mestre da construção de mundos; a sua série Psy-Changeling é uma das minhas preferidas. Helen Hoang escreve grandes romances contemporâneos com representação asiática, e Freida McFadden é a minha porta de entrada para os thrillers psicológicos viciantes.
 
«Se recebermos sempre feedback 100% positivo, não podemos crescer.»


Existem propostas para adaptar algum dos seus romances ou séries aos ecrãs?
Não posso adiantar muito mais para além de que ainda não há nada confirmado. Esperemos que um dia!


Já está a trabalhar num novo romance? Pode revelar algum detalhe?
Neste momento estou a trabalhar no King of Pride, o segundo livro da minha série Kings of Sin. É uma série bilionária de temas autónomos interligados em torno dos sete pecados mortais. Ainda não revelei a sinopse ou o tema do King of Pride, mas o casal Kai e Isabel fez aparições no livro um, King of Wrath. A sua situação é claramente a de opostos que se atraem, e estou muito entusiasmada para que os leitores os conheçam quando o livro for lançado a 27 de abril.


Além de escrever, tem outros projetos futuros que gostaria de realizar?
Neste momento, estou concentrada principalmente na escrita, mas planeio lançar uma loja de merchandising em algum momento deste ano, por isso fiquem atentos!


Todos esperamos que Twisted Games seja um sucesso de vendas em Portugal. Como descreveria este livro aos seus leitores Wook? O que o faz sobressair na série Twisted?
Obrigada! Estou muito grata por todo o amor que os leitores portugueses têm demonstrado pela série e pelo apoio da minha incrível editora. Twisted Games é um favorito dos fãs, e eu digo sempre que é como um Diário da Princesa 2 picante, se o romance fosse entre a princesa e o seu guarda-costas. De todos os quatro livros, é o menos dark, mas foi o que mais me emocionou enquanto o escrevia. Há algo num romance proibido que me toca fundo no coração, uma e outra vez. O romance de Rhys e Bridget demora mais a florescer, mas quando isso acontece, é suficientemente forte para enfrentar um país – literalmente.

Que mensagem especial gostaria de deixar aos seus leitores e fãs em Portugal?
Aos meus leitores portugueses: Eu adoro-vos e sou-vos tão reconhecida! Estou entusiasmada que continuem a [explorar a] série Twisted e espero que se apaixonem por Rhys e Bridget como eu me apaixonei. Adorei Lisboa da primeira vez que a visitei em 2018 e mal posso esperar por voltar e conhecer alguns de vós pessoalmente. Abraços gigantes para todos!

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