A Imperfeição do Amor Livro
de Joaquim Mestre
Sobre
o Livro
Uma criança que adivinha o futuro e um homem que escreve cartas de amor cruzam-se num universo mágico de lendas e crenças.
A vila de Mazouco, na Galiza, nunca mais foi a mesma desde a noite em que uma estrela parou sobre a taberna de Xosé Regueiro e nasceu o seu filho, Quico Regueiro. Os acontecimentos que se seguiram, deixando todos maravilhados, vão construindo e ao mesmo tempo desvendando uma teia narrativa que evoca autores como Juan Rulfo ou Gabriel García Márquez.
Uma criança prodigiosa capaz de adivinhar o futuro, a história de um pastor enganado pela mulher, uma artista de circo pouco dada aos pudores da vida ou um homem que escreve cartas de amor que enfeitiçavam as mulheres fundem-se numa história de grande riqueza onírica e uma linguagem poética envolvente.
Depois de O Perfumista, editado também pela Oficina do Livro, A Imperfeição do Amor vem confirmar a originalidade da escrita de Joaquim Mestre na literatura portuguesa actual.
A Imperfeição do Amor é o segundo romance do autor Joaquim Mestre (1955-2009), que nos presenteou com uma escrita marcada pela originalidade e por uma ação labiríntica, que nos testa e nos encaminha a desfechos inusitados. Partindo de um mundo onírico, mergulhando numa bruma de presságios e fenómenos, nasce a nossa história e o nosso personagem principal, Quico Regueiro, numa zona portuária impregnada de cheiro a peixe e de estranhezas. E talvez por Santiago de Compostela estar perto, a poucos quilómetros de Mazouco, se justifiquem as devoções e as aberrações, como sinais e mensagens divinas, a não serem ignoradas. Uma narração acelarada, a várias vozes, com um toque sarcástico, de avanços e recuos, que com este ritmo caraterístico nos leva até estas vidas estranhas, de entranhas escurecidas e torcidas, com a de Frederico del Rio, a assombrosa e desconcertada do padre Ferrando, ou a da febre e de desejos mortais de Outisa. Vidas que se vão cruzando, enleando num emaranhado de coincidências e estranhezas. Um confúcio entre as leis da natureza e as almas penadas. Mundos imaginários do sobrenatural, de mistério, sinais e mezinhas, de monstros e absurdos, de desgraças humanas. E claro, o Amor, que surge do nada, sentimento que nascia e já prometia rebentar dentro dos dois, sem explicação e na mais imperfeita condição, consumado no mais tenebroso cenário. Os amores abençoados, desesperados, de súplicas a santos e de elixires de amarrações, os condenados... a fuga do amor que leva à morte, primeiro da alma e depois física. Vidas consignadas a prisões sem grades, a consolos, a cartas de amor encomendadas. A imperfeição do amor nas vidas condenadas de Manoel de la Formoseda e de Quico. A minha vida parece que tem à frente um muro alto e branco. Sinto-me esmagado pelo peso que colocaram em cima de mim. Penso em Ilena a toda a hora. Senti que ela poderia ser a minha liberdade. O sonho de que todos podemos reescrever a nossa história e que nos podemos reerguer e soltar das tais prisões invisíveis em que nos fecham, mas também o pesadelo de estarmos entregues a maus presságios e condenados pelo amor. Histórias de vidas tão imperfeitas como o amor. E nas páginas do Mestre, encontramos uma bela definição de Amor, mesmo que imperfeito: Bastou olhá-la para sentir que a minha alma entrava dentro dela e não queria sair. Nunca mais saiu. Não sei explicar, mas senti que nunca tinha tido uma certeza como aquela.
Uma forma de contar uma história envolta na narrativa de muitas mais. Avanços, recuos, vai-se explicando aqui e ali e desvendando tudo com calma e paciência.