Minientrevista a João Pedro Vala, finalista do Prémio WOOK Novos Autores

10 de dezembro de 2024
João Pedro Vala nasceu em Lisboa em 1990. Doutorou-se em em Teoria da Literatura, depois de se ter licenciado em Gestão, e trabalha como crítico literário, revisor e tradutor. Até 2022, ano em que se estreou no romance com Grande Turismo, uma narrativa em que o protagonista, homónimo do escritor, deambula pelo quotidiano com o mal-estar de um permanente turista na sua própria terra e na sua própria pele, num estado tão cómico quanto melancólico.
Dessa história, em que era narrador e personagem principal, o escritor passa a encarnar, em Campo Pequeno, finalista do Prémio WOOK Novos Autores, o papel de demiurgo criador e manipulador de um universo singular. O enredo acompanha Heitor, Laura, Gabriel e Mafalda na procura de um sentido para as suas vidas. A ajudá-los, há um caótico conjunto de personagens, entre as quais um bebé prestes a nascer, uma freira semiatropelada, um conquistador mongol, um casal sadomasoquista, uma mãe negligenciada, um ator italiano, um jogador de futebol dos campeonatos distritais, um consultor chato como tudo e um cão. Todos, parte de um mundo ficcional moldado por múltiplas formas e marcado por uma miríade surpreendente de acontecimentos.
Henrique Raposo
João Pedro Vala
Como surgiu a ideia para este livro?
Mais do que uma ideia, tinha uma imagem que me fascinava sem saber porquê: um casal prestes a ser pai, ele sentado no sofá a ver televisão e ela a tecer um casaco de malha.
Tem uma rotina de escrita?
Por mil e um motivos, as minhas rotinas de escrita têm variado de livro para livro. Agora, escrevo três dias por semana, durante duas horas, ao final da tarde.

Como lida com um bloqueio criativo?
Estarei com certeza errado, mas não acredito que a criatividade e a inspiração desempenhem um papel fundamental na escrita de um livro. Quando me sento para escrever, não me preocupo muito com a qualidade do que sai. Isso é um problema para outra altura. Importa-me apenas acrescentar mais uma pedra ao que já construí. Se não servir, retiro-a mais tarde e substituo-a por outra. Caso me sinta incapaz de escrever, há sempre alguma coisa lá atrás que deixei por polir.

Qual é a pior e a melhor parte de ser escritor?
A melhor parte de ser escritor é, e desculpem-me a obviedade, escrever. O pior talvez seja o mês imediatamente a seguir à publicação, em que já não há nada a fazer a não ser ver o livro em que trabalhei durante tanto tempo seguir o seu caminho para longe de mim.
Há algum tema sobre o qual não goste de ler ou escrever?
À primeira vista, não. Mas teria relativamente pouco a dizer sobre a evolução dos juros da dívida.

Se pudesse partilhar um jantar com qualquer autor (vivo ou morto), quem escolheria?
Com o Simão Lucas Pires ou o Afonso Reis Cabral, mas têm uma agenda bastante ocupada. O Proust seria uma boa alternativa, mas ele comia pouco e eu não conseguiria dizer nada.

Wook tem vergonha de nunca ter lido?
Vergonha é uma palavra que reservo para coisas mais espalhafatosas. Os livros que não li provocam-me sobretudo entusiasmo. Talvez os que mais entusiasmam entre o universo infinito que compõe o que desconheço sejam Os Irmãos Karamazov, do Dostoiévski, o Almas Mortas, do Gogol, e o Paraíso Perdido, do Milton.

Qual o livro que mais o marcou até hoje?
Em Busca do Tempo Perdido.

Qual foi o último livro que ofereceu?
Estrela Solitária, a biografia que o Ruy Castro escreveu do Garrincha. Em boa verdade, ainda não a ofereci, portanto, se puder ser, não digam nada ao meu amigo António. Muito agradecido.

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