Minientrevista a Victor Vidal, finalista do Prémio WOOK Novos Autores

10 de dezembro de 2024
Victor Vidal nasceu no Rio de Janeiro em 1991, formou-se em História da Arte, tendo-se doutorado em Estudos Críticos das Artes. Tem um pendor especial pela arte japonesa, na qual se especializou, e trabalhou no departamento educativo de vários museus e centros culturais. O seu olhar cuidado sempre voou entre as arte e a literatura e a sua obra de estreia literária, o romance Não Há Pássaros Aqui, foi distinguida com o Prémio Leya 2023.
Nesta obra, Victor Vidal parte da relação entre uma filha e uma mãe para explorar como os traumas de infância nos marcam pela vida fora. Tudo começa quando a mãe de Ana desaparece, levando-a a regressar à casa em que passou a sua infância. Aí, vê-se confrontada com as feridas do seu passado, marcado pela violência que a mãe, desequilibrada e alcoólica, lhe infligiu. Cada personagem tem uma complexidade desconcertante, levando o leitor a uma reflexão madura sobre quem somos no âmago, sempre portadores de um passado que nos molda.
Conheça melhor este jovem autor que, em adolescente, se encantou com a escrita de Clarice Lispector e que, agora escritor publicado, se deleita com a possibilidade de «viver centenas de vidas em um único corpo».
Victor Vidal
Victor Vidal
Como surgiu a ideia para este livro?
A ideia do livro surgiu a partir de uma visita ao Anexo Secreto de Anne Frank, em Amesterdão. Fiquei muito impressionado com a sensação de vazio que aqueles cômodos transmitiam. Deixei o lugar refletindo sobre esconderijos, traumas e as imagens de nossa infância que carregamos por toda a vida. Durante o vôo de volta ao Brasil, me vi capturado pela presença de duas crianças escondidas em um sótão empoeirado. Não consegui esquecê-las, queria descobrir quem elas eram, o que faziam naquele sótão, por que necessitavam de um esconderijo. Toda a história se desenvolveu a partir da ideia desses dois personagens procurando uma maneira de dar sentido às suas infâncias.
Tem uma rotina de escrita?
Quando estou trabalhando seriamente em um livro, prefiro escrever pela manhã. Tenho sempre ao meu lado um caderno de anotações com frases que me ocorreram durante o dia, lista de situações que vão acontecer, detalhes sobre os personagens e as relações que estabelecem uns com os outros. Não me imponho uma quantidade exata de palavras para produzir por dia; às vezes, um dia de trabalho produtivo pode significar apenas apagar frases ou mudar parágrafos de lugar.

Como lida com um bloqueio criativo?
Nunca experimentei exatamente um bloqueio criativo. Nos momentos em que a escrita se torna um pouco difícil, procuro realizar longas caminhadas e observar as pessoas nas ruas. Mudar o ambiente em que escrevo quase sempre recarrega as minhas energias. Também encontro resultados positivos ao deixar o computador de lado por um tempo e escrever a mão.
Qual é a pior e a melhor parte de ser escritor?
A melhor parte de ser escritor é a possibilidade de sonhar acordado o dia inteiro e viver centenas de vidas em um único corpo. Sem sombra de dúvidas a pior parte de ser escritor é lidar com toda a ansiedade gerada pelo mercado literário.

Há algum tema sobre o qual não goste de ler ou escrever?
Não há nenhum tema que me desagrade. Como leitor e escritor, me interesso por boas histórias e bons personagens.

Se pudesse partilhar um jantar com qualquer autor (vivo ou morto), quem escolheria?
Adoraria jantar com as irmãs Brontë.

Qual o livro já devia ter lido e ainda não leu?
Apesar de ter gostado muito de outros livros de Dostoiévski, ainda não li Os Irmãos Karamazov.

Qual o livro que mais o marcou até hoje?
A Hora da Estrela, de Clarice Lispector. A solidão e o vazio de Macabéa deixaram uma marca profunda em minha alma quando o li durante a adolescência. Talvez esse seja o livro que mais reli na vida.

Qual foi o último livro que ofereceu?
Ofereci para uma amiga Ciranda de Pedra, romance extraordinário de Lygia Fagundes Telles.

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