Brasil 500 Anos Memórias Portuguesas

Há dez anos, quando foi morar em Lisboa, o fotógrafo Marcelo Vigneron ficou surpreso com "o quanto de Brasil havia em Portugal". Ou seria "com o quanto de Portugal havia no Brasil"? "Certos lugares, se descontados o colorido e o povo brasileiro, seriam facilmente confundidos com construções típicas de Portugal", conta ele, que trabalhou como editor de fotografia do Grupo Fórum.

Depois de três anos, Marcelo voltou ao Brasil com o olhar afiado e a vontade de registrar esses "pequenos Portugais tão brasileiros". "Imediatamente fui percebendo melhor a herança arquitetônica e cultural que ainda sobrevivem, mas só comecei a captar as imagens em 98", conta.

O resultado de um ano de viagens pelo País está no livro Brasil 500 Anos - Memórias Portuguesas e na exposição que Vigneron lançou na última terça-feira, na Galeria da Casa de Portugal. Dividida em 11 capítulos, a obra registra mais do que a simples presença física dos portugueses e revela aspectos culturais das cidades brasileiras que durante o período colonial foram importantes pólos econômicos e culturais, importantes na formação da identidade brasileira.

Vigneron passou pelas ex-capitais Salvador e Rio de Janeiro e por cidades consideradas Patrimônio Cultural da Humanindade pela Unesco, como Olinda, Ouro Preto e São Luís do Maranhão. As pequenas cidades do sul da Bahia, na chamada "costa do descobrimento", onde aportaram as embarcações de Cabral, e as famosas Tiradentes e São João Del Rey em, em Minas Gerais, também têm espaço garantido. Outra escala importante foi a simpática Paraty, o porto tropical por onde escoava o ouro e os diamantes no século 18.

"Quis mostrá-las sob a ótica desse passado inegavelmente português, principalmente onde ele ainda persiste como herança arquitetônica", explica Vigneron.

Até São Paulo, símbolo do crescimento urbano descontrolado e indiferente ao patrimônio histórico, ganhou seu espaço por meio do registro das poucas casas bandeiristas que sobraram. "Só lamento não ter registrado imagens no sul do País, onde há muitas riquezas coloniais presentes, mas fica para um próximo trabalho", diz Vigneron.

Apesar da preocupação com "a presença portuguesa", o fotógrafo também ressalta em seus registros o Brasil autêntico que uniu principalmente as culturas portuguesa, negra e índia. "As danças e festas como o Bumba Meu Boi de São Luís do Maranhão, o colorido dos casarões de Olinda, o jeito do povo têm papel especial", conta.