O País das Ondas à Janela
de Isabel Cristina Pires
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Na Grécia Antiga, os poetas eram os construtores de mitos, concretizados através de lendas que explicavam a origem do universo e da Terra, da tribo e dos heróis, da palavra e da linguagem. Mais do que em qualquer uma das suas obras anteriores, a poesia de Pires aspira a ser mito, porque inscreve a realidade do quotidiano numa matriz humana imutável, feita de anseios, medos, expetativas, reflexões. Os seus versos podiam ter sido escritos há cinco mil anos e seriam compreendidos; daqui a igual período de tempo serão, na mesma, inteligíveis. A sua paisagem, mesmo quando desolada, é habitada e reinterpretada pela poeta; e a poeta ora é atriz, ora espetadora, mas nunca alheia. Porque Pires atingiu uma fase de sabedoria de vida e de técnica artística que lhe permite aceder ao que de mais profundo pode haver: a compreensão (no sentido de englobar e perceber) do ser humano, no locus e na vastidão do tempo. O livro que o leitor tem nas mãos é, pois, o apogeu de uma vocação própria dos grandes artífices da palavra.
João de Mancelos
(do prefácio)
Propriedade | Descrição |
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ISBN: | 9789897030574 |
Editor: | Palimage |
Data de Lançamento: | janeiro de 2013 |
Idioma: | Português |
Dimensões: | 147 x 208 x 5 mm |
Encadernação: | Capa mole |
Páginas: | 96 |
Tipo de produto: | Livro |
Coleção: | Palavra Poema |
Classificação temática: | Livros em Português > Literatura > Poesia |
EAN: | 9789897030574 |
UMA ONDA DE IDEIAS…DE SÍLABAS BEM CUNHADAS…
Ana Parracho Brito
Este livro (2013), como todos os seus livros, é sublime! A poesia de Isabel Cristina Pires existe antes das palavras e extrapola o senso comum. Existem poemas que não são poesia? Claro que não! A poeta trabalha os 4 elementos naturais – Água, Ar, Terra, Fogo – essenciais à vida no planeta – que são matriz dos primórdios da Filosofia inerente ao período pré-socrático, em que é formulada uma explicação racional para o mundo. Alguns dos seus poemas acusam um contexto esotérico e do mesmo modo que os filósofos discordavam entre si, também, as expressões de Pires conduzem a dizer sim à razão ou a serem negacionistas na perspetiva de que as suas palavras se enganam umas às outras em “abismos” que se tornam intransponíveis nos sentidos, porque as experiências sensoriais brotam de raízes diferentes. Pensando, provavelmente, no “relâmpago” – o quinto elemento – tão querido pela tradição pitagórica e aristotélica - a poeta reporta-nos à imperfeição cósmica. Se cada poema é uma estrutura, se a poesia é o conteúdo caracterizado pela plurissignificação, ambiguidade e estranheza – o gelo é diferente da água e esta rega um fogo em que a poeta assuma uma vivência de maga através do poder da palavra que cria beleza – porquanto é uma artífice integradora que utiliza a sucessão silábica, como as ondas do mar, como um “tecido” no qual costura os sentimentos, conceitos, metáforas e enfeitiça a natureza, os homens, os animais, as plantas, o mar (as ondas, preferencialmente). A sua arte poética entra dentro de nós, faz-nos espreitar por uma imensa janela, provoca a lógica instaurada, alivia, carrega, inspira, motiva e emociona, convida à apreciação, solicita uma leitura calma, saboreamos cada palavra, tentando relacioná-la com as nossas experiências pessoais e ler e reler não é algo que se faça com pressa, mas que exige pausa, interpretação e apreciação. Brinca com ritmos, sons, cheiros e exprime uma linguagem criativa que mexe com a nossa sensibilidade e criticidade. Ao longo do seu labor poético, Pires parece que “enuncia” o mito - no princípio era o caos, o vazio primordial, vasto abismo insondável, como um imenso oceano, denso e profundo, onde nada podia existir a não serem as ondas e dessa oca imensidão, de modus inexplicável e incompreensível, emergiram a noite negra e a morte impenetrável. Esses dois entes tenebrosos, no leito infinito do vácuo, produzem o nascimento do Amor, que terá surgido a cintilar dentro de um ovo incandescente e ao tocar no caos, o seu revestimento arrefeceu, e repartiu-se, formando o céu e a terra, um casal que jazia no espaço…E porque há amor para além da morte...só a poesia exprime este sentimento tornando-se imortal. Que haja mais espaço na nossa vida para a poesia e que ela possa estar presente para renovar os valores da sociedade. Gramática de contrariedades, ou não, a poesia é uma disciplina da saúde e faz parte da “nutrição”, porque é uma bula detalhada que responsabiliza o leitor para a urgência de ler e sentir nas entrelinhas. Isabel C. Pires, cuidadora no sentido importante do Humanismo, mostra-se capaz de transformar existências, sabe solucionar conflitos e impasses e deixa o leitor num estado de redenção. O mar, ora calmo ou revoltado desdobra-se em ondas – e como diria Fernand Braudel - o oceano é a longa duração, a onda o tempo médio e a espuma o tempo breve. Sendo verdade que somos “O País das Ondas à Janela”, elas zangam-se de tão belas! A poesia é a mais nobre expressão neurobiológica da harmonia e da estética da linguagem, por isso, recomendo, vivamente, este livro, em suma, todos os livros desta artífice da palavra, também, pintora de excelência!