Quem És Tu, Zequinha?
de Filipe Esménio
Sobre
o LivroUm abanão literário na percepção do quotidiano e do comodismo tão nacionalista, Quem és tu, Zequinha? não é tanto uma tipificação comportamentalista do português, mas um acordar daquilo que todos temos desta amável personagem. Ora recebemos uma boa estalada, ora somos levantados com uma vontade renovada de ir além das limitações do absortismo e mesmidade nos quais tendemos a diluir-nos. De uma forma divertida, vamos reconhecendo o que em nós há desta figura tão familiar, ou nos nossos conhecimentos, com uma descrição tão mordaz e lúcida que dá a sensação de que o autor se inspirou na nossa lista de contactos, experimentem...|Esta caricatura literária foge ao padrão por se demarcar das convenções genéricas sobre o modo de ser lusitano e evidenciar em cada capítulo o que efectivamente amarra o nosso pensamento e a nossa acção, propondo escapatórias a essa inércia. A capacidade de nos rirmos de nós mesmos é já conhecida como uma terapia, agora vejamos a um nível mais alargado, num contexto nacional, podendo ser a primeira etapa de perceber o que há a melhorar, arrumar a casa e deitar fora o lixo. A propósito, não há como negligenciar a crítica directa à corte política e à lassidão dos cidadãos na interferência e atitude perante o lodo sócio-político. Sentar no sofá a inventariar um esquema para contornar uma qualquer legalidade menos conveniente e lavar as mãos do assombro ético que perpassa as instituições, balbuciando um qualquer lugar-comum sobre o estado de coisas a que este país chegou é o forte do Zequinha.|Aproveite esta provocação para se rir e, já agora, perspectivar-se como um Zequinha e suspirar sossegadamente porque não é o único e que, no fim de contas, é uma dádiva ou uma cruz lusitana, ou então atreva-se a identificar-se com o que mais o repudiar e aceite o convite do autor para vir comer a azeitona sem cuspir o caroço para o chão, ou pelo menos, sem o engolir.