Discutindo Autonomia Relativa com Professores Livro
A Indisciplina Como (Contra)Argumentos
de Luiza Cortesão
Sobre
o Livro"Chamada "crise da educação" justifica que, em diferentes perspectivas, se multipliquem trabalhos que têm vindo a ser feitos sobre problemas que se enfrentam neste campo. Vivem-se actualmente tempos perturbados que, assumindo formas mais ou menos violentas, se fazem sentir em muitos países e em diferentes zonas do globo. Esta crise, que tem significativos reflexos também na semi-periferia europeia como Portugal, tem curiosos efeitos nas relações que cada sociedade estabelece com a educação. Os processos educativos, denunciados pelos trabalhos desenvolvidos no quadro das Teorias da Reprodução, como tendo um funcionamento que se articula com a manutenção da sociedade estratificada são, neste contexto de crise social, objecto de uma crítica que, curiosamente, parece ir no sentido contrário. A escola é agora descrita, por alguns, como incapaz de produzir nos alunos as competências necessárias às exigências de um mercado de trabalho e do domínio da(s) tecnologia(s). "
Em 1970, Bourdieu e Passeron, dois conhecidos e influentes sociólogos franceses, publicaram uma importante obra, "La Reproduction. Éléments pour une théorie du système d'enseignement", onde evidenciavam o papel do sistema de ensino na reprodução social, contribuindo a escola, ao contrário de algumas perspectivas optimistas do pós-guerra, para que os filhos permanecessem na mesma classe social dos pais, e para o acentuar das desigualdades. Estes factos vieram a ser amplamente confirmados por toda a investigação posterior, incluindo em Portugal, sendo hoje reconhecido que um dos aspectos determinantes no sucesso escolar é o nível de habilitações dos pais, o que está, em geral, relacionado com o seu nível socioeconómico. Esta é, aliás, uma das explicações (parciais) para a tão mediatizada posição do ensino privado nos resultados dos exames. Mas diversos autores, também desde há bastantes anos (ex.: Stoer & Magalhães), sem porem em causa a tese de fundo de Bourdieu e Passeron, vêm contestando o carácter determinístico dessa reprodução. A ser aceite esse determinismo, a escola estaria de pés e mãos atados e, por mais que fizesse, não deixaria de ser parte dessa engrenagem de promoção das desigualdades. Este é, aliás, um argumento recorrente em escolas e professores que procuram desculpas para a sua passividade na matéria, remetendo para causas exógenas todos os problemas de insucesso dos alunos e a incapacidade de a escola compensar as condições de partida. O que Luiza Cortesão, pessoa com larga experiência e obra na área da Educação, nos vem dizer é que a escola pode mesmo fazer a diferença, que pode ser cómodo, mas não é sério, imputar todos os problemas ao meio, às famílias, às condições de habitação, à pobreza, etc. A escola, dependendo das decisões e orientações dos seus elementos, pode contribuir fortemente para atenuar ou inverter as fragilidades de partida. Se o fará, ou não, dependerá, obviamente, de políticas educativas centrais, mas também das direcções das escolas e dos seus professores. Luiza Cortesão relata e discute, neste trabalho, a investigação realizada em torno da questão da indisciplina e dos procedimentos adoptados pelas escolas neste campo, focando-se, em especial, nos alunos dos crusos CEF. A autora analisa a resposta de professores num escola concreta, a propósito de um processo formativo sobre a temática da indisciplina, e mostra como passos positivos podem ser dados quando se criam oportunidades de reflexão e partilha. Esta experiência poderá, sem dúvida, ser inspiradora para todos e todas que queiram contribuir para a mudança da escola.