A Devastação do Silêncio
de João Reis; Ilustração: Lord Mantraste
Sobre
o Livro«A noite levava-nos a pensar, a imaginar comida, a nossa casa,
mais comida, terríveis cenas de infância, essa época
abominável, misturavam-se com imagens de comida e
exponenciavam o nosso suplício (…) tornava-se incomodativo
e alguns choravam, para em seguida se rirem. Terminadas as
lamúrias, tudo corria melhor, fazia-se silêncio, podia-se
dormir.»
A Grande Guerra assola a Europa do início do século XX. Um
capitão do Corpo Expedicionário Português encontra-se num
campo de prisioneiros alemão, sem documentos que atestem a
sua patente de oficial, obrigado a partilhar a vida e o destino dos
seus conterrâneos mais pobres. Tem fome, ouve detonações
constantes, observa, sonha, procura um sentido para tudo aquilo
que o rodeia, tenta terminar o relato de uma estranha história
sobre cientistas alemães e gravações de voz, procura
desesperadamente o silêncio e, acima de tudo, a paz das coisas
simples.
Público
«No intrincadíssimo horizonte da atual literatura portuguesa, João Reis oferece uma marca de singularidade muito original.»
Jornal de Letras
Simplesmente brilhante. Talvez o único verdadeiro romance português sobre a guerra mundial (não é um romance histórico delicodoce). O humor sarcástico de João Reis é imbatível e não tem par na literatura portuguesa. Narrativa construída de forma inteligente.
Um prisioneiro de guerra português relata de forma sarcástica e com humor os episódios por que passou enquanto está com um amigo no momento presente num restaurante. Feita de avanços e recuos a narrativa é cheia de peripécias e barulhos. Ao mesmo tempo o protagonista buscava apenas o silêncio no meio da guerra.
João Reis é um dos meus autores favoritos do momento. Um autor com uma escrita muito especial. Muito perspicaz, usa de alguma ironia que, somada à forma como conduz a narrativa, torna única a experiência de leitura dos seus livros.
Um capitão do corpo expedicionário português prisioneiro num campo na Alemanha, tudo por um tempo indeterminado. Uma narrativa essencialmente introspetiva, salpicada por momentos num período posterior com dois amigos à conversa num café. Esta organização da narrativa, e algum humor subtil por vezes negro, é suficiente para tornar leve a introspeção pesada, marcada pela fome e demais condições deploráveis dos prisioneiros de guerra. Um quadro onde o fatal silêncio é afinal a única bênção. O livro é acompanhado por interessantes ilustrações, de traço simples, preto e grosso, recriando quadros ou flaches da narrativa. A edição, capa e papel de luxo, revelam o enorme respeito que a editora teve por este livro.
Terceiro livro,terceira obra prima. É tão curto e sintético quanto isto. Depois da vertigem perturbadora da " noiva do tradutor" e da delicadeza comovente de " a avó e a neve russa", a capacidade de criação de universos distintos é, uma vez mais, sublinhada neste livro. Numa abordagem despojada,mordaz e arrojada do universo absurdo da primeira grande guerra, o autor coloca-nos sob a pele de um militar português, destituído das supostas credenciais,e aprisionado num campo de concentração alemão para militares rasos. Como se o absurdo e a atrocidade fosse hierarquizavel. Como se fizesse sentido graduar o horrível. João Reis é, provavelmente,o mais fulgurante escritor português contemporâneo. Impar capacidade de despir a humanidade de presunções, olha-la com clareza,e, em todas as arestas da sua existência, mostrar a sua sedutora imperfeição. Inteligência absoluta ao serviço de um autor que se revela tao estimável como a sua obra. Perfeito