Entrevista a Afonso Cruz

Afonso Cruz já deixou a sua marca na ilustração, no cinema e na música, mas foi sobre livros que esteve em conversa com o wookacontece. Descubra tudo o que o autor nos contou.
11 de abril de 2017
Wook está na sua mesa de cabeceira?
Um candeeiro, uma pilha de livros e um par de auscultadores.

Pense numa pessoa. Wook diria essa pessoa sobre o seu último livro?
Se for um familiar ou amigo próximo, é natural que diga que ainda não leu.

Considera que o seu último livro é o melhor que escreveu até hoje?
Tento sempre que seja.

Escolhe os temas dos livros ou os temas escolhem-no a si?
Um tema pode seduzir-me, mas a escolha é sempre minha.

Há algum tema sobre o qual não goste de ler ou escrever?
Não, mas há com certeza temas com os quais me sinto mais confortável, como arte ou filosofia ou religião ou música.
Entrevista a Afonso Cruz
Há um provérbio sueco que diz: “Quando o livro é bom, o melhor está nas entrelinhas”. Concorda?
Depende. Não acredito que a literatura se dê bem com regras. A frase acima pode, por exemplo, ser uma maneira de mascarar a falta de conteúdo: não se vê, mas está lá, deixamos para o fruidor. E também há excelentes livros cujo conteúdo é evidente e sem ambiguidade. Mas de uma maneira geral, sim, acho que os livros podem ganhar espessura e longevidade quando têm entrelinhas, quando são obras abertas, capazes de suscitar interpretações, questões, problemas.

Já alguma vez sentiu que não vai conseguir acabar de escrever um livro?
Não.

Qual é o seu poema favorito?
É impossível nomear um. É como dizer qual a melhor jogada de xadrez: depende do jogo, das circunstâncias, do momento.

Nomeie uma coisa que não gosta que lhe digam.
Os fatalismos: não há mais nada para descobrir, o romance morreu, esta geração não tem valores ou ideais, já não comunicamos uns com os outros, a cerveja acabou.

Qual a pior e a melhor parte de ser escritor?
Talvez o sucesso.

Se o dinheiro não fosse uma condicionante, onde optaria por fazer a pesquisa do seu próximo livro?
Benim.

Se pudesse partilhar um jantar com qualquer autor (vivo ou morto), quem escolheria?
Nicolau de Cusa.

Se tivesse um superpoder, qual seria?
Resolver tudo o que tem a ver com burocracia dentro dos prazos legais.

Wook gostaria de ler sobre si?
Há um conto persa em que um jovem, muito pobre, encontra um génio e este lhe concede um desejo. Somente um. O homem pede então que os aniversários dos seus netos sejam celebrados no seu palácio entre familiares e amigos. Com isto, garantiu longevidade, amigos, riqueza, família e descendência. Não me importava de ler uma noticia assim sobre mim. Apenas dispensava o palácio.

Consegue nomear 3 autores que o inspiram?
Vonnegut, Rumi, Chesterton.

Wook mal pode esperar para ler?
Um livro que o José Manuel Fajardo me aconselhou, do Adolfo García Ortega, e o próximo do Rodrigo Guedes de Carvalho.

Wook tem vergonha de nunca ter lido?
Não tenho, reconheço que não é possível ler tudo e que existirão sempre grandes obras que nos passaram e passarão ao lado.

Projetos para o futuro?
Continuar a escrever e a ilustrar.

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