Não Respire
de Pedro Rolo Duarte
Sobre
o LivroHá palavras que se tornam estigmas, condenações, tabuletas na testa de quem subitamente é forçado a viver com elas. Mais de 30 anos de jornalismo, a conviver todos os dias com palavras e os seus significados, podem ainda assim deixar de fora esta ideia, na premissa de que as palavras são todas iguais, saem direitinhas no ecrã do computador, e mais perfeitas ainda na impressão do jornal, ou na paginação fria do tablet. Não são e essa foi a primeira surpresa que tive.
Um dia acordei com uma palavra mais na vida, e falei dela com os mais próximos como se fosse apenas uma palavra mais. Rapidamente a ilusão desapareceu - como se, na verdade, alguma vez tivesse existido.
Um poema não tem vida própria? Tem.
Uma carta de amor não é um coração vivo, que bate e se sente? Claro que sim.
Porém, como fiz das palavras profissão, nunca deixei que me escapassem da mão. Brinquei, joguei com elas, até as enganei - mas jamais permiti que se libertassem, como um filho aos 18 anos, ou que me dessem problemas, como um adolescente tonto. Fui-lhes fiel e leal - e exigi-lhes o mesmo.
Cumpriram. Até agora. Até ao dia em que uma palavra me deixou, a um tempo, carimbado, abalado e quase triste. Reconheço: acarinhado, também. Tudo ao mesmo tempo.
A palavra: cancro.
Aqui e ali um riso (por vezes uma gargalhada), mais à frente alguns segundos em que parecemos mesmo deixar de respirar. Um carrossel de emoções, entre sorrisos de orelha a orelha e nós na garganta. A leitura deste livro está claramente marcada pelo desaparecimento, ainda tão recente, do seu autor e pelas suas circunstâncias tão especiais, mas mesmo que assim não fosse seria sempre uma obra muito bem conseguida e a não perder por nada.
Quem sabe que Pedro Rolo Duarte morreu o ano passado vítima de cancro não espere deste livro um relato da sua jornada na luta contra a doença. Ela não é omitida, até é referida algumas vezes de forma desassombrada, mas «Não respire» é essencialmente um livro de memórias. Há aqui memórias de infância, das brincadeiras na aldeia do Penedo. Memórias dos pais, irmãos, amigos e colegas. Memórias dos tempos de juventude e de como o jornalismo sempre lhe correu nas veias. Memórias de publicações emblemáticas como a revista K e o DNA. Memórias de programas de rádio e de televisão. Memórias e textos dedicados ao filho de quem tinha um orgulho enorme. Mais do que gerar pena, este livro gera antes alguma nostalgia e muitos sorrisos e risos perante alguns episódios que Pedro Rolo Duarte evoca. Vale muito a pena conhecer a vida deste homem que viveu apenas 53 anos mas que consegue ainda assim contar-nos tanta coisa interessante.
Lê-se muito bem! Foi muito interessante conhecer uma parte da vida preenchida que o Pedro Rolo Duarte teve. É triste é saber que este livro está cá fora pelas piores razões... É daqueles livros com os quais aprendemos algumas coisitas. Por mais que não seja ver as coisas de outra perspectiva!
Um hino à via que viveu e que gostava de ter vivido. Pedro Rolo Duarte conta-nos em jeito de diário vários momentos da sua vida.