Uma Vaca a Arrotar Metano
SINOPSE
Antónia marca umas férias de quatro dias na balsâmica e hipnótica ilha de São Miguel. Com verdadeiras intenções de fazer a ponta de um corno, que se traduz em fugir ao seu nível de alta intensidade, despoluir-se dos oito homens e uma metade que mete na cama, vê-se sozinha com a sua cabeça bomba-relógio, sem conseguir livrar-se do castigo que a assombra: a superstição. Problema que a obriga às situações mais hilariantes, e que se vem agudizando desde que conheceu Maria de Jesus, mulher a quem paga para ser sua amiga, depois de contratada por ser versada em artes ocultas.
A questão que se coloca é: não será tudo isto uma máscara a encobrir coisas que volta e meia atingem como balas quem está vivo?
Um romance selvagem e insólito que não pede licença. A autora escreve com uma faca na mão, abre feridas e cospe-as com vernáculos, faz-nos rir em voz alta mas deixa-nos um inevitável gosto a sangue, que muito podia ser nosso.
Tudo aqui é enfermo e genial.
EXCERTOS
«Oh, veio-me uma vontade doida de snifar e lamber os estofos como uma cadela. Dei-me ao desejo naturalmente. Comecei a lambê-los de forma sôfrega. Desde pequena que tenho uma necessidade visceral de sentir o paladar das histórias. Nisto dei conta de uma velha à coca, vestida de preto, com o tempo todo nos olhos e enxada na mão, a lançar-me uma vontade de morte, como se eu fosse a tradução perfeita do horror do mundo: ali, de língua colada à humilhação e de vidro aberto para a rua como se não tivesse vergonha. Dei-lhe tempo (apesar dela já ter o tempo todo nas miras), e deixei que as suas frases me perfurassem por cada dois raios vermelhos que lhe perfuravam também o branco dos olhos. Ont andást nus cops, puúta! Aeé puúta, tenh aqui terren pa tuú cavá inté fazês câll. Aeé puúta, vá pá tuúa térra, puúta! A velha tinha cara de réptil e voz de abutre. Subiu-me um arrepio gelado. O que é que ela estava para ali a dizer? Seria iorubá? Sacudi-me e arranquei, sem perceber porque fiquei inerte, a receber pragas como quem recebe parabéns.»
DETALHES
Propriedade | Descrição |
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ISBN: | 9789893505038 |
Editor: | Visgarolho Editora |
Data de Lançamento: | maio de 2024 |
Idioma: | Português |
Dimensões: | 153 x 244 x 9 mm |
Encadernação: | Capa mole |
Tipo de produto: | Livro |
Classificação temática: | Livros em Português > Literatura > Romance |
EAN: | 9789893505038 |
OPINIÃO DOS LEITORES
fenomenal
Beatriz Rito
Comprei este livro num momento de impulsividade... precisava de ler coisa diferentes, que me agarrassem e cativavassem. Talvez pela ousadia e originalidade do título tenha escolhido este livro. E que bela surpresa que foi! Uma escrita discursiva, impulsiva mas bem construída; como se nos falasse. Os apartes da autora durante a narrativa tal qual como se estivessemos no teatro a assistir a uma peça. Fiquei absolutamente fã. Lê-se num ápice, recomendo muito!!
Uma obra prima
Ricardo Paiva
Cada vez que lemos algo de uma mente mais poderosa que a nossa ao ponto de nos fazer viajar pelas barreiras do espaço e do tempo é uma bênção e um privilégio maravilhoso. Ficámos instintivamente melhores especialmente se o livro nos faz pensar em algo fora da nossa minúscula caixa e nos acrescenta algo. A sorte que cada um tem em entrar num portal mágico e se identificar em algum ponto ou melhorar em outros é o melhor que podemos almejar desta viagem. Dizem que o livro não é para todos! A minha humilde opinião diverge. É um livro que todos deveriam ler. Sejam leitores dentro ou fora do politicamente correto ou do que é considerado correto. Quem sabe o caminho após esta obra de arte pode moldar cada um de vocês. Portanto tentem. O peso de cada palavra existe e carrega múltiplos significados para quem as lê. As significados mudam como o tempo como se tivessem vida própria. Na verdade a cada leitura das mesmas palavras como o passar do tempo já as envelheceu elas já ganham nova vida. Novos atributos e qualidades. Dessa forma temos uma nova viagem a cada capítulo. A profundidade de cada palavra e até onde elas conseguem ir é de uma genialidade que já é característico da autora. Portanto é para todos sim. Seria uma falta de respeito para com a Dona Antónia se não fizesse parte das nossas vidas durante algum tempo. Ler com prazer e fazer durar aquilo que é a nossa refeição preferida tendo toda a fome do Mundo não é fácil mas necessário para conseguir usufruir daquilo que certamente foi um trabalho de meses ou quem sabe anos. Seria pecado o consumir num dia e não obter cada gota do seu precioso nectar. Não irei dar spoiler pois muito já se falou no livro e no início eu gostava de saber menos da história e ser ainda mais surpreendido. Nas as notas da autora...bem não sou escritor...e não tenho palavras para descrever...mas é qualquer coisa que ainda não consigo expressar. Apenas leiam com a mente aberta nesta viagem a São Miguel. Com uma mulher que coexiste com problemas reais do dia a dia (quase todos da sua própria mente) em que através da sua aventura faz-nos pensar na nossa própria existência...foi o livro que mais sorri...ri...mas mais do que qualquer coisa usufrui...fez-me pensar...e fez-me viajar! Obrigado por mais uma maravilhosa experiência e como sempre ansioso pelo próximo...
Romance GENIAL, REVOLUCIONÁRIO e INÉDITO.
S.M. Rocha
"UMA VACA A ARROTAR METANO", consumiu-o de um trago, desobedeci convictamente e não me arrependo. Li os três livros da Autora Gabriela Relvas e a sua genialidade, originalidade e ousadia captam sempre a minha melhor atenção. As notas em cabeçalho precisam também desta Autora (leia para perceber). Gostei muito deste Romance, surpreendeu-me positivamente a forma como a Autora se "intromete" (não digo mais para não dar "spoiler"). Ao longo da leitura os cinco sentidos são ativados e mergulhamos em múltiplas emoções, leves e viscerais. Defino este romance em 3 palavras: GENIAL, REVOLUCIONÁRIO e INÉDITO.
Surpreendente!
Miguel Frazão
A narradora utiliza uma voz pessoal e direta para entrar diretamente e sem subterfúgios nos pensamentos e sentimentos da personagem. As reflexões constantes sobre o envelhecimento, a maturidade e a sensação de ser jovem novamente garantem uma identificação com o leitor de qualquer idade. O conflito interno que a leva a expressar subtilmente um desejo de morrer mostra uma vulnerabilidade por trás da sua atitude ousada e atrevida que acrescenta muita profundidade à personagem. Utiliza imagens sensoriais para transmitir as sensações da narradora, como o cheiro a pasto, a descrição das carnes do seu corpo e a sua relação com o ambiente dos Açores. Todas estas imagens contribuem para criar uma atmosfera rica e envolvente. A par das descrições vívidas que usa para pintar cenários ricos e cativantes onde a protagonista se encontra, seja num mar de cores variadas ou numa casa imperfeitamente curiosa. A sensação de isolamento que experimenta em relação aos outros, apesar de viver rodeada de gente, oferece uma camada especial às reflexões e dilemas da protagonista sempre num tom irreverente e cheio de tensão sexual… é uma narrativa repleta de camadas que pede mais que uma leitura para absorver todos os detalhes.