A Sociedade Autofágica
Capitalismo, desmesura e autodestruição
de Anselm Jappe
Sobre
o LivroO mito grego de Erisícton, o rei ganancioso que, ao violar a natureza, foi amaldiçoado pelos deuses com um apetite insaciável e se devorou a si mesmo, é o ponto de partida deste livro e a prefiguração da sociedade actual. Ensaio sobre o narcisismo contemporâneo, os mecanismos autodestrutivos da nossa época e a sua relação com o neoliberalismo desenfreado, A Sociedade Autofágica traça o retrato de um mundo que, como Erisícton, parece devorar-se a si próprio.
Em diálogo com a tradição psicanalítica e a sociologia, de Sigmund Freud a Erich Fromm e Christopher Lasch, e rejeitando as ilusões de um sujeito livre e autónomo, forjadas pelas Luzes, Anselm Jappe prossegue neste livro a sua reflexão sobre a crise do capitalismo (já encetada em As Aventuras da Mercadoria), que não só destrói o planeta, pela sua abordagem predatória, mas também a réstia de humanidade no novo homem descartável, revelando o advento de uma nova subjectividade e as coordenadas de uma significativa regressão antropológica.
Neste seu mais recente livro traduzido em português, Anselm Jappe retoma nas suas reflexões sobre o capitalismo contemporâneo, a partir da perspetiva da escola alemã da chamada «crítica do valor», aprofundando alguns aspetos anteriormente abordados, quer em “ Sobre a Balsa de Medusa”, quer sobretudo em “As Aventuras da Mercadoria”, e sobretudo enfatizando o papel do «sujeito». Na minha perspetiva, a principal novidade, para aqueles que já acompanham a obra deste autor, é o esforço de Jappe para aqui estabelecer algum diálogo com outras disciplinas e correntes científicas e intelectuais (Freud, Lasch, Boltanski e Chiapello, entre outros) em torno das noções de «fetichismo» ou de «narcisismo», por exemplo, superando assim, de algum modo, o universo de referências que, em obras anteriores, se delimitavam à esfera, mais ou menos restrita, dos autores de inspiração marxista ou neomarxista. Um livro interessante.
No actual modelo de sociedade, a cultura de consumo e de acumulação de bens, assente em simultâneo na crença da possibilidade do crescimento contínuo, gera em nós uma "fome" que, no limite, nos leva a consumirmo-nos a nós próprios. Enquanto indivíduos e enquanto colectivo. Anselm Jappe desafia-nos a mergulhar num profundo olhar autocrítico e introspectivo desse exercício.