Palavras Pinceladas de Esperança
de Toia Neuparth e Sérgio S.M. Fonseca
Sobre
o Livro«Palavras Pinceladas de Esperança: um néctar de poesia que me foi dado a provar, em deliciosa prova cega, como melhor convém.
Não tenho o prazer de conhecer Sérgio Fonseca, o seu autor, quando o script deste livro de poemas me chega às mãos. Nada sei das suas origens, da sua vida, da sua obra, nem da sua vocação maior.
Se acaso nos cruzássemos, sem combinação prévia, numa rua de uma qualquer cidade, ou mesmo nos caminhos bucólicos da minha aldeia, por certo não nos reconheceríamos.
Ah! Mas logo que os primeiros passos do meu olhar enveredaram na correnteza da sua poesia, por ruas de Nova Lisboa e trilhos e picadas do mítico planalto central, o heroico Huambo, aí, de imediato, reconheci, e certifiquei, o poeta genuíno de sensibilidade imaculada.
E entrei, espontaneamente, na roda do fascinante bailado lírico, de braço dado com as egrégias criaturas que Toia Neuparth, com o seu magistral pincel de condão, arranca do anonimato da savana e da sanzala, para expor o brilho e o encanto das suas almas aos olhares do mundo.
Note-se que cada retrato é um cosmos de formas, cores e intencionalidades que concorrem, invariavelmente, para um ápex de luz centrado nos olhos, melhor dizendo, nos olhares dos retratos Não são, assim, rostos que se expõem. São almas que vivem nas suas expressões, sorrisos, alegrias, tristezas e interrogações. Não são corpos, naturezas mortas, que se retratam! São almas que se dão a conhecer. Tão só!
Palavras Pinceladas de Esperança é, portanto, uma coreografia de palavras e pincel, concertados numa dança de esperança, dançada ao som da surdina da suave música de fundo da saudade telúrica que envolve o poeta e a pintora.
A fazer lembrar o saudosismo de que Teixeira de Pascoais foi mentor maior e que, sobretudo agora que o Império definitivamente se finou, parece querer renascer.
Sim, porque a saudade vai continuar a ser o "traço maior da alma portuguesa". Sim, porque o humanismo, e a taxia fraternal dos portugueses, que enformaram do Quinto Império místico de Vieira, Garrett e Pessoa, não desapareceram com o abandono de Mazagão, em 1769, a queda de Goa, em 1961, e as independências do Brasil, em 1755, e de Moçambique e Angola, mais recentemente. Como por aqui bem se vê, em "Postais de saudade" ou em "Um dia vou voltar a Ítaca".
Lírica lúcida e substantiva, em que o autor raramente se dilui e emaranha no sujeito poético utópico e antes afirma a sua ideia e a sua sensibilidade em cada estrofe, com clareza, de forma emocionada e harmoniosa. Como tão bem ilustrado está em "Terra Minha, Minha Terra Mãe".
Discurso poético coerente e fluido que não se envolve nem desenvolve em desarranjos ortográficos, ou se confina ao eco pretensamente musical de palavras sem nexo, mas antes se impõe através da mensagem directa e límpida, embelezada pela rima rica, embora regularmente dispersa, e enriquecida pela melodia de ideias e sentires, sem que se espartilhe na métrica padronizada. Como melhor se poderá constar nos poemas "Quando voltar" e "Renuncio".
Poesia interventiva, revoltada, de força transformadora, embora sofrida, que se abre à esperança com a pureza da flor germinada do pincel de Toia Neuparth que a pintou "No ventre da esperança".
Cada poema merece, portanto, uma leitura atenta e sentida e cada retrato uma contemplação, demorada e apaixonada.
Palavras Pinceladas de Esperança: um livro de poemas e retratos que merece ser desfrutado com sossego e enlevo de alma.»
in Prefácio