O Estranho Dever do Cepticismo Livro
de Mário Mesquita
Sobre
o Livro«O céptico, ao contrário do que é voz corrente, não é o que não crê em nada, é antes aquele que pergunta e encontra através da interrogação (...). O céptico dos cafés desfaz de tudo, incluindo da possibilidade de conhecimento, enquanto o céptico filosófico constrói um mundo e o seu processo de demonstração por tentativas costuma ser ao mesmo tempo exigente, subtil e delicado. Ora um dos principais objectivos deste livro consiste em tentar mostrar a complexidade de que se reveste a realidade e a forma como, para além da primeira aparência, novas evidências surgem em torno dos acontecimentos públicos, dos factos históricos e dos seus intérpretes (…).
Outra razão para a sensação de proximidade com os textos provém sem dúvida da própria contemporaneidade dos factos a que alude (…). Mário Mesquita examina-os com uma paixão escondida, uma tenacidade própria dos lutadores intelectuais que cedo se impuseram a si mesmos raramente dizer eu, a não ser em termos de testemunha ou sujeito de pensamento.
(…) Podemos ir de novo ao encontro das imagens da queda do Muro de Berlim, reviver o optimismo dos anos 90 a empurrar as velas enfunadas da Europa de então, reconstituir o arco de triunfo erguido ao modelo da economia de mercado, observar como os Cinco Continentes se transformaram numa pangeia do capitalismo sustentado pela globalização, podemos recordar como o sistema bancário nos proporcionou viver no futuro, ou ainda examinar como no meio de uma espécie de esperança total na virtude do ideal democrático, se popularizou a ideia do fim da história.» — Lídia Jorge, do Prefácio.
O melhor livro de um autor português já publicado até hoje no ano de 2013. Uma profunda e fundamentada viagem ao âmago de alguns dos mais importantes temas da actualidade.
Ainda não completei a leitura do livro. Estou pela página 150. Escrevo especialmente impressionado com o retrato que o autor nos dá de duas personalidades históricas, afastadas no tempo e no seu papel histórico, mas nas quais encontro traços comuns: François Miterrand, o enigmático e fascinante Presidente de França, que de si mesmo dizia que ninguém lhe conhecia "mais do que um terço" E acrescentava que não gostava de pessoas transparentes; e Ernesto Melo Antunes, o anti-herói da revolução. A ambos aproxima o mesmo gosto e empenho pelo trabalho de bastidores, a mesma rejeição pela abusivamente simplista exposição mediática, a mesma preocupação intelectual de ir atá ao fundo das questões, a mesma consciência de que só o veredicto da serenidade da história é que desvendará a importância e o relevo do seu papel nos acontecimentos de que foram protagonistas. François Miterrand dizia que "a principal qualidade de um chefe de Estado não era a coragem mas a indiferença", enquanto proclamava " as virtudes da impopularidade" Melo Antunes não disse( que eu saiba) o equivalente, mas sempre preferiu a complexidade das questões e das resposta à linearidade simplista das respostas de efeito imediato e redutor. Por este dois retratos que o livro nos dá e por muitos outros, acho que o livro em vez do título que ostenta podia trazer outro: A regra da lucidez