Portugal e o Magrebe (Séculos XVIII/XIX)
Pragmatismo, inovação e conhecimento nas relações diplomáticas
de Eva-Maria Von Kemnitz
Sobre
o LivroA "mediação cultural" e o "diálogo intercultural" são conceitos actuais que se referem ao relacionamento, pautado pelo respeito mútuo e pela aceitação do "Outro" na sua diferença, entre representantes de culturas diversas. Processam-se em função do conhecimento da cultura desse "Outro" e dos seus valores, sendo a aplicação desses princípios preconizada como elemento essencial na estruturação de relações sustentáveis.
A análise da prática diplomática portuguesa em relação aos países do Magrebe, nos séculos XVIII e XIX, traçada neste livro,demonstra claramente que o diálogo e a subjacente mediação cultural já eram, naquela época, afinal, uma prática corrente da diplomacia portuguesa.
O conhecimento da língua árabe e das realidades socioculturais do Magrebe por parte dos vários agentes diplomáticos portugueses, a capacidade de saberem negociar num contexto religioso e cultural específico, a criação de redes de contactos com os notáveis, os capitães de navios e os comerciantes locais, e também com os diplomatas europeus aí residentes, contribuíram para o êxito da aproximação ao Magrebe. Esta experiência histórica merece ser hoje recordada e valorizada, devendo ser encarada como uma mais-valia que Portugal pode oferecer no quadro das actuais políticas euromediterrânicas da União Europeia.
A especificidade do Orientalismo português, situado num contexto não-colonial, suscita naturalmente uma reflexão sobre a pertinência das teses de Edward Said (1978), cuja aplicação, como se verificará, não é, de modo nenhum, universal.