Como Alcançar a Liberdade Financeira: Os Conselhos Práticos de um Casal que Descomplica o Dinheiro

Vera Dantas
22 de abril de 2025
Que Rico Casal, Foto © ABD/Studio 28
Ao embarcarem na aventura de serem pais, Raffik e Catarina perceberam que almejavam mais do que uma simples poupança para o seu futuro — precisavam de liberdade financeira. E foi assim que nasceu o Que Rico Casal, uma página no Instagram que fez sucesso e se transformou num podcast muito descontraído e acessível. Agora, vertem todo o conhecimento que adquiriram num livro que promete mudar a forma como pensa no seu dinheiro: Rumo à Liberdade Financeira.
Em entrevista ao wookacontece, este simpático casal partilha conselhos práticos, histórias inspiradoras e até momentos emocionantes que o seu percurso lhes proporcionou. Desde os maiores erros que cometemos ao lidar com o nosso bolso, até estratégias simples para começarmos já a poupar, este livro é uma verdadeira bússola para quem quer sair da "zona de conforto financeiro" e dar os primeiros passos rumo à liberdade.
Se já se sentiu perdido no meio de números e contas, pode encontrar neste livro aquele empurrãozinho de que necessita para começar o seu próprio caminho para a liberdade financeira.

Como surgiu a ideia de criar o Que Rico Casal e o podcast Conversas do Casal? Sempre tiveram interesse por liberdade financeira?
Apesar de sermos ambos formados em gestão e de trabalharmos na área financeira, não tínhamos especial atenção às nossas finanças pessoais, nem em investir as nossas poupanças. O interesse por esta área começou quando surgiu o nosso primeiro filho, durante a gravidez. Queríamos preparar-nos da melhor forma possível para o receber e começámos a procura de informação que nos ajudasse. Foi aí que nos deparámos com o conceito de liberdade financeira e definimos o nosso plano para tal. Depois percebemos que seria um caminho longo de 15 anos em que provavelmente haveria muitos momentos em que iríamos querer desistir. Daí surgiu a ideia de criar o Que Rico Casal, que começou por ser uma página de Instagram, em que por estarmos a partilhar esta jornada com mais pessoas iríamos sentir um compromisso maior em manter-nos no caminho. O podcast surgiu cerca de 1 ano depois, com a necessidade que tínhamos de fazer partilhas mais extensas para além de posts e storys no Instagram.

No podcast falam sobre dinheiro de uma forma acessível e descontraída. É difícil conciliar a leveza do conteúdo com a profundidade dos temas financeiros?
Honestamente para nós não é difícil, sempre quisemos que assim fosse, e sempre que nos fazem perguntas sobre finanças tentamos fazer esse exercício de simplificação, portanto já acaba por nos sair muito naturalmente. Partimos sempre do pressuposto de que toda a gente é inteligente e tem capacidade para perceber qualquer tema, portanto se não estão a perceber é porque não lhes foi bem explicado, e isso ajuda-nos a desconstruir informação que por vezes é passada de uma forma muito complexa.
Qual foi o episódio do podcast que mais impactou os vossos ouvintes? Podem contar alguma história especial que o público tenha partilhado convosco? Tivemos vários em que recebemos feedbacks que nos deixaram felizes e até com as lágrimas nos olhos. Mas o feedback que mais nos tocou foi de uma ouvinte que nos contou que o momento em que ouvia os nossos episódios era o único momento de alegria do dia dela, porque a mãe estava em fase terminal de cancro, e ela estava a cuidar dela e usava o nosso podcast para descontrair e se abstrair um pouco de tudo o que estava a acontecer. Lemos essa mensagem num dia em que estávamos particularmente cansados e em que íamos gravar mais um episódio do podcast e aquela partilha ressignificou tudo aquilo que fazíamos, deu-nos muito propósito para continuarmos a fazê-lo.

Muitas pessoas ainda veem a liberdade financeira como algo inalcançável. Como explicam este conceito de forma simples?
O nosso conceito de liberdade financeira é distinto do conceito de FIRE (Independência Financeira e Reforma Antecipada). Para nós, liberdade financeira é poder chegar a um momento da nossa vida em que fazemos aquilo que faríamos mesmo que não recebêssemos dinheiro por isso. Ou seja, não implica necessariamente deixarmos de ter uma atividade e irmos para uma praia paradisíaca o resto da vida, mas a liberdade de escolhermos fazer o que quisermos sem que a remuneração pelo que fazemos seja uma questão, porque já temos o nosso custo de vida assegurado.
Quais os principais erros que as pessoas cometem quando começam a investir ou poupar dinheiro?
O principal erro é começarem a fazer coisas com o seu dinheiro com base em dicas ou dos amigos, ou dos familiares, ou de alguém que veem nas redes sociais, sem perceber exatamente o que está a fazer. O problema é que, por muito válida que seja a dica, quando há alguma alteração na nossa vida ou no enquadramento mundial e ela deixa de ser válida, ficamos dependentes de uma pessoa externa para resolver o problema.
Outro erro é querer receber logo dinheiro das nossas poupanças, ou ficar rico. Esta ansiedade acaba por nos tornar muito mais permeáveis a esquemas de fraude que prometem ganhos fáceis e rápidos no espaço de meses, semanas ou até dias.
Por fim, outro erro, muito associado aos anteriores, é desistirem a meio do caminho, porque numa fase inicial não viram os tais ganhos relevantes, ou porque começaram a investir, mas sem muito conhecimento, e depois de uma queda nos mercados financeiros ficam com medo e vendem tudo com perdas…. O conhecimento e a experiência trazem-nos muita tranquilidade em tudo, e nos investimentos não é exceção.

Como casal, de que forma gerem as finanças de maneira a garantir um equilíbrio saudável entre independência individual e objetivos comuns?
Não deixamos que nenhum de nós se desresponsabilize pela gestão do dinheiro. Mesmo que seja só um a fazer o acompanhamento das despesas e orçamento, ou seja, a investir, ambos têm que estar a par de tudo o que está a acontecer. Para evitar cobranças injustas quando algo não corre bem. Todos os meses existe um reporte, de um dos membros para o outro, de tudo o que está a ser feito, e assim evita que se gerem comentários de «tu é que tinhas esta responsabilidade, portanto a culpa é tua».

Se tivessem de indicar três passos essenciais a alguém para começar o seu caminho rumo à liberdade financeira, quais seriam?
Em primeiro lugar, procurar conhecimento – é ele que nos permite dar os passos certos com confiança e que nos prepara para todas as mudanças que vão acontecendo, tanto na nossa vida como no enquadramento mundial.
Depois, procurar quem já esteja neste caminho. Acreditamos que é muito mais fácil modelar aquilo que já esteja a ser feito por alguém. Para além de reduzir a probabilidade de erro, porque à partida já não vamos cair nos mesmos erros que aquelas pessoas caíram.
Por fim, começar, parece óbvio, mas muitas pessoas ficam presas na fase de arranque por medo, insegurança ou às vezes mesmo por inatividade. Nós gostamos muito de uma frase que é «Liberdade financeira é o único caminho», porque o caminho é mais importante que a meta. Por estarmos no caminho já poupamos mais, fazemos escolhas de consumo mais ponderadas, multiplicámos as nossas poupanças, portanto mesmo que não cheguemos àquela meta, já ganhámos muito em ter tomado esta decisão de começar.

O que torna o vosso livro Rumo à Liberdade Financeira diferente de outros livros sobre finanças pessoais?
O livro beneficia muito de ter duas perspetivas distintas: o Raffik gosta mais de livros técnicos, a Catarina gosta mais de romances, e isso gerou um livro de fácil leitura, que agrega um conjunto de histórias interessantes e que transmitem conhecimentos sobre a área financeira. Não é um livro puramente técnico, massudo de ler, mas também não é um livro apenas de entretenimento sem passagem de conhecimento – é um misto.

O livro traz estratégias práticas para alcançar a liberdade financeira. Podem partilhar um exemplo de uma estratégia simples que qualquer pessoa pode aplicar?
Escrever quanto recebeu no mês passado e dividir pelo número de horas que trabalhou. Esse é o seu valor hora desse mês. Depois, ver quanto se poupou no mês e dividir pelo valor hora, calculado no passo anterior. Esse valor representa o número de horas que trabalhámos para nós. Por fim, preenchemos a seguinte frase: No mês de _______ trabalhei um total de ____ horas. Recebi € por hora. Poupei ____€, portanto no mês de ____ trabalhei ____ horas para mim.
Com este exercício, conseguimos perceber que para comprarmos determinada coisa precisámos de trabalhar determinado número de horas, precisámos de nos privar de fazer outras coisas que podíamos estar a fazer em vez de trabalhar, coisas que eventualmente gostamos mais de fazer. Este exercício dá-nos muita clareza quando estamos a tomar uma decisão de consumo.

Para quem ainda não tem hábitos financeiros sólidos, o livro é acessível? Como recomendaram que o leitor o utilize na prática?
O livro está feito na nossa linguagem, que é simples e descomplicada, precisamente para que todos consigam perceber e aplicar na sua vida. Como acompanha muito a nossa jornada, acaba por ser também um guia de implementação para as pessoas o aplicarem diretamente na sua vida, que está não só testado por nós, mas pelas mais de 1300 famílias que passaram pelo nosso curso e que aplicam este método.

Se pudessem voltar atrás no tempo e dar um conselho financeiro a vós próprios, qual seria?
Sem dúvida começar a olhar com seriedade para nosso dinheiro logo desde o momento em que começámos a trabalhar. Se tivéssemos começado logo a investir as nossas poupanças, por muito pequenas que fossem na altura, provavelmente já tínhamos atingido o objetivo que definimos para 2035.

Para quem quer melhorar a sua relação com o dinheiro, mas se sente perdido, qual é a vossa principal mensagem de motivação?
Recentemente, uma aluna nossa respondeu a um novo aluno nosso, que tinha acabado de chegar e referiu que se sentia perdido, o seguinte: «Não estás perdido, estás connosco». Esta resposta espelha muito a mensagem que queremos passar, felizmente hoje em dia já se conversa mais sobre dinheiro, já se ensina mais sobre como gerir as finanças pessoais, é só uma questão de encontrar as pessoas certas, que ensinem de forma que consigamos perceber, com quem nos identifiquemos.

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