Cem Anos de Solidão – o realismo mágico de Márquez no pequeno ecrã

Por Vera Dantas
7 de janeiro de 2025
«Quando as pessoas veem um filme baseado num livro, querem que ele seja uma ilustração fiel do livro. Mas uma adaptação cinematográfica é a transposição que o público se recusa a aceitar».
Esta foi a resposta que o escritor Gabriel García Márquez deu quando o questionaram sobre o facto de vários cineastas não terem conseguido adaptar com sucesso o seu universo literário ao ecrã, segundo a BBC News Mundo (11/12/2024). No caso de Cem Anos de Solidão, o desafio era ainda maior: como adaptar ao formato televisivo uma obra cujas personagens, quase um património de um país, têm os rostos que cada leitor, da Colômbia e de toda a América Latina, lhes atribuiu ao longo de quase 60 anos? A adaptação implica, em si, um novo processo de criação capaz de espelhar essa espécie de inconsciente coletivo, algo de uma grande complexidade.
Márquez preferia que os seus leitores continuassem a imaginar as suas personagens, razão pela qual se negou a ceder os direitos da sua obra-prima. Outras obras do autor foram adaptadas ao cinema durante a sua vida: Ninguém Escreve ao Coronel (1999), Memória das Minhas Putas Tristes (2011), O Amor nos Tempos do Cólera (2007) e os contos Neste Povo Não Há Ladrões e A Viúva de Montiel, entre outras. E, em 1987, Gabo dissera que acreditava ser possível produzir uma série com vários capítulos baseada em Cem Anos de Solidão. Foi assim que, em 2018, dois filhos do escritor venderam os direitos de Cem Anos de Solidão à Netflix, e, passados vários anos de trabalho, a primeira temporada está aí para contar a saga dos Buendía.
É uma adaptação muito cuidada, com produção e atores colombianos e filmada na Colômbia. Um dos grandes desafios foi o facto de no romance haver poucos diálogos, levando a um grande trabalho para ententer como as personagens falavam e comunicavam entre si. O projeto incluiu a construção da aldeia de Macondo de raiz, no sul da Colômbia, além de uma pesquisa detalhada sobre os costumes e tradições da Colômbia entre finais do século XIX e inícios do século 20. Sempre com o objetivo de recriar o mais mais fielmente possível o mundo de Cem Anos de Solidão, a série dá vida, de uma forma subtil, sem recurso a efeitos especiais, às famosas cenas de realismo mágico do livro, como a levitação do padre ou a chuva de flores amarelas quando José Arcadio Buendía morre. Tudo para engrandecer a experiência de ver esta obra-prima nesta versão do ecrã. O diretos de cinema e filho do escritor, que foi produtor executivo da série, garante que, se fosse vivo, «Gabo estaria a assistir à série, sem dúvida».

Data de estreia/ Plataforma: 1ª temporada – 11 de dezembro de 2024/ Netflix.
VEJA AQUI O TRAILER DO FILME

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