Com Permissão de Sua Majestade
Família Real Inglesa e Maçonaria na Instauração da República em Portugal
de Jorge Morais
A implantação da República em Portugal, em 5 de Outubro de 1910 (completam-se agora 95 anos), não foi resultado exclusivo da revolta militar personificada na Rotunda pelo comandante Machado Santos e apoiada nas ruas pelas células carbonárias de Lisboa. Uma conspiração internacional, envolvendo a Maçonaria inglesa e a Família Real britânica, deu aos revoltosos portugueses a garantia prévia (e escrita) de que a Inglaterra, a França e a Espanha não levantariam um dedo para salvar a Dinastia de Bragança. E só depois de obtida esta garantia o estado-maior revolucionário avançou para pôr fim à Monarquia mais antiga do Continente Europeu.
Numa reconstituição historiográfica exaustiva, agora publicada em livro sob o título “Com permissão de Sua Majestade”, o jornalista e investigador Jorge Morais sustenta que, em 5 de Outubro, as tropas revoltosas se limitaram a seguir o “sinal verde” dado a partir de Londres pelo poderoso “lobby” liberal radical (em que pontificavam altos dignitários maçons, homens de negócios ingleses com interesses na África portuguesa e jornalistas de influência internacional) com conhecimento e permissão de dois membros da Família Real britânica: o próprio Rei Jorge V e seu tio, o Duque de Connaught.
Na sua obra, baseada em documentação de grande rigor historiográfico mas apresentada numa linguagem acessível ao leitor comum, o autor relata como, em Setembro de 1909, o Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano, Sebastião de Magalhães Lima, viajou secretamente para Londres a fim de obter garantias da congénere inglesa (cujo Grão-Mestre era então o Duque de Connaught, filho favorito da Rainha Victoria e irmão do Rei Eduardo VII) de que o golpe em Lisboa teria a aprovação do Governo de Sua Majestade, chefiado por Asquith e integrado por Winston Churchill, Lloyd George e Edward Grey – maçons de inegável peso na política mundial da época.
Valendo-se de uma teia de cumplicidades maçónicas, políticas, jornalísticas e financeiras, Magalhães Lima voltou a Londres em Julho de 1910 (já com o Rei Jorge V no Trono), agora acompanhado pelo abastado homem de negócios e dirigente republicano José Relvas, para ouvir da boca de um membro do Governo inglês a confirmação de uma “neutralidade compreensiva”. A posição das autoridades de Londres, expressa por escrito num Memorandum secreto a que o autor teve acesso nos Arquivos Nacionais britânicos, permitiu aos revoltosos lançarem-se confiadamente numa revolução que, sem esse apoio, falhara de tentativa em tentativa nos 20 anos anteriores. E, com efeito, três meses após o seu encontro reservado no Foreign Office, a República estava implantada em Portugal.
“Com permissão de Sua Majestade” traça o quadro político, nacional e internacional, em que decorre esta conspiração; comprova a ligação dos principais intervenientes à Maçonaria e ao “lobby” radical europeu; transcreve correspondência, até hoje mantida no silêncio dos arquivos, entre a Grande Loja Unida de Inglaterra e altos dirigentes do Grande Oriente Lusitano; reconstitui as viagens do Grão-Mestre português e a sua passagem pelas Lojas de Londres; evidencia o ambíguo papel do Rei Jorge V (primo do último Monarca português, D. Manuel II) em toda a trama; e revela por extenso o Memorandum do Ministério britânico dos Negócios Estrangeiros que permitiu aos revolucionários de Lisboa implantarem, por fim, a República em 5 de Outubro de 1910.
Em declarações à agência Lusa Jorge Morais afirmou que esta sua investigação demonstra "que a implantação da República não se baseia apenas num grupo de homens cheio de valentia, mas há um planeamento internacional".
O livro, com a chancela da Via Occidentalis, traz a público pela primeira vez, um memorando secreto do Governo inglês, "segundo o qual se afirma que a Inglaterra nada faria em caso de derrube da Monarquia em Portugal e que Inglaterra só interviria caso o Rei espanhol viesse em defesa da Coroa portuguesa".
"É a primeira vez que este memorando surge publicado na íntegra", frisou o autor.
Por outro lado, Jorge Morais revela neste livro as visitas que o grão-mestre da Maçonaria Portuguesa, Sebastião Magalhães de Lima, fez a Londres onde terá conseguido o compromisso de não ingerência da Inglaterra no caso de derrube do Trono português.
A primeira visita foi mantida em segredo e realizou-se em 1909. A segunda foi em Julho de 1910 e Magalhães de Lima foi acompanhado de José Relvas, do directório do Partido Republicano, "como garante da respeitabilidade de um regime republicano, caso este viesse a implantar-se". Neste jogo de interesses está também envolvida a Família Real inglesa, nomeadamente através do Duque de Connaught, filho da Rainha Vitória, já falecida, e tio do Rei Jorge V, que era Grão-Mestre da Maçonaria inglesa.
Jorge V, que subira ao Trono após a morte de Eduardo VII, em Maio de 1910, sendo primo do rei português D. Manuel II, e conhecendo as "conveniências" em prol da proclamação da República, não o avisou.
Na realidade, o Reino Unido podia obter ganhos com a desarticulação institucional portuguesa, nomeadamente no tocante às ex- colónias, referiu à Lusa Jorge Morais.
"Eu cito a frase do embaixador de Londres em Lisboa na altura, para explicar sumariamente o interesse inglês; dizia ele que no tempo da Monarquia tinha de subir cinco e seis vezes as escadas do Ministério dos Negócios Estrangeiros para resolver parte do que queria, com a República nem precisava de subir", disse Jorge Morais.
Para o investigador, "a República ficou endividada relativamente à Inglaterra".
O derrube da Monarquia portuguesa a 05 de Outubro de 1910 surge, segundo o investigador, de três factores essenciais: "Havia interesses conflituosos em África que foram ultrapassados com a República, cumplicidades maçónicas e uma forte posição do lobby radical do Partido Liberal inglês que se encontrava no poder".
Esta investigação baseia-se nos arquivos da Maçonaria e do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Inglaterra, transcrevendo o autor correspondência até hoje mantida em segredo nos arquivos tanto de Lisboa como de Londres.
in Agência Lusa
Propriedade | Descrição |
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ISBN: | 9789728966003 |
Editor: | Via Occidentalis |
Data de Lançamento: | março de 2006 |
Idioma: | Português |
Dimensões: | 149 x 217 x 26 mm |
Encadernação: | Capa mole |
Páginas: | 224 |
Tipo de produto: | Livro |
Classificação temática: | Livros em Português > História > História de Portugal |
EAN: | 9789728966003 |
Idade Mínima Recomendada: | Não aplicável |