Cadernos de Temuco
de Pablo Neruda
Sobre
o LivroEm ano de comemorações do centenário do nascimento do poeta chileno Pablo Neruda, chega-nos a tradução portuguesa (da autoria de Albano Martins) deste seu "primeiro" livro. Como refere o poeta/tradutor: "A descoberta, em anos recentes, dos "Cadernos de Temuco" ou, melhor, de fotocópia do manuscrito dos três cadernos que constituem o presente volume, deve-se aos cuidados de Bernardo Reyes, sobrinho de Pablo Neruda e autor do livro "Neruda, retrato de família, 1904-1920". Os "cadernos" reúnem os poemas, na sua maioria inéditos, escritos por Neruda entre 1919 e 1920, isto é, entre os quinze e os dezassete anos, alguns deles incluídos posteriormente pelo poeta no volume "Crepusculário"." O livro foi originalmente publicado em 1996, por Victor Frias, que assina um prólogo que surge também nesta edição.
Rui Azeredo, O Comércio do Porto
Nasci há dezasseis anos numa poeirenta
aldeia branca e distante que ainda não conheço,
e como isto é um pouco vulgar e puro
irmão errante, passemos à minha juventude.
Creio em muito poucas coisas na vida. A vida
não me entregou tudo o que eu lhe entreguei
e emocional e altivo rio-me da ferida
e a dor está para a minha alma como dois está para três.
Mais nada. Ah, lembro-me de que aos dez anos
desenhei o meu caminho contra todos os danos
que no longo caminho me pudessem vencer.
Ter amado uma mulher e ter escrito
um livro. Não venci porque está manuscrito
o livro e não amei uma, mas cinco ou seis…
Nasci há dezasseis anos numa poeirenta
aldeia branca e distante que ainda não conheço,
e como isto é um pouco vulgar e puro
irmão errante, passemos à minha juventude.
Creio em muito poucas coisas na vida. A vida
não me entregou tudo o que eu lhe entreguei
e emocional e altivo rio-me da ferida
e a dor está para a minha alma como dois está para três.
Mais nada. Ah, lembro-me de que aos dez anos
desenhei o meu caminho contra todos os danos
que no longo caminho me pudessem vencer.
Ter amado uma mulher e ter escrito
um livro. Não venci porque está manuscrito
o livro e não amei uma, mas cinco ou seis…