As Novas Drogas da Geração Rave

Que livro curioso! Os autores afirmam de imediato que existem drogas felizes, favoráveis. Felizes, portanto sem história. É uma ruptura com a tradição. Está entendido: o recurso às drogas revela a procura de um prazer superior ou de uma dor atenuada. Denota a existência de uma expectativa frustrada perante a vida real. Porém, reduzir o uso das drogas às estatísticas dos serviços de urgências e esquadras da polícia, em suma, reduzir as drogas a uma perturbação, depois aos dramas que engendrariam inevitavelmente, significa subestimar o poder próprio da sedução dos estupefacientes. Negar as utilizações puramente recreativas e controladas. Temos mesmo a fraqueza de pensar que estas utilizações leves - tal como se evoca uma doença "benigna" - são maioritárias.

Contudo, nenhuma utilização de droga se faz sem risco e as páginas deste livro não estão isentas de dramas. Por isso, era indispensável a associação de um repórter e de um psiquiatra para contar a "história dos sem-história", um encontrou documentos confidenciais de todos os géneros, remexeu nos arquivos da polícia, nos processos dos serviços hospitalares, decifrou fórmulas químicas, esquadrinhou os recônditos da Internet. O outro, para além do acesso privilegiado ás fontes médicas e académicas de que beneficia, estava em condições de lhe acrescentar o rigor do médico mas, sobretudo, de sondar as almas, as vertigens da ausência de felicidade e dar aos factos brutos a humanidade de que estão desprovidos.

Os autores integraram na sua exposição as experiências de consumidores, porque as drogas representam em primeiro lugar, para além das equações químicas, uma realidade subjectiva, a explorar do interior. Para compreender um produto, é preciso conhecer os seus atractivos. Apresentam-se nesta obra utilizações, culturas que lhes estão associadas, sem pudor nem preconceitos, mas sem serem subscritas. Conservamos no espírito que informação e militância não se dão bem. E, além disso, que a grande maioria das substâncias apresentadas aqui são perigosas, por vezes mortais.