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O Sol na Cabeça

de Geovani Martins

Livro eBook
editor: Companhia das Letras, julho de 2019
A mais poderosa revelação da literatura brasileira nos últimos anos
RECOMENDADO PELO PLANO NACIONAL DE LEITURA i
Nos morros, cada novo dia é modulado pelo vaivém do narcotráfico, pela ameaça constante da polícia e pelas limitações da pobreza, da violência e da discriminação.

Mas estas também são histórias de amizade, amor e alegria: o prazer dos banhos de mar, as brincadeiras de rua, a adrenalina das pinturas murais, os namoros fugazes.

Histórias de esperança e desespero, que dão rosto e alma aos invisíveis da Cidade Maravilhosa, que é também uma cidade partida.

«O livro mais importante da literatura recente.»
Marcelo Rubens Paiva

«Fiquei chapado.»
Chico Buarque

«O sol na cabeça é uma das mais importantes narrativas sobre a devastadora desigualdade que arrasa a sociedade brasileira desde Cidade de Deus.»
Misha Glenny

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«A minha maior conquista foi aprender a ler» - Entrevista a Geovani Martins [com vídeo]

Geovani Martins é um dos mais brilhantes jovens escritores brasileiros. Com o seu primeiro livro, O Sol na Cabeça, trouxe para a literatura a cruel desigualdade da sociedade brasileira, colocando as favelas do Rio de Janeiro no centro da ação.

Em Via Ápia, o seu segundo romance, volta a levar-nos para esse mundo, onde cresceu, entrando na vida de cinco jovens moradores da favela da Rocinha (Wesley, Washigton, Murilo, Douglas e Biel), reprimidos, cada dia, pela instalação da Unidade de Polícia Pacificadora na comunidade, entre 2011 e 2012. Geovani Martins Ao transpor a oralidade para a escrita de uma forma inédita e imparável, sente-se herdeiro dos contadores de histórias, dos gritos aos rappers e afirma que a sua maior conquista foi aprender a ler.

Em entrevista ao Wookacontece, Geovani Martins puxa-nos para dentro desse Brasil tão diverso, que precisa de pôr fim às grandes injustiças e ao sofrimento que afeta a maior fatia da população brasileira. Geovani sente uma revolta constante, um inconformismo que torna a sua escrita numa uma ponte para o desejo de mudança. Uma conversa rica, que é um murro no estômago tão impactante como necessário. Palavra a palavra.   «Acredito realmente no poder transformador, libertador e opressor da palavra.»

Acreditas que os teus livros estão a contribuir para uma maior consciencialização (e fim da estigmatização) do problema das favelas entre os brasileiros?

Espero que o meu trabalho sirva para poder disputar esse território imagético que temos. Organizamo-nos muito em torno das palavras e das histórias, e a maneira como as assimilamos vai influenciar diretamente o valor das coisas, das pessoas e dos territórios. O meu trabalho é uma afirmação desses territórios na complexidade que eles abrigam e uma tentativa de retratá-los de uma forma despida de estereótipos e preconceitos, que consiga olhar com afeto, sem esquecer as contradições que o território impõe.
O meu trabalho é o de tantos outros artistas brasileiros agora, da construção de um novo imaginário do que é o Brasil, capaz de representar a diversidade que até então vinha sendo sub-representada. O livro alcança pessoas de diferentes lugares sociais e geográficos, com efeitos distintos em pessoas que se sentem representadas e se identificam com aquelas histórias, que conhecem bem. Todo o livro é antes de tudo uma tentativa de diálogo com o máximo de pessoas possíveis, um diálogo silencioso, mas potente. Acredito realmente no poder transformador, libertador e opressor da palavra e no poder da empatia que se pode criar com o leitor, através da sua identificação com a escrita.


Apesar de tudo, consegue-se viver feliz numa favela?

Já não moro na favela da Rocinhas, mas ao lado, em São Conrado, um bairro tranquilo. Gosto de estar ao lado da Rocinha e conseguir viver a minha vida ali, encontrar-me com os meus amigos. Também não estou aqui para romantizar uma vida de privações e dificuldades; é um lugar com muita gente e pouco espaço. Quando se mora na favela, tem-se a segurança de que nunca ninguém vai invadir a sua casa, a não ser quando a polícia chega lá e age. Mas ao mesmo tempo, sente-se insegurança porque o Rio de Janeiro mata mais de mil jovens negros todos os anos e, se te olhas ao espelho, sabes que és um possível alvo.
Sobre a questão da felicidade eu acredito que todo o ser humano é feliz e triste todos os dias, e na favela não é diferente; temos as nossas dificuldades, mas temos encontros, sonhos e aspirações que nos alegram. O Rio de Janeiro é uma cidade particularmente muito humorada, onde as pessoas brincam muito e, muitas vezes, resolvem os problemas na base do humor.
Veja também em vídeo a nossa entrevista exclusiva a Geovani Martins.   Via Ápia, o segundo romance de Geovani Martins. Mesmo quando alguém consegue dar a volta, arranjar trabalho, pode ser vítima de fogo cruzado, como no caso de Washington (personagem de Via Ápia), sobretudo desde que a Unidade de Polícia Pacificadora se instalou. Consideras que essa medida foi um retrocesso?

Sim, este romance fala muito sobre essa instabilidade da vida e sobre como o combate às drogas é sempre mais nocivo do que o próprio consumo. Esse capítulo específico do livro ilustra isso de uma forma bastante direta e contundente. Se isto continua, eu lamento dizer que estamos muito pior do que na época em que se passa este livro. Tivemos um aumento na letalidade policial de mais de 2.000% nos últimos 10 anos. Via Ápia acabou por se tornar um livro mais duro do que eu vislumbrava antes de começar a escrever, porque eu estava rodeado essa realidade e isso afetou as minhas perceções e as decisões que tomei ao longo da do processo de escrita do livro. Para mim foi importante escrever sobre essa época, justamente porque consegui entender que esse período foi crucial para que chegássemos ao estado atual. Falar sobre esse momento e sobre tudo o que ele representa para a sociedade carioca era importante para conseguirmos olhar para estes últimos 10 anos. A nossa cidade tem se transformar.

Escreves sobre o narcotráfico e a criminalização do consumo de drogas, usada como desresponsabilização do Estado. Como se poderia melhorar as condições de vida dos “favelados” e combater o narcotráfico, sem causar mais mortes?

No Brasil temos um sistema judiciário completamente racista, o que dificulta bastante qualquer avanço. Em 2006 foi aprovada a lei de criminalização das drogas e, em tese, não existe nenhuma quantidade específica para ser considerado crime ou não, tudo depende da subjetividade de um delegado, e depois da de um juiz. Muitos desses juízes nunca puseram os pés numa favela e acreditam que toda a gente que nasceu lá e que tem algum contato com droga vai ser traficante de drogas e criminoso. Temos casos como o que aconteceu no começo da pandemia, de um menino chamado Henrique que foi preso com 10 gramas de cannabis, apanhou COVID na prisão e morreu da doença, enquanto há casos como o de um filho de uma desembargadora, apanhado com 150 kg de cannabis, que foi libertado duas horas depois da sua apreensão. Essa lei, que a princípio poderia ser uma coisa positiva, acaba por ser manipulada por figuras que visivelmente têm as suas escolhas e decisões pautadas no endereço e cor da pele dos réus. Para que a lei resulte, é preciso fazer com que a polícia cumpra as leis. Eu fui abordado por um polícia que me perguntou se eu tinha drogas; eu disse que não e ele perguntou-me «O que posso fazer contigo se encontrar algo?». Ele tem de fazer o trabalho dele, mas insinua que pode fazer muitas outras coisas e sabemos que corremos perigo.
É também necessário colocar pessoas de diferentes classes sociais e etnias em lugares de poder no sistema judiciário e na polícia para que consigamos ter julgamentos mais justos, que contemplem a humanidade dos seus réus. Da maneira como as coisas estão, não é a droga que é proibida no Brasil, o negro é que é proibido no Brasil, da mesma forma que foi proibida a capoeira [até 1930], o violão, o samba, o candomblé e várias manifestações de cultura negra ao longo da História do país. A proibição das drogas é mais uma vertente que evoluiu com requinte de crueldade até maior do que essas primeiras proibições.


Os teus livros são a voz verdadeira e sincera da favela e isso é inédito. Acreditas que eventos como a Festa Literária das Periferias vão conseguir inverter o ciclo de miséria dos jovens que nascem na favela?

Conseguimos muitas conquistas nos últimos 20 anos. Em 1997, os universitários brasileiros negros eram apenas de 2%, face aos 50% no presente. O avanço da extrema-direita aparece como uma clara resposta de uma elite da sociedade brasileira incomodada com essas transformações na universidade, que sempre foi um espaço de privilégio. O Brasil foi feito a partir da ideia do anel de Doutor. Nos últimos cinco anos houve uma desvalorização absoluta da universidade, por esta ser aberta aos pobres. Precisamos desse tipo de ação afirmativa. A experiência do negro no Brasil nunca foi tão positiva no campo da exposição das ideias, temos ministros, artistas importantes negros e até as publicidades de estética finalmente incluem a metade da população que foi excluída até 10 anos atrás.
Mas existe o paradoxo de que, ao mesmo tempo, temos um aumento na letalidade policial e na violência contra a população negra. Precisamos de reformas estruturais que garantam quotas não só nas universidades, mas também no poder judiciário, na Câmara dos Deputados e na Câmara dos Senadores, para construir algo pensado para todos. Precisamos urgentemente de uma política nova de taxação de imposto – no Brasil, 100 pessoas apenas concentram metade de toda a riqueza do país. O Brasil não é um país pobre é um país onde o rendimento está absolutamente concentrado. Também urge falar com convicção sobre reparação histórica a única lei de reparação pode abolição da escravidão em 1888 veio em 2003 que a política de quatro da universidade.


Sentes revolta por continuares a ser ostracizado por quem não te conhece no Brasil?

Eu tenho uma revolta que é constante e que espero que me acompanhe para o resto da vida porque eu sinto que é esse inconformismo que me dá combustível para o meu trabalho. Sinto que muitas pessoas se assustam com o meu discurso, mas ele já está embutido no meu livro e eu não consigo separar o meu trabalho da minha vida, a minha obra das minhas opiniões. Hoje em dia eu talvez me considere ainda mais revoltado do que há alguns anos atrás, porque tive acesso a coisas às quais nunca tinha antes, a viagens, a vestir-me, a comer e a dormir bem. Isso revolta-me porque sei que a grande maioria das pessoas que eu conheço – que inspiram as minhas personagens – não vão poder desfrutar desse privilégio. Esta revolta acompanha-me porque não é só minha. Sinto que sou uma ponte de transposição dessa insatisfação e desse desejo de mudança.   «Eu tenho uma revolta que é constante e que espero que me acompanhe para o resto da vida.»

Disseste que escrever Via Ápia foi uma grande aprendizagem de escrita para ti. Sentiste que a transposição da oralidade para a escrita seria a melhor forma de retratares a realidade da favela?

Acho que sim. Em Via Ápia essa linguagem urbana, muito ligada à oralidade, era a forma como eu achava que poderia contar aquela história. Queria construir um narrador que estivesse muito próximo dessas personagens, grudado nas suas perspetivas, na maneira como elas pensam e falam. Acredito que a linguagem escrita está sempre a correr atrás de oralidade, porque antes de escrevermos, falámos durante muitos anos. Estabeleceram-se cidades e civilizações só com a palavra oral, e a palavra escrita nasce para poder dar forma a essa realidade. Considero-me fruto de uma escola literária que vem de África, com a importância da figura do griot, o contador de histórias da aldeia. Temos essas figuras na diáspora africana no Brasil, com os babalorixás, depois com os sambistas, que falam sobre as aspirações desse povo que se constrói; e depois temos o rap, que fala sobre a política e traz gírias da rua para dentro da poesia. Eu sinto que pertenço a uma geração de herdeiros desses grilhões que conquistaram uma nova janela que é o livro. Até há pouco tempo, os grandes livros de História que a população afrodescendente teve no Brasil foram a música popular como o samba, o choro e o rap, e sinto que a estamos numa geração que amplia esse espaço para novas formas de expressão na literatura, no cinema, nas artes plásticas, dando continuidade a essa escola de oralidade.

Dada a dificuldade de traduzir uma obra com tantos termos da oralidade da favela, acompanhas os processo de tradução?

Algumas sim, outras não. Acompanhei bastante a tradução para inglês. Mas a principal diferença, sobretudo em O Sol na Cabeça, é que as pessoas falam mais sobre as histórias e as personagens. A linguagem esvazia-se um pouco na tradução, mas fico feliz de haver algo mais sobre o que falar.   « Achava que ia escrever poucos livros na vida, agora acho que vou escrever mais do que imaginava.»

Dizes ter aprendido muito com vários escritores africanos. Quais os que te marcaram mais?

Três autores fundamentais para mim foram Chinua Achebe, Abasse N'Dione – que escreceu A Vida em Espiral, um romance que me inspirou bastante, também com cinco personagens principais – e Chimamanda Ngozi Adichie, autor de .Meio Sol Amarelo. Foi muito importante encontrar nesses autores uma espécie de escola, saber que não estava a inventar nenhuma roda, mas simplesmente a voltar a algo da literatura africana, que chega no Brasil com muito atraso. Temos tido muitas novas publicações de autores africanos tanto de ficção quanto teóricos.


E escritores lusófonos?
Gosto muito da literatura do Mia Couto , do Ondjaki também, li bastante Saramago quando era jovem. Queria que os livros de autores lusófonos, entre os quais os cabo-verdianos e os moçambicanos, chegassem cá mais facilmente e creio que isso irá acontecer nos próximos anos.


Tinhas o Via Ápia na cabeça há 10 anos. Tens outros livros dentro de ti?

Tenho muitos! Achava que ia escrever poucos livros na vida, agora acho que vou escrever mais do que imaginava. Há um livro de não ficção que estou a preparar e que pretendo entregar até ao final deste ano. Tenho sonhado todos os dias com momentos em que vou parar escrever um livro de contos, acho que vai ser algo importante na minha, e muitas outras ideias…   « A minha maior conquista foi aprender a ler.»

Como está a adaptação do livro O Sol na Cabeça a série televisiva?

Estamos no processo de desenvolvimento dos guiões para a adaptação a série televisiva. Gosto da experiência do cinema, na parte da escrita, e de ter participado em duas séries de televisão. Foi algo que me ajudou a organização do Via Ápia, pois comecei a pensar a história de forma sequencial e a entender e a descobrir mecanismos de construção de uma história mais longa.


Qual foi a tua maior conquista enquanto pessoa e escritor?

A minha maior conquista foi aprender a ler. É uma leitura em termos amplos: aprender a ler literatura, as pessoas, o ambiente em que eu me insiro e a minha própria figura. Ter-me iniciado muito cedo na literatura ajudou-me muito.

O Sol na Cabeça

de Geovani Martins

Propriedade Descrição
ISBN: 9789896655860
Editor: Companhia das Letras
Data de Lançamento: julho de 2019
Idioma: Português
Dimensões: 146 x 229 x 10 mm
Encadernação: Capa mole
Páginas: 144
Tipo de produto: Livro
Classificação temática: Livros em Português > Literatura > Romance
EAN: 9789896655860
e e e e e

O Sol na Cabeça

João S.

Uma estreia muito interessante e comovente de Geovani Martins com este belíssimo livro de contos. A realidade crua, sem floreados. Uma tensão aparentemente comedida mas sempre presente ao virar da próxima frase. Mas o que mais me chamou a atenção e que, a meu ver, torna o livro especial é a quotidianidade da sua linguagem. Recomendo claramente!

e e e e E

Muito bom

dmpm

muito bem escrito, leitura leve que os dá a conhecer alguma realidade da favela carioca

e e e e e

Pouco a pouco ou de rajada

Gustavo Infante

Esta colectânea de contos permite ao leitor entrar de rompante num entrecruzar de realidades que talvez não conheça; realidades consideradas periféricas. O estilo coloquial é uma constante e é frequente a necessidade de ter de ler em voz alta. Cada conto é um micro-cosmos ou apenas um grão de areia de um cosmos maior - o livro em si. Daí que seja possível ler estes contos como unidades isoladas, ou ler o livro de rajada. Já Tom Jobim dizia que "o Brasil não é para principiantes" e este livro é um bom exemplo disso.

Geovani Martins

Geovani Martins nasceu em 1991, em Bangu, no Rio de Janeiro.
Trabalhou como "homem-placa", numa lanchonete, empregado em buffet infantil e bar de praia.
Em 2013 e 2015, participou das oficinas da Festa Literária das Periferias, a Flup.
Publicou contos na revista Setor X.
O seu livro de estreia, a coletânea de contos O sol na cabeça, publicado pela Companhia das Letras em 2019, está em processo de adaptação para série televisiva. Conquistando para o seu autor um imediato e raro prestígio literário, este livro foi publicado em países como Estados Unidos da América, Inglaterra, França, Alemanha e Itália, acolhido por algumas das mais prestigiadas editoras do mundo.
Via Ápia é o primeiro romance de Geovani Martins.

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