Prémio WOOK Novos Autores: celebrar a literatura emergente em língua portuguesa
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26 de novembro de 2024
Além de sermos a maior livraria portuguesa online, gostamos de dar voz e apoiar os escritores que dão vida à nossa língua. Por isso, decidimos criar o Prémio WOOK Novos Autores. Com esta iniciativa, damos um passo crucial na descoberta de talentos literários, destacando escritores que prometem marcar o futuro da literatura de língua portuguesa.
O nosso prémio distingue novos autores que tenham até duas obras de ficção literária editadas em Portugal (1.ª edição), publicadas originalmente em língua portuguesa, até 30 de setembro de 2024. De 80 livros elegíveis, foram selecionadas seis obras finalistas, que primam pela diversidade, criatividade e qualidade da produção literária em língua portuguesa.
O que falta? Para ajudar a apurar o vencedor, convidámos o escritor João Tordo, para presidir ao nosso júri, formado também por dois membros da WOOK. Mas vão ter de esperar um pouco mais para saber quem irá receber o nosso galardão. O vencedor da 1º edição do Prémio WOOK Novos Autores é anunciado na terceira semana de janeiro de 2025. Até lá, tem tempo de conhecer os finalistas e as obras a concurso – vá por nós, vale muito a pena descobrir estas vozes emergentes da literatura em português! Apresentamos agora os finalistas selecionados:
(os finalistas são apresentados por ordem alfabética da primeira letra dos seus sobrenomes)
O nosso prémio distingue novos autores que tenham até duas obras de ficção literária editadas em Portugal (1.ª edição), publicadas originalmente em língua portuguesa, até 30 de setembro de 2024. De 80 livros elegíveis, foram selecionadas seis obras finalistas, que primam pela diversidade, criatividade e qualidade da produção literária em língua portuguesa.
O que falta? Para ajudar a apurar o vencedor, convidámos o escritor João Tordo, para presidir ao nosso júri, formado também por dois membros da WOOK. Mas vão ter de esperar um pouco mais para saber quem irá receber o nosso galardão. O vencedor da 1º edição do Prémio WOOK Novos Autores é anunciado na terceira semana de janeiro de 2025. Até lá, tem tempo de conhecer os finalistas e as obras a concurso – vá por nós, vale muito a pena descobrir estas vozes emergentes da literatura em português! Apresentamos agora os finalistas selecionados:
(os finalistas são apresentados por ordem alfabética da primeira letra dos seus sobrenomes)
Stênio Gardel, A Palavra que Resta
Stênio Gardel é um escritor brasileiro nascido em 1980 no Ceará, onde trabalha no Tribunal Regional Eleitoral e é especialista em Escrita Literária. Enquanto escritor, além de ter em diversas coletâneas de contos, conquistou grande reconhecimento com sua obra de estreia, A Palavra Que Resta (2021). Neste romance, Gardel explora temas como identidade, memória, sexualidade e os desafios enfrentados por um homem analfabeto que relembra uma carta nunca lida, o que marca profundamente a sua vida. Um romance sobre o poder da palavra e da linguagem, sobre repressão, violência e vergonha, mas acima de tudo sobre a coragem de lhes resistir. A narrativa sensível e poética rendeu ao autor as distinções do National Book Award para a melhor obra traduzida, de semifinalista do Prémio Jabuti e finalista do Prémio São Paulo de Literatura.
O livro começa assim:
Raimundo
«Raimundo de Freitas, traço incerto, arredio ao toque do papel. Lápis danado, domado, e ele escrevia o nome completo pela primeira vez. Setenta e um aos e essa invenção, como ele diz, de aprender a ler e escrever depois de velho. Raimundo não foi difícil. Complicado era Gaudêncio, denso de saudade, as cinco vogais e acentuado. Freitas era feito de sangue.
Excerto de A Palavra Que Resta, de Stênio Gardel, p. 13
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Raimundo
«Raimundo de Freitas, traço incerto, arredio ao toque do papel. Lápis danado, domado, e ele escrevia o nome completo pela primeira vez. Setenta e um aos e essa invenção, como ele diz, de aprender a ler e escrever depois de velho. Raimundo não foi difícil. Complicado era Gaudêncio, denso de saudade, as cinco vogais e acentuado. Freitas era feito de sangue.
Excerto de A Palavra Que Resta, de Stênio Gardel, p. 13
Marta Hugon, Souvenir
Marta Hugon (Lisboa, 1971) tem cinco discos em nome próprio e várias colaborações como cantora e compositora. É licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, escreve para publicidade, é professora na Escola de Jazz Luiz Vilas Boas e cocriadora do projeto a três vozes «Elas e o Jazz». Depois de se ter estreado na literatura com a publicação do conto «Conceição» na 10.ª edição da revista Granta em Língua Portuguesa, Hugon lançou, em abril deste ano, Souvernir, o seu primeiro livro. Souvenir é uma coletânea de contos habitados por personagens comuns que giram em torno da memória e da intimidade humana. Cada história é como uma peça de um quebra-cabeça emocional, unida por objetos, lugares e músicas que evocam experiências do passado, explorando temas como trauma, redenção e coragem diante das adversidades. A memória é quase palpável, transportando-nos para as vivências das personagens, numa linguagem de sensibilidade poética na forma como aborda o tempo e a nostalgia.
O livro começa assim:
Conceição
«A casa tinha uma sala grande, plantas trepando suspensas por invisíveis fios de nylon, competindo com as estantes dos livros que, em colorida desarrumação, circunscreviam o espaço. Enquanto limpava o pó, Conceição ia lendo as lombadas, saltando os títulos em francês e em inglês, que não lhe diziam nada. Os quatro anos de escola, muito trabalho no campo e a fome repartida com os oito irmãos estavam agora longe, mas ainda lhe fazia confusão que as meninas não quisessem mais e deixassem restos de comida nos pratos.»
Excerto de Souvenir, de Marta Hugon, p. 13
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Conceição
«A casa tinha uma sala grande, plantas trepando suspensas por invisíveis fios de nylon, competindo com as estantes dos livros que, em colorida desarrumação, circunscreviam o espaço. Enquanto limpava o pó, Conceição ia lendo as lombadas, saltando os títulos em francês e em inglês, que não lhe diziam nada. Os quatro anos de escola, muito trabalho no campo e a fome repartida com os oito irmãos estavam agora longe, mas ainda lhe fazia confusão que as meninas não quisessem mais e deixassem restos de comida nos pratos.»
Excerto de Souvenir, de Marta Hugon, p. 13
Rita Canas Mendes, Teoria das Catástrofes Elementares
Rita Canas Mendes (Lisboa, 1984) é formada em Filosofia e pós-graduada em Edição, tendo trabalhado em diversas editoras. Atualmente, dedica-se à tradução literária e à escrita. Tem várias obras publicadas, do guia prático ao livro infantil, e o seu amor pelos livros está espelhado em O Que Vem a Ser Isto ou Como Publicar o Seu Livro.
Teoria das Catástrofes Elementares, o primeiro romance da autora, decorre entre Lisboa e Cascais nas décadas de 1990 e 2000, e revisita a história recente do país, passando pontualmente pela Guerra Colonial, o norte de Portugal e a Euro Disney. Com humor e ironia, a narrativa percorre episódios que testemunham as vivências das várias gerações de uma família. O seu enredo compõe uma espécie de vitral de memórias, recuperando estilhaços dispersos para construir uma narrativa que liga o passado ao que há de vir.
Teoria das Catástrofes Elementares, o primeiro romance da autora, decorre entre Lisboa e Cascais nas décadas de 1990 e 2000, e revisita a história recente do país, passando pontualmente pela Guerra Colonial, o norte de Portugal e a Euro Disney. Com humor e ironia, a narrativa percorre episódios que testemunham as vivências das várias gerações de uma família. O seu enredo compõe uma espécie de vitral de memórias, recuperando estilhaços dispersos para construir uma narrativa que liga o passado ao que há de vir.
O livro começa assim:
«Durante muitos anos, pensei que «atropelar» quisesse dizer passar por cima, não apenas dar uma pancada, um encontrão. No meu imaginário, um atropelamento significava ser-se passado a ferro por um carro, primeiro as rodas da frente, depois as de trás. Quando a minha mãe foi atropelada, julguei que tivesse ficado esmigalhada por dentro, bolacha de água e sal. Perdeu uns dentes, partiu o nariz, o queixo, um pulso, mas esmigalhada, por sorte, só uma perna, onde ainda mora uma trave metálica que o osso, com o tempo, adotou. Já não a pode tirar, agora. Pirata de ferro, com cicatriz ao longo da canela, apitando para sempre nos aeroportos.»
Excerto de Teoria das Catástrofes Elementares, de Rita Canas Mendes, p. 13
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«Durante muitos anos, pensei que «atropelar» quisesse dizer passar por cima, não apenas dar uma pancada, um encontrão. No meu imaginário, um atropelamento significava ser-se passado a ferro por um carro, primeiro as rodas da frente, depois as de trás. Quando a minha mãe foi atropelada, julguei que tivesse ficado esmigalhada por dentro, bolacha de água e sal. Perdeu uns dentes, partiu o nariz, o queixo, um pulso, mas esmigalhada, por sorte, só uma perna, onde ainda mora uma trave metálica que o osso, com o tempo, adotou. Já não a pode tirar, agora. Pirata de ferro, com cicatriz ao longo da canela, apitando para sempre nos aeroportos.»
Excerto de Teoria das Catástrofes Elementares, de Rita Canas Mendes, p. 13
Henrique Raposo, As Três Mortes de Lucas Andrade
Henrique Raposo (Loures, 1979) é escritor e cronista do Expresso e da Renascença. Licenciado em História e mestre em Ciência Política, fez investigação académica, foi editor da revista Atlântico e colaborou com vários jornais nacionais. As Três Mortes de Lucas Andrade é o seu primeiro romance. Nele, acompanha a saga de um jovem que sofre com os códigos masculinos da pobreza, da rua e da fábrica. A história desenrola-se na segunda metade do século XX e retrata o êxodo rural, os choques entre a cidade e a periferia – e entre as classes –, e o surgimento dos subúrbios dos anos 60 e 80. Um retrato poderoso da pobreza, que nos faz questionar se será possível manter a decência quando o caos e o mal prevalecem.
O livro começa assim:
Abertura
«A meio do caminho, percebi que Lucas Andrade se matou enquanto se tentava salvar; o caminho que o levou ao suicídio é também o caminho que o conduziu à fé. Esta ambiguidade fascina e confunde ao mesmo tempo. Ainda hoje a tragédia de Lucas Andrade desperta debates acalorados entre diversas tribos: a tribo moralista que vê neste homem um símbolo da vilania egoísta e de vários pecados capitais; a tribo literária que vê nele uma metáfora libertadora, o herói merecedor de todas as comendas; a tribo científica que o reduz à condição de doente mental inimputável, o pobre coitado que não pode ser responsabilizado pelos seus próprios atos. Quem tem razão? Não sei.»
Excerto de As Três Mortes de Lucas Andrade , Henrique Raposo, p. 11
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Abertura
«A meio do caminho, percebi que Lucas Andrade se matou enquanto se tentava salvar; o caminho que o levou ao suicídio é também o caminho que o conduziu à fé. Esta ambiguidade fascina e confunde ao mesmo tempo. Ainda hoje a tragédia de Lucas Andrade desperta debates acalorados entre diversas tribos: a tribo moralista que vê neste homem um símbolo da vilania egoísta e de vários pecados capitais; a tribo literária que vê nele uma metáfora libertadora, o herói merecedor de todas as comendas; a tribo científica que o reduz à condição de doente mental inimputável, o pobre coitado que não pode ser responsabilizado pelos seus próprios atos. Quem tem razão? Não sei.»
Excerto de As Três Mortes de Lucas Andrade , Henrique Raposo, p. 11
João Pedro Vala, Campo Pequeno
João Pedro Vala (Lisboa, 1990) é doutorado em Teoria da Literatura e licenciado em Gestão. Trabalha como crítico literário, revisor e tradutor. Em 2022 estreou-se no romance com Grande Turismo, seguido agora por Campo Pequeno. Nesta narrativa, Heitor, Laura, Gabriel e Mafalda, procuram um sentido para as suas vidas, ajudados por um caótico conjunto de personagens que inclui: um bebé prestes a nascer, uma freira semiatropelada, um conquistador mongol, um casal sadomasoquista, uma mãe negligenciada, um ator italiano, um jogador de futebol dos campeonatos distritais, um consultor chato como tudo e um cão. Um universo singular criado por João Pedro Vala, que toma múltiplas formas e se desdobra em situações que surpreendem o leitor.
O livro começa assim:
«Durante uma semana, o Heitor mal conseguiu pregar olho. Normalmente, o ritual repetia-se: acabado o jantar, metia a loiça na máquina e dava um jeito na cozinha. Só depois, por uma mania que nunca hei-de entender, pegava numa peça de fruta e ia comê-la em frente à televisão. Já a Laura, lia a um canto do sofá e, passado um tempo, bem depois de o Heitor se ter levantado para ir deitar no lixo um pauzinho e dois ou três caroços, começava a pintar a um canto da sala, entre Novembro e Fevereiro, ou a tricotar, encostada a ele, nos meses mais quentes.»
Excerto de Campo Pequeno, de João Pedro Vala, p. 9
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«Durante uma semana, o Heitor mal conseguiu pregar olho. Normalmente, o ritual repetia-se: acabado o jantar, metia a loiça na máquina e dava um jeito na cozinha. Só depois, por uma mania que nunca hei-de entender, pegava numa peça de fruta e ia comê-la em frente à televisão. Já a Laura, lia a um canto do sofá e, passado um tempo, bem depois de o Heitor se ter levantado para ir deitar no lixo um pauzinho e dois ou três caroços, começava a pintar a um canto da sala, entre Novembro e Fevereiro, ou a tricotar, encostada a ele, nos meses mais quentes.»
Excerto de Campo Pequeno, de João Pedro Vala, p. 9
Victor Vidal, Não Há Pássaros Aqui
Victor Vidal, nascido no Rio de Janeiro em 1991, é historiador de arte e doutor em Estudos Críticos das Artes. É especializado em arte japonesa, tendo trabalhado no setor educativo de museus e centros culturais. Fez a sua estreia literária com o romance Não Há Pássaros Aqui e venceu, com esta obra, o Prémio Leya 2023.
Neste livro, Vidal debruça-se sobre a relação entre uma mãe e uma filha, explorando como os traumas de infância marcam a vida adulta. Quando a mãe de Ana, a protagonista, desaparece, esta regressa à casa em que passou a sua infância e, aí, vê-se confrontada com as feridas do seu passado, marcado pela violência que a mãe, desequilibrada e alcoólica, lhe infligiu. Perante o insólito da situação, Ana recorre ao seu único amigo de infância, um rapaz frágil que a fazia cúmplice dos seus traumas, e que ela sabe ter desiludido. Cada personagem revela-se na sua complexidade desconcertante, numa reflexão madura. sobre como tendemos a reproduzir os comportamentos que vivemos na infância, por muito que os condenemos.
Neste livro, Vidal debruça-se sobre a relação entre uma mãe e uma filha, explorando como os traumas de infância marcam a vida adulta. Quando a mãe de Ana, a protagonista, desaparece, esta regressa à casa em que passou a sua infância e, aí, vê-se confrontada com as feridas do seu passado, marcado pela violência que a mãe, desequilibrada e alcoólica, lhe infligiu. Perante o insólito da situação, Ana recorre ao seu único amigo de infância, um rapaz frágil que a fazia cúmplice dos seus traumas, e que ela sabe ter desiludido. Cada personagem revela-se na sua complexidade desconcertante, numa reflexão madura. sobre como tendemos a reproduzir os comportamentos que vivemos na infância, por muito que os condenemos.
O livro começa assim:
«O telefone tocou insistentemente até eu me convencer a atendê-lo. Num primeiro momento, não reconheci a voz de Célia do outro lado da linha. Fazia muito tempo desde a última vez que nos tínhamos visto ou falado e por pouco não desliguei o aparelho afirmando nunca ter ouvido aquele nome. «Sou a vizinha de sua mãe», disse a mulher, esganiçada, tentando não parecer magoada. Antes que eu conseguisse assimilar essa informação, ela deu início a um falatório apressado e confuso, atropelando as próprias palavras enquanto tentava explicar o motivo do telefonema. Aparentemente, minha mãe havia desaparecido.»
Excerto de Não Há Passáros Aqui, de Victor Vidal
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«O telefone tocou insistentemente até eu me convencer a atendê-lo. Num primeiro momento, não reconheci a voz de Célia do outro lado da linha. Fazia muito tempo desde a última vez que nos tínhamos visto ou falado e por pouco não desliguei o aparelho afirmando nunca ter ouvido aquele nome. «Sou a vizinha de sua mãe», disse a mulher, esganiçada, tentando não parecer magoada. Antes que eu conseguisse assimilar essa informação, ela deu início a um falatório apressado e confuso, atropelando as próprias palavras enquanto tentava explicar o motivo do telefonema. Aparentemente, minha mãe havia desaparecido.»
Excerto de Não Há Passáros Aqui, de Victor Vidal