Requiem
de Jorge Gomes Miranda
"Gomes Miranda escolhe sempre imagens fortíssimas e muito sugestivas, imagens comuns mas que aparecem aqui transfiguradas pela morte ou que emprestam a essa mesma morte uma aura tenebrosa. É assim com as referências à natureza, uma natureza evidentemente funérea, em que dados de facto como o 'vento gélido' se tornam manifestações de uma ausência. É assim com o 'hangar vazio' que concentra vários sentidos e sensações. É assim com o quase indizível sofrimento da morte da mãe que encontra semelhanças com 'a canção das baleias', um som cavo, oceânico e tenebroso.
Os poemas sobre a mãe são nesse contexto especialmente notáveis, porque vão encenando aquilo a que o poeta chama 'uma Pietà ao contrário' neste caso é a mãe (doente e depois morta) que repousa no colo do filho, literal e metaforicamente. Gomes Miranda traça da sua mãe um retrato imensamente gentil, e imensamente gentil se mostra no seu acompanhamento. Os poemas sobre o pai optam por um tom mais comedido, com episódios de companheirismo e pequenos rituais, aprendizagens que às vezes circulam entre um e outro, como quando o filho ensina xadrez ao pai que depois lhe ganha os jogos
todos. Entre instantâneos e queixumes lancinantes, o que surge nestes poemas excepcionais é a simplicidade assustadora do facto mais comum do mundo: a morte. E ao mesmo tempo os poemas (mais que o poeta) compreendem a complexidade e o fracasso metafísica que essa experiência significa: 'Cansados de gritos e de luz inclemente, / os olhos encontram repouso na contemplação / do vosso destino / esfumando-se ao fim da tarde, / ó nuvens, que me acompanhais no regresso / a uma casa moribunda. // Nos silenciosos acordes da vossa tenebrosa / espuma espelha-se este céu desalentado / e o nosso maternal rosto. // Pudesse o futuro encontrar nos vossos braços /
repouso, não tardaria a noite, / amparo e vigília, / a purificar o corpo que sangra, / devolvendo à vida o que a vida / cobardemente nos vai retirando'(pág. 22)".
Pedro Mexia, Diário de Notícias
Uma sombra no caminho
Ergui os olhos,
o seu corpo
imitava a leveza de uma folha a cair.
Ninguém diria que os anjos
voavam tão baixo.
(p. 75)
Propriedade | Descrição |
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ISBN: | 978-972-37-1015-1 |
Editor: | Assírio & Alvim |
Data de Lançamento: | dezembro de 2005 |
Idioma: | Português |
Dimensões: | 146 x 207 x 7 mm |
Encadernação: | Capa mole |
Páginas: | 96 |
Tipo de produto: | Livro |
Coleção: | Poesia Inédita Portuguesa |
Classificação temática: | Livros em Português > Literatura > Poesia |
EAN: | 9789723710151 |
Idade Mínima Recomendada: | Não aplicável |