Livros que nos mostram cidades

Por Ana Bárbara Pedrosa
30 de dezembro de 2024
Pode-se conhecer uma cidade mesmo sem nunca lá ter ido? Estes livros parecem demonstrar que sim. Quem os escreveu, conhece as cidades em todas as suas camadas.
Rio – Deus para Todos
São 4 volumes, e eis a vida de uma parte do Rio de Janeiro sem pó de arroz. Longe da ideia de cartão-postal, embora a beleza exuberante esteja sempre lá, assim como o sol inclemente que parece cair a pique, há vidas que são stresses todos os dias – e que são escapar à morte. No primeiro volume, temos duas crianças, Rúben e Nina, nascidas numa das maiores favelas da cidade. Após o cruel assassinato da mãe, às mãos de um polícia corrupto de quem era amante e informadora, ficam entregues à sua sorte. Sem grandes hipóteses na vida, juntam-se a um gangue, e a sobrevivência passa a ser um combate diário. Depois a vida acontece, e tem reviravoltas, mas é melhor abrir os livros para descobrir o que têm dentro.
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Fukushima, crónica de um desastre sem fim
Mostra o cenário, e as imagens ajudam. De repente, estamos no nordeste do Japão. Não vemos propriamente as ruas da cidade, antes as paredes da central elétrica no lugar que fez com que Fukushima fosse conhecida no mundo inteiro, e o pânico que por lá estava instalado – mas isso também é conhecer a cidade, e logo pelo que lhe levou o nome ao mundo. Em março de 2011, um terramoto causou o caos. Com um cataclismo poderoso, houve um acidente nuclear na central elétrica, e os fornecedores de energia foram ao ar. A partir daí, foi o descalabro. Yoshida, o diretor da central, passa a ter milhares de vidas nas mãos, assim como decisões quase impossíveis de serem tomadas. À volta, os edifícios erguem-se no escuro, as pessoas andam às aranhas, ouvem-se explosões e a radiação, já se sabe, vai invadindo, contaminando e destruindo. As cores dos quadrinhos, quase sempre escuras, criam um cenário de desolação, marcando uma sensação sombria, expectante, temerosa, que ocupa o livro inteiro.
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O fotógrafo de Mauthausen
E eis-nos de repente em Mauthausen, perto de Linz, na Áustria. E não estamos a passear em parques ou a ver as vistas, mas a ver um dos maiores horrores de que há memória. No livro, conta-se a história de Francisco Boix, que, durante a Segunda Grande Guerra, ficou preso num campo de concentração nazi, onde passou a trabalhar como fotógrafo. Ao descobrir a derrota do Terceiro Reich ante o exército soviético, deu o tudo por tudo para salvar os registos do horror no campo. Este foi um dos maiores complexos de trabalho escravo durante o regime nazi, e dali saíram armas de guerra, tendo muito a dizer sobre o que era a Europa naqueles anos infernais. O traço é impressionante, as cores sombrias também, e o mesmo se diz dos rostos fantasmagóricos de quem, vestido de preto e branco, quase como um pijama, levava com a chuva inclemente numa página em tons de azul-escuro. O livro inclui ainda desenhos das fotografias de Boix.
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Central Park
Já vimos esta cidade muitas vezes, mas Nova Iorque nunca se esgota e nunca cansa. E agora temos a maravilhosa companhia de um assassino em série. Gente desta é boa para ser conhecida em livros, por isso, há que aproveitar, e aproveitar ainda que estejamos à distância que o papel impõe. Se tivermos de que nos queixar na vida, alegremo-nos: pelo menos, não somos Alice e não acordamos algemados a um estranho no Central Park, ainda por cima sem saber que raio se passou na véspera. Ela e o estranho, que se chama Gabriel, ainda sem saber o que lhes aconteceu, calcorreiam Nova Iorque nas 24 horas seguintes, e nós calcorreamo-la com eles, entre arranha-céus e ruas de quilómetros e aquela multidão em catadupa. E o melhor do assassino em série que aparece é que se julgava que já estava morto.
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O apartamento
Continuamos em Nova Iorque, mas parece que estamos em ruas mais seguras. Aqui, quatro mulheres juntam-se por acaso, e nenhuma delas tem uma fila de mortos nas mãos. Claire, aspirante a designer de calçado, encontra uma casa jeitosa, mas precisa de alguém que a ajude a pagar a renda. Conhece Abby, escritora à rasca, e lá vão elas. Anos mais tarde, junta-se Morgan, que vive o infortúnio de trabalhar em Wall Street. E depois junta-se Sasha, estudante de medicina. Enfim, parece Sexo e a Cidade, mas tudo ao molho entre as mesmas quatro paredes. A partir delas – e bem se sabe, ou se adivinha, o quão difícil é encontrar um espaço decente com teto em cima em Nova Iorque –, vê-se a vida quotidiana numa das cidades mais mexidas do planeta. No meio, há a vida real: paixões, desilusões, carreiras mal encaminhadas.
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