Ler não prejudica a saúde
EXCERTOS
A procura do contacto, o falar e ouvir é um alimento que vai escasseando. Andamos esfomeados de comunicação, não da social que nos mata, mas da individual, do diálogo vivo. Não é tanto pelo café que se pede, é muito mais pela companhia que se toca, pelas palavras e pelo olhar e mão que se estendem. Quem vai às compras gosta de regatear porque afinal poupa, mas muito mais porque pode falar e ouvir, acender uma chama que aquece. Ainda estava casado precisou a minha consorte de mandar fazer a sua capa de solicitadora. Estávamos no Porto, e talvez por vaidade, lembrei então que a minha toga precisava de reforma, ou quando muito, seria bom ter uma outra de reserva, aproveitando o facto de, por certo, duas encomendas iriam encher o magro bolso de lauto desconto. O alfaiate, mais parecia um empresário de sucesso, depois de eu lançar várias vezes a réplica da quantia que entendia justa, mais para mim do que para ele, confesso, pelo preço das duas peças, lá acedeu a tirar as medidas para a minha nova toga. Que fique bem, para ficarmos clientes, soltei ao mesmo tempo que apertava a mão grossa e pensante do meu novo amigo. Talvez um fato fosse a próxima encomenda enquanto sorria para aqueles olhos finos e sabedores. O pagamento, por ancestral norma da casa, deveria ser feito logo no início. O nome da casa, as instalações, o requinte e as mesuras, quebraram-me qualquer eventual suspeita, tanto mais que fiz questão de entregar cheque com o nome do portador bem legível. Eis então, passados uns meses, que são enviados pelo correio os dois artefactos. A capa da minha consorte esplêndida. A minha toga, com uma carreira de botões na frente até estava engraçada na sua simplicidade, só que, é verdade meus amigos, ficava-me pelos joelhos. O raio do homem havia tirado no pano o que eu julguei tirar-lhe no preço. De vez em quando e porque algumas vezes sigo a regra preguiçosa de pouco me levantar, ainda a levo ao Tribunal para me lembrar que o homem não é o bicho mais racional da natureza, mas sim o mais engraçado e o mais esperto.
Nunca sabemos ao certo o que a vida nos reserva, ou se calhar melhor, nunca temos verdadeira consciência de como a vida nos ensina.
A procura do contacto, o falar e ouvir é um alimento que vai escasseando. Andamos esfomeados de comunicação, não da social que nos mata, mas da individual, do diálogo vivo. Não é tanto pelo café que se pede, é muito mais pela companhia que se toca, pelas palavras e pelo olhar e mão que se estendem. Quem vai às compras gosta de regatear porque afinal poupa, mas muito mais porque pode falar e ouvir, acender uma chama que aquece. Ainda estava casado precisou a minha consorte de mandar fazer a sua capa de solicitadora. Estávamos no Porto, e talvez por vaidade, lembrei então que a minha toga precisava de reforma, ou quando muito, seria bom ter uma outra de reserva, aproveitando o facto de, por certo, duas encomendas iriam encher o magro bolso de lauto desconto. O alfaiate, mais parecia um empresário de sucesso, depois de eu lançar várias vezes a réplica da quantia que entendia justa, mais para mim do que para ele, confesso, pelo preço das duas peças, lá acedeu a tirar as medidas para a minha nova toga. Que fique bem, para ficarmos clientes, soltei ao mesmo tempo que apertava a mão grossa e pensante do meu novo amigo. Talvez um fato fosse a próxima encomenda enquanto sorria para aqueles olhos finos e sabedores. O pagamento, por ancestral norma da casa, deveria ser feito logo no início. O nome da casa, as instalações, o requinte e as mesuras, quebraram-me qualquer eventual suspeita, tanto mais que fiz questão de entregar cheque com o nome do portador bem legível. Eis então, passados uns meses, que são enviados pelo correio os dois artefactos. A capa da minha consorte esplêndida. A minha toga, com uma carreira de botões na frente até estava engraçada na sua simplicidade, só que, é verdade meus amigos, ficava-me pelos joelhos. O raio do homem havia tirado no pano o que eu julguei tirar-lhe no preço. De vez em quando e porque algumas vezes sigo a regra preguiçosa de pouco me levantar, ainda a levo ao Tribunal para me lembrar que o homem não é o bicho mais racional da natureza, mas sim o mais engraçado e o mais esperto.
Nunca sabemos ao certo o que a vida nos reserva, ou se calhar melhor, nunca temos verdadeira consciência de como a vida nos ensina.
DETALHES
Propriedade | Descrição |
---|---|
ISBN: | 9789725915998 |
Editor: | Editorial Minerva de Lisboa |
Data de Lançamento: | abril de 2005 |
Idioma: | Português |
Dimensões: | 14,5 × 21 cm |
Páginas: | 112 |
Tipo de produto: | Livro |
Classificação temática: | Livros em Português > Literatura > Outras Formas Literárias |
EAN: | 9789725915998 |
Idade Mínima Recomendada: | Não aplicável |