«Olhe Que Não, Olhe Que Não!»

Os autores, José Maria Brandão de Brito e José Pedro Castanheira, este último com uma vasta obra sobre momentos dramáticos ou decisivos da História recente de Portugal, revisitam com esta obra duas das confrontações mais determinantes do denominado PREC. Estando à vontade para escrever, pois Soares e Cunhal são duas personalidades pelas quais não nutro simpatia política, eram naquele período as figuras mais proeminentes dos sectores políticos. Se não vejamos: as figuras de Direita, ou estavam presas à ordem dos líderes da revolução, ou estavam exiladas, ou tinham passado à clandestinidade; a direita moderada / social-democrata, Sá Carneiro estava retirado para Londres por questões de saúde, e Freitas do Amaral não tinha nem capital político nem a rede de contactos internacionais que lhe permitisse liderar uma frente de oposição à vaga comunista que ameaçava apoderar-se por completo dos destinos do país. Restavam por isso os socialistas, liderados por Soares, que dispunha do apoio interno de históricos oposicionistas ao Estado Novo, que o legitimavam, e uma considerável rede de apoios internacionais. Por seu turno, Cunhal era a figura de proa da esquerda radical, com um longo passado de oposição ao regime, e que vinha como um "anjo vingador" dos sectores mais radicais. O dirimir de argumentos nos debates entre estas duas figuras foi determinante para, perante o grande público, expor aquilo que verdadeiramente os separava, e dos verdadeiros intentos da esquerda radical, uma vez que Cunhal não foi capaz de ser convincente ao rebater as acusações de Soares quanto à intenção de instalar em Portugal um regime de inspiração soviética.