Tempos de Fúria Livro
Memórias do massacre de Homoíne, 18 de Julho de 1987
de Hassane Armando
Sobre
o LivroQuando chegou a hora, por volta das 5h00, ouvimos o primeiro tiro que nos despertou do sono, [ . . . ]. O papá sossegou-nos dizendo que se tratava dos homens da patrulha, uma vez que sempre ao recolher da vigia tinham o hábito de disparar. Era o começo. Daí em diante, sucessivos disparos alvejavam, estrondeavam e estremeciam a terra, os seres vivos e os não vivos, naturais e artificiais. [...] O ataque aconteceu num dia com um clima normal. Não havia nuvens nem chuva. A temperatura e a ventania eram normais. Mas o dia ia a tornar-se escuro devido ao fumo das armas. Tudo era iluminado pelas próprias balas disparadas que até se embatiam em busca das pessoas. As árvores, as casas e as próprias pessoas eram derrubadas. Parecia um dia de grandes ciclones." (pp. 49-50).
"Hassane Armando é um daqueles jovens que foi vítima da história do seu próprio país. Viveu uma infância marcada pelos piores traumas que uma criança da sua idade podia passar: grandes incertezas, insegurança generalizada e riscos até da sua própria vida. Mas, nem com isso perdeu a coragem e soube dar sentido a sua vida. Ele soube inverter com sucesso a sua posição de vítima para sujeito da historicidade do seu país.
Tempos de Fúria: Memórias do Massacre de Homoíne, 18 de Julho de 1987, Moçambique é pequeno, mas bastante comovente testemunho de um jovem moçambicano que viveu e sentiu a fúria e a violência da guerra civil moçambicana opondo a Resistência Nacional Moçambicana, hoje (Renamo), e o Governo liderado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), que nos relata, de uma maneira bastante simples e com muita naturalidade, episódios bastante marcantes da história da sua vida, num tom semelhante ao seu próprio carácter."
[Henrique Francisco Litsure (Universidade Pedagógica Sagrada Família da Maxixe, Moçambique), in Prefácio]