Com Navalhas e Navios
de Urbano Bettencourt
Sobre
o LivroPrefácio de Carlos Bessa
«O desencanto, a melancolia e as perdas que perpassam pelos versos de Urbano são esse misto de geografia e história, parábolas da condição humana. Contá-las, mesmo que elipticamente, é um modo de registar poeticamente um tempo, um lugar, uma cultura, uma tradição comuns a várias gerações e ao que vulgarmente se designa de alma humana, sintetizando e deixando memória de uma resiliência, até contra os chavões com que nos querem aprisionar e cegar: Onde for o lugar de tudo isto e a memória / desse lugar, / aí encontrarás a raiz exacta / das palavras, / a seiva / de que a vida se sustenta.
O título desta colectânea, com navalhas e navios, onde se deixa um livro e vários poemas de fora, numa obra já de si bastante breve, constitui, pois, não só o balanço de perto de meio século de escrita poética, como dá bem a medida de uma tensão entre os tumultos interiores e as metáforas que exprimem as dinâmicas do que se observa, sonha, pensa e sente, numa luta constante entre o sofrimento e a alegria, entre as manhas do tempo, uivos /e fantasmas e as sílabas que estremecem sob a pele / ao rumor do vento ou as palavras afundadas no abismo do corpo, todos esses sedimentos, o secreto / fulgor das mais antigas fundações. Podendo mesmo, de quando em quando, entregar o seu estro ao humor deletor ou deletante, transformando o deletor / na matéria deletada.»
Carlos Bessa (do Prefácio)