Céline
Escreve o tradutor Aníbal Fernandes na sua introdução ao livro "Três em Pipa": "Voz muito invulgar, a deste autor não muito jovem que vinha inquietar de surpresa as velhas letras da França e afinal era voz de médico, de um tal Dr. Destouches que pedira -- para coisas da literatura - emprestado à sua mãe Céline o nome próprio; ex-segundo-sargento em Rambouillet, medalhado da Grande Guerra com direito à capa de "L'Illustré National", ex-agente da companhia florestal Shanga-Oubangui nos Camarões, ex-médico da Sociedade das Nações e por aqueles dias instalado num consultório barato e quase de subúrbio, a ganhar 'entre calotes e borlas' - como podia - a vida.
O espanto que as fortes personalidades provocam anda sempre de mistura com a surpresa indignada. Houve quem decidisse difícil de engolir tanto talento, ainda por cima chegado por caminho lateral às letras, ainda por cima a passar sobre cadáveres repentinos de escrita encartada, a deixar velha - e velha de vez - a sintaxe de bom-senso da 'boa' literatura francesa. Mas houve logo, também, os 'fanáticos' da Viagem ("Viagem ao Fim do Mundo"). Simone de Beauvoir, por exemplo, confessa que chegou a saber de cor algumas das suas páginas. O universo de Céline invadido por chamas e ruínas - a clamar com todas as fanfarras e por todos os desastres - surgia com uma veemência exclamativa que cortava a respiração ao leitor, deixava-o suspenso ou a saltar de pedra em pedra, sobre uma sinfonia de naufrágio. Céline era uma grande sensação nova literatura". Céline terminará a sua vida exercendo a profissão de médico e não de escritor em Meudon, no ano de 1961, sentindo a Medicina como verdadeira vocação e a escrita como um acidente, uma aldrabice, à qual foi, felizmente, incapaz de renunciar.
O espanto que as fortes personalidades provocam anda sempre de mistura com a surpresa indignada. Houve quem decidisse difícil de engolir tanto talento, ainda por cima chegado por caminho lateral às letras, ainda por cima a passar sobre cadáveres repentinos de escrita encartada, a deixar velha - e velha de vez - a sintaxe de bom-senso da 'boa' literatura francesa. Mas houve logo, também, os 'fanáticos' da Viagem ("Viagem ao Fim do Mundo"). Simone de Beauvoir, por exemplo, confessa que chegou a saber de cor algumas das suas páginas. O universo de Céline invadido por chamas e ruínas - a clamar com todas as fanfarras e por todos os desastres - surgia com uma veemência exclamativa que cortava a respiração ao leitor, deixava-o suspenso ou a saltar de pedra em pedra, sobre uma sinfonia de naufrágio. Céline era uma grande sensação nova literatura". Céline terminará a sua vida exercendo a profissão de médico e não de escritor em Meudon, no ano de 1961, sentindo a Medicina como verdadeira vocação e a escrita como um acidente, uma aldrabice, à qual foi, felizmente, incapaz de renunciar.