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René Goscinny
Filho de mãe ucraniana e de pai polaco, passou grande parte da sua infância na Argentina, onde chegou com quase dois anos.
Frequentou o Liceu Francês de Buenos Aires, distinguindo-se como bom aluno, colaborando ativamente nos boletins Notre voix e Quartier Latin, onde publicou os seus primeiros textos e desenhos.
Com a súbita morte do pai, no Natal de 1942, a hipótese de ser admitido em Belas-Artes foi posta de parte, começando por trabalhar na publicidade.
Em 1945 partiu para os EUA com a sua mãe, juntando-se a familiares que viviam em Nova Iorque, trabalhando em traduções numa empresa de importações e exportações. Foi em 1948 que se iniciou como assistente num pequeno estúdio de desenho, onde pontificavam nomes que mais tarde se tornarão célebres, como Harvey Kurtzman e outros colegas, que fundarão a revista Mad, em 1952.
Em 1950 conheceu Joseph Gillain (Jijé) e Maurice de Bévere (Morris) que, como ele, tentavam a sua sorte no país de todas as oportunidades. Deste encontro, nascerão vários projetos e a hipótese de tentar a sua sorte na Bélgica e em França.
Regressado à Europa, abandonou a expectativa de vingar nos desenhos, confiando em tirar partido dos seus textos. Acabou por conhecer Albert Uderzo em 1951, em Paris, iniciando-se uma cumplicidade que terá o seu apogeu com a criação de "Astérix", em 1959. Antes disso, colaborou em diversos periódicos, como Moustique e Spirou. Neste último começou a sua longa colaboração com Morris, assegurando os argumentos de Lucky Luke, série criada a solo pelo primeiro, em 1949.
Um conflito pelo reconhecimento dos direitos dos autores acabou por levar a que Goscinny, Uderzo e ainda Jean-Michel Charlier, também argumentista, fundassem a Édipresse/Édifrance, agência especializada na imprensa de comunicação. Aí nasceram publicações de natureza diversa, multiplicando-se as personagens e as colaborações com outros autores.
Em 1955 surgiu Le Petit Nicolas (O Pequeno Nicolau), sob ilustrações de Jean-Jacques Sempé, publicado em Le Moustique, inicialmente como BD, depois em Sud-Ouest e na Pilote, na versão de texto e ilustração. Em 1956 iniciou-se a colaboração na revista Tintin, onde Goscinny pontificou em diferentes séries, destacando-se, no ano seguinte, o aparecimento de Spaghetti (com Dino Attanasio), Modeste e Pompon (com André Franquin) e Oumpah-Pah (Humpá-Pá em Portugal, com Albert Uderzo). Humpá-Pá, o simpático pele vermelha, apareceu em 1958, numa segunda versão, depois de uma experiência sem êxito em 1951.
Goscinny, Uderzo e Charlier lançaram-se numa outra aventura conjunta, ao criarem a revista Pilote, em 1959, que marcou fortemente a BD europeia da década seguinte. Logo no número inaugural surgiu Astérix, a mais célebre das várias criações de Goscinny e de Uderzo que, em poucos anos, se tornou num verdadeiro fenómeno de popularidade e motivo de orgulho para a República Francesa. Pegando num emblemático momento da História de França, a resistência ao invasor romano, e beneficiando de argumentos portentosamente escritos por Goscinny e um registo gráfico que foi sendo aprimorado por Uderzo, a série foi multiplicando o número de títulos e de edições no estrangeiro, sobretudo na Europa, onde a sua popularidade não tem parado de crescer.
Os autores foram impondo um ritmo de dois novos álbuns por ano, cujas tiragens foram batendo sucessivos recordes. No entanto, Goscinny não esmoreceu, as suas outras séries e criações, continuando a trabalhar para vários autores e publicações. Depois de dificuldades iniciais surgidas na Pilote, George Dargaud, importante editor francês, comprou a revista por um preço simbólico. Goscinny e Charlier assumiram a chefia da redação, começando a revista a registar significativos aumentos nas vendas, ao mesmo tempo que novos talentos como Giraud, Mézières, Fred, Gotlib e Reiser foram despontando.
Em Janeiro de 1962 surgiram As Aventuras do Califa Haroun El Poussah, no primeiro número da revista Record, série depois rebatizada como As Aventuras do Grão-Vizir Iznogoud, dada a extraordinária popularidade que o grão-vizir usurpador (Iznogoud) começou a desfrutar. Tudo porque ele "quer ser califa no lugar do califa"!
No início da década de 70, reflexo do Maio de 68, retirou-se da chefia de redação da sua Pilote, contestado pelos autores mais novos, que pretendiam dar outra dinâmica à revista, concentrando-se nas suas múltiplas criações. Fundou nessa época, com Uderzo, o Studio Idéfix, dedicado à realização de desenhos animados das suas séries e a sua própria editora, a Éditions Albert-René.
Faleceu na sua cidade natal, a 5 de novembro de 1977, vítima de uma crise cardíaca, no auge da sua popularidade, trabalhando a um ritmo frenético, com muita energia, criatividade e talento. A sua obra, de tão vasta que é, deu origem ao Dictionnaire Goscinny (Dicionário Goscinny), saído em 2003, volumoso livro em que pontificam todos os seus trabalhos editados em livro/álbum, com os seus autores a considerarem que seria necessário um outro similar referente às histórias que nunca saíram das páginas de jornais e revistas. As dezenas de livros editados com o seu nome, alguns com tiragens de vários milhões de exemplares, tornaram-no no autor francês mais traduzido em todo o Mundo.
A sua esposa Gilberte (entretanto falecida) e a sua filha Anne instituíram o Prémio René Goscinny, que recompensa jovens argumentistas de BD e cuja entrega ocorre, todos os anos, durante o Festival de Angoulême.
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