O Vento Assobiando nas Gruas
de Lídia Jorge
Sobre
o LivroO Vento Assobiando nas Gruas é um livro ancorado sobre dois mundos - um mundo contemporâneo, envolvido com a transformação acelerada da Terra, movido pelo instinto selvagem de futuro, e um outro mais antigo, onde a história de uma velha fábrica se cruza com a sorte de uma família numerosa, recém-chegada de África.
Dois mundos, à primeira vista irreconciliáveis, e no entanto, a aproximá-los, por obra do acaso, caminha desde a primeira página a figura de Milene Leandro, a rapariga singular, para quem tudo nasce pela primeira vez, e que, na simplicidade do seu juízo, acabará por obrigar os outros à revelação de si mesmos.
Figura central, é precisamente através das mãos de Milene que o leitor entra na primeira página, e é ainda com ela que encerra a última, depois de ter conhecido a suas expensas o caso de um amor, de um crime e de um silêncio para sempre selado.
Por isso mesmo, o seu olhar desprevenido sobre a vida, o bem e o mal, assim como a avaliação que faz deste mundo, constituem a verdadeira matéria orgânica que constrói este livro.
Li este livro a primeira vez quando era ainda estudante, requisitado à biblioteca, e já na altura, inexperiente, o achei soberbo. Marcou-me tanto... Agora, já na idade madura e após tantas mais leituras, esta história densa e tão bem tecida volta a impressionar-me. Os temas são intemporais, até de particular atualidade, e as personagens revelam como a autora conhece profundamente o género humano. Surpreende-me que Lídia Jorge continue num pedestal relativamente discreto do panorama cultural nacional quando é um dos autores maiores da literatura portuguesa. A sua escrita é irrepreensível, a sua sensibilidade tocante, os seus enredos de um engenho simultaneamente distinto e realista. Uma Senhora, ela. Um monumento, o livro.