Surpresas de 2024

Por Álvaro Curia
13 de dezembro de 2024
Seja por recomendação de alguém, por acharmos a capa linda ou simplesmente porque um sexto sentido toma conta de nós, há livros que começamos a ler sem esperar deles tanto quanto no final nos acabam por dar. O ano de 2024 foi repleto de boas surpresas.
Um preto muito português
João nasceu em Portugal e vive em Lisboa. Pode parecer uma frase simples, dessas que se utiliza para ensinar aos estrangeiros elementos sintáticos básicos da nossa gramática. O caso muda de figura, porém, quando se sabe que o João é negro. Segundo o próprio, que narra este livro, a explicação nunca chega. Um negro português tem sempre de ser também de outro lado qualquer, de preferência em África. É um livro muito bem orientado para leitores mais jovens, que lhes vai dar, ou confirmar, uma visão acerca de muito do preconceito ou – vamos usar a expressão correta– racismo, pelo qual os cidadãos portugueses negros passam na sua vida quotidiana. Se eu tivesse um filho adolescente, não hesitaria em oferecer-lhe este livro.
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Como amar uma filha
Para este não fui totalmente às cegas, pois já me tinham falado muito bem dele. Para mim, contudo, excedeu as expectativas. Compreendo que não seja uma história que vá agradar a todas as mães, nem a todas as filhas, talvez porque se possam sentir um pouco expostas. Mas é uma narrativa de uma crueza invulgar, sem espaço para romantização ou condescendência. Acompanhamos uma mãe a contar a história da sua relação com a filha desde o momento que sabe que está grávida até ao tempo presente, onde sabe da filha apenas pelo que investiga na Internet ou espia, oculta. O que aconteceu, entre elas, para que passassem a ser duas estranhas? Sê-lo-ão realmente? Li o livro muito enquanto espectador, pois não sou mãe nem filha de ninguém, mas consigo perceber todas as dimensões que ele acarreta.
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A Amante Holandesa
Nunca tinha lido Rentes de Carvalho até ao dia em que o autor me foi recomendado numa palestra a que assisti. Erro crasso. Se tivesse pegado nos seus livros antes, seria hoje uma pessoa com muito mais mundo. Mas, vejamos pela positiva, tenho agora a oportunidade de ler toda a obra. Um professor regressa anualmente à sua aldeia, em Trás-Os-Montes, nas férias de verão. Mas o que o leva até lá? Até um lugar onde ele é o mais estrangeiro de todos. As conversas com o melhor amigo de infância, que entretanto o trata de forma formal, as visitas da primeira namorada, agora sua empregada, os montes, o isolamento? É uma história sem a redenção de ninguém, onde os monstros estão à solta. A sublimação entre uma Holanda vivida e imaginada, uma personagem hedionda a quem não podemos perdoar tudo.
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Descansos
Este livro confirmou a minha hipótese de que quando uma história é bem contada, e bem escrita, podemo-nos sempre surpreender pela positiva. À partida não seria um romance no qual que eu fosse pegar, pois tudo no seu entorno me dizia que talvez eu não fosse o leitor para aquela história. Mas ainda bem que me enganei. Não que me tenha rendido ao género, mas o facto é que, inegavelmente, esta é uma boa narrativa para quem gosta de histórias familiares, personagens que não são o que parecem ser e um final que coloca o livro no seu tempo, no seu país, com a relevância devida. No centro, uma mulher que regressa à terra após a morte da mãe e tem de lidar com as personagens de um passado que nem sempre lhe foi amigo.
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